'As pessoas estão praticamente mortas', fala mãe de Gaza sobre horror da guerra
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Por AbdelHadi Ramahi e Alexander Cornwell
AL ARISH, Egito (Reuters) - Quando um ataque aéreo israelense atingiu seu bairro e destruiu sua casa, Faten Abu Khoseh correu para a rua e procurou desesperadamente pela filha mais nova, que estava indo ao mercado.
Abu Khoseh, uma viúva de 37 anos, encontrou sua filha, Qamar Shureihy, de 10 anos, nos braços de homens jovens. Qamar, gravemente ferida, foi retirada debaixo dos escombros de uma mesquita no campo de refugiados de Nuseirat, na região central da Faixa de Gaza.
Qamar foi levada às pressas de carro para um hospital próximo porque não havia ambulâncias. A mãe disse que ela passou por horas de cirurgia, tendo parte da perna esquerda amputada e colocado hastes de metal salientes na perna direita quebrada.
'Tudo o que me disseram foi 'reze por ela, ela está em uma situação difícil'', lembra Abu Khoseh sobre a recomendação da equipe do hospital.
Abu Khoseh, que perdeu o marido em um acidente antes da guerra, disse que a guerra era mais difícil do que qualquer um dos conflitos anteriores pelos quais passou. Ela afirmou que os ataques aéreos israelenses estavam 'atingindo todos os lugares', deixando as pessoas enterradas sob escombros.
'As pessoas estão praticamente mortas, não estão vivas. O que posso dizer, a situação é indescritível', disse ela
Devido à gravidade de seus ferimentos, Qamar, que foi ferida há cerca de um mês, foi autorizada a deixar Gaza para receber cuidados médicos em Al Arish, no Sinai do Norte, no Egito.
Abu Khoseh falou com a Reuters enquanto esperava para voar com Qamar em um avião fretado pelo governo dos Emirados Árabes Unidos para Abu Dhabi, onde os EAU fornecerão tratamento médico.
Abu Khoseh, mãe de quatro filhos, disse que seu casal de gêmeos de 16 anos e a filha de 18 ainda estão em Gaza.
Ela perdeu o contato com os pais depois que um ataque aéreo israelense atingiu a vizinhança deles e disse que teme constantemente que seus três filhos em Gaza sejam mortos.
'Estou exausta. Estou psicologicamente exausta', disse Abu Khoseh. 'Não consigo comer, não me importo com nada. Só me preocupo com as crianças.'
Israel tem bombardeado Gaza por ar e por terra, impôs um cerco e montou uma ofensiva terrestre em retaliação a um ataque do Hamas em 7 de outubro que, segundo Israel, matou 1.200 pessoas e fez 240 reféns.
Autoridades de saúde de Gaza afirmam que mais de 18.000 pessoas foram mortas pelos ataques israelenses e mais de 49.500 ficaram feridas.
Israel afirma que faz o máximo para minimizar as baixas civis, mas que os combatentes do Hamas usam áreas residenciais como cobertura, algo que o grupo militante islâmico nega.
'Só queremos viver como todo mundo, é só o que pedimos', disse Abu Khoseh. 'Não queremos muito, apenas viver uma vida digna sem sangue e sem guerra. Uma vida boa para nós e nossos filhos. Isso é tudo o que queremos.'
Escrito por Reuters
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