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Advogado nega que Bolsonaro tenha recebido dinheiro de Cid por venda de Rolex

Placeholder - loading - Presidente Jair Bolsonaro no aeroporto de Brasília 29/06/2023 REUTERS/Adriano Machado
Presidente Jair Bolsonaro no aeroporto de Brasília 29/06/2023 REUTERS/Adriano Machado

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Por Lisandra Paraguassu e Maria Carolina Marcello

(Reuters) - O advogado Paulo Bueno, que faz parte da equipe de defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, negou nesta sexta-feira, em entrevista à GloboNews, que o ex-mandatário tenha recebido dinheiro de seu ex-auxiliar tenente-coronel Mauro Cid decorrente da venda de um relógio Rolex, versão diferente da adotada pela defesa do militar.

Mais cedo, também em entrevista à emissora, o advogado de Cid, Cezar Bitencourt, disse que Bolsonaro pediu a seu então ajudante de ordens para 'resolver esse problema do Rolex' e afirmou que seu cliente entregou o dinheiro da venda a Bolsonaro ou à mulher dele, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, em espécie.

'O (ex) presidente Bolsonaro nunca recebeu nenhum valor em espécie do tenente-coronel Mauro Cid referente à venda de nada', disse Bueno à GloboNews.

O advogado de Bolsonaro também reafirmou a posição da defesa de que as joias recebidas pelo ex-mandatário como presentes de Estado tinham caráter privado. Segundo ele, a tese seria amparada pela legislação. Afirmou ainda, em linha com o que tem falado o próprio Bolsonaro, que Cid tinha 'muita autonomia' para agir, mas disse não saber o que foi feito em relação ao relógio.

'Ele podia vender', disse Bueno. 'O bem pode ser vendido, o bem permanece no acervo privado dele até para fins de herança. A lei é clara.'

O advogado de Bolsonaro não deixou claro, quando questionado, se a ordem para a venda partiu do ex-presidente.

RESOLVER PROBLEMA

Já o advogado de Cid afirmou um pouco antes à GloboNews que o ex-presidente pediu a seu então ajudante de ordens para 'resolver esse problema do Rolex', e revelou que seu cliente entregou o dinheiro da venda do relógio em espécie a Bolsonaro ou à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Na véspera, Bitencourt declarou a diversos meios de comunicação que o tenente-coronel Cid iria confessar e responsabilizar Bolsonaro no caso das joias.

Nesta sexta-feira, no entanto, em declarações que podem ser lidas como um recuo da posição de quinta à noite, o advogado mudou o tom e afirmou que tratava apenas do caso relacionado ao relógio da marca Rolex, e não de outras joias presenteadas ao ex-presidente por chefes de Estado estrangeiros.

Aproveitou para dizer que seu cliente não faria uma 'confissão', e sim esclarecimentos, negou que tenha sofrido pressão, mas admitiu que foi procurado pelo advogado de Bolsonaro, Paulo Bueno, pedindo um encontro em Brasília. [L1N39Z1KC]

O advogado de Bolsonaro confirmou ter procurado o escritório de defesa de Cid, por 'cordialidade', para oferecer acesso aos autos. Bueno negou que tenha qualquer 'alinhamento a ser feito' com o advogado de Cid.

Em entrevista à revista Veja, publicada na quinta-feira à noite, Bitencourt afirmou que o tenente-coronel iria admitir a participação na venda nos Estados Unidos de joias oferecidas a Bolsonaro por governos estrangeiros, na transferência dos recursos para o Brasil e a entrega do dinheiro a Bolsonaro em cash, para evitar rastros.

Dizia ainda que o ex-ajudante de ordens iria declarar que cumpria ordens do chefe e nomeá-lo como mandante o ex-presidente Bolsonaro, em esquema que, segundo a PF, foi utilizada a estrutura do Estado brasileiro para enriquecimento ilícito.

Na quinta-feira à noite, procurada pela Reuters, a defesa de Bolsonaro não respondeu de imediato a pedido de comentário.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo em Goiás, onde seria homenageado pela Câmara Municipal de Goiânia nesta sexta, Bolsonaro disse que não recebeu nada de Cid, que o tenente-coronel 'tinha autonomia' e que desejava 'clarear o mais rápido possível' o episódio das joias'.

COMITIVA

O caso das joias veio à tona quando surgiu a informação de que a Receita Federal apreendeu conjuntos de joias não declarados entregues por autoridades estrangeiras a delegações do governo brasileiro, que seriam destinadas ao então presidente e familiares.

Um dos conjuntos de joias sauditas, que teria a então primeira-dama Michelle Bolsonaro como destinatária, foi apreendido pela Receita no aeroporto de Guarulhos com um membro de comitiva do governo Bolsonaro que retornava da Arábia Saudita.

Outros dois pacotes de presentes entraram no país e chegaram a ser entregues a Bolsonaro. Todos os conjuntos foram devolvidos posteriormente pelo ex-presidente após determinação do Tribunal de Contas da União (TCU), depois da revelação feita pelo jornal O Estado de S. Paulo de que Bolsonaro tentou recuperar as joias apreendidas pela Receita de forma irregular antes do fim de seu mandato, no fim do ano passado.

Para concretizar a entrega das joias, houve uma operação de recompra de itens já vendidos no exterior, caso do relógio Rolex citado pelo advogado de Cid.

Braço-direito de Bolsonaro, o ex-ajudante de ordens Mauro Cid está preso desde maio por outra investigação, em relação à suposta inserção fraudulenta de dados de vacinação nos registros do ex-presidente e de pessoas próximas.

(Por Lisandra Paraguassu e Maria Carolina Marcello, em Brasília)

Escrito por Reuters

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