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Bolsonaro ataca Bachelet e presidente chileno sai em defesa de antecessora

Placeholder - loading - Bachelet participa de entrevista no México 9/4/2019REUTERS/Carlos Jasso
Bachelet participa de entrevista no México 9/4/2019REUTERS/Carlos Jasso

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(Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira que a chefe de direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Michelle Bachelet, se intromete na soberania e nos assuntos do Brasil, após a ex-presidente do Chile apontar um aumento da violência policial e uma redução do espaço cívico e democrático no país.

Segundo Bolsonaro, Bachelet segue a mesma linha do presidente da França, Emmanuel Macron, com quem o líder brasileiro travou um embate sobre questões ambientais em decorrência de críticas do mandatário francês sobre o aumento do desmatamento e das queimadas na Amazônia.

'Michelle Bachelet, comissária dos Direitos Humanos da ONU, seguindo a linha do Macron em se intrometer nos assuntos internos e na soberania brasileira, investe contra o Brasil na agenda de direitos humanos (de bandidos), atacando nossos valorosos policiais civis e militares', escreveu Bolsonaro em publicação nas redes sociais.

'Diz ainda que o Brasil perde espaço democrático, mas se esquece que seu país só não é uma Cuba graças aos que tiveram a coragem de dar um basta à esquerda em 1973, entre esses comunistas o seu pai, brigadeiro à época', acrescentou Bolsonaro, fazendo referência ao ano de início da ditadura militar chilena que governou o país com mão de ferro até 1990.

As afirmações de Bolsonaro foram uma resposta a declarações dadas mais cedo nesta quarta-feira por Bachelet em entrevista coletiva em Genebra, em que a ex-presidente chilena apontou um aumento expressivo no número de mortes cometidas pela polícia no Rio de Janeiro e em São Paulo, principalmente contra negros e moradores de favelas, além de uma 'diminuição do espaço cívico e democrático' no país.

'Temos visto um aumento marcado na... violência policial em 2019 em meio a um discurso público que legimita execuções sumárias e a uma ausência de responsabilização. Também estamos preocupados com algumas medidas recentes como a desregulamentação das regras de armas de fogo, e propostas de reformas para reforçar o encarceramento e levando à superlotação de prisões, aumentando ainda mais as preocupações de segurança pública', disse.

'Obviamente, também é importante para nós quando ouvimos negações de crimes passados do Estado que se exemplificam com celebrações propostas do golpe militar, combinadas com um processo de transição jurídica que pode resultar em impunidade e reforçar a mensagem de que os agentes do Estado estão acima da lei e estão, na prática, autorizados a matar sem serem responsabilizados.'

Bachelet foi presidente do Chile em duas oportunidades, de 2014 a 2018 e de 2006 a 2010. Ela assumiu o posto de alta comissária da ONU para os Direitos Humanos em setembro do ano passado.

O chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, também rebateu Bachelet nas redes sociais.

'O que está encolhendo é o espaço da esquerda. Talvez seja isso o que no fundo a preocupa. Está encolhendo porque cada vez menos brasileiros acreditam numa ideologia que só nos deu corrupção e pobreza', disse Araújo no Twitter.

O chanceler ressaltou ainda que os policiais e agentes da lei 'são também grandes defensores dos direitos humanos'.

'Arriscam a própria vida para defender a segurança e o direito à vida dos seus concidadãos, o mais fundamental de todos os direitos', acrescentou.

RESPOSTA CHILENA

O presidente chileno, Sebastián Piñera, e seu chanceler --que visita o Brasil nesta quinta-- saíram em defesa da ex-presidente do país.

Piñera chamou uma declaração de imprensa em que afirmou que 'qualquer pessoa tem direito a ter seu próprio julgamento histórico sobre os governos que tivemos no Chile nas décadas de 70 e 80', mas ressaltou 'que estas visões devem ser expressas com respeito às pessoas'.

'Em consequência, não compartilho em absoluto da alusão feita pelo presidente Bolsonaro em respeito a uma ex-presidente do Chile e especialmente em um tema tão doloroso como a morte de seu pai', disse Piñera.

Em um vídeo distribuído pela chancelaria chilena em suas mídias sociais, o chanceler Teodoro Ribera disse que a história de seu país nos últimos 50 anos demonstra a importância de salvaguardar os direitos humanos e o estado de direito e proteger sua institucionalidade, e que isso é defendido hoje pela imensa maioria dos chilenos.

'Na construção do Chile atual, Michelle Bachelet, como os demais ex-presidentes, teve um papel determinante. E a República do Chile reconhece e valoriza sua contribuição ao país', disse Ribera.

Bolsonaro vê o governo de Piñera como um de seus aliados na região, pelo chileno ser de um governo identificado como centro-direita. Até agora, Piñera tem mantido um relacionamento amistoso com o presidente brasileiro, e chegou a servir de porta-voz do Brasil na reunião do G7, na semana passada, em que a questão das queimadas na Amazônia foi discutida.

Nesta quinta, o chanceler chileno visita o Brasil com a intenção de discutir o incremento do comércio entre os dois países. Não há encontro previsto com Bolsonaro.

(Por Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro; Stephanie Nebehay, em Genebra; e Lisandra Paraguassu, em Brasília))

Escrito por Reuters

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