Bolsonaro faz discurso eleitoral em evento de confederação do agro com ares de comício
Publicada em
Atualizada em
Por Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição em outubro, fez um discurso eminentemente eleitoral, inclusive com ofensas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em um evento da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) com ares de comício.
Em uma fala longa, Bolsonaro referiu-se a Lula --líder nas pesquisas sobre a disputa pelo Palácio do Planalto-- como 'bêbado que quer dirigir o Brasil', fez críticas aos governos petistas e repetiu alegações de que o país é ameaçado pelo comunismo e pelo socialismo.
O presidente, também como faz com frequência, exaltou as Forças Armadas, cuja cúpula tem dado suporte às suas alegações infundadas contra o sistema eleitoral, e disse estar disposto a dar a própria vida para impedir o que, na avaliação dele, seria uma piora do país caso não vença as eleições.
'A proposta de regulação do setor agrícola, o cara já retirou do programa de governo dele. Malandro como sempre, sem caráter, um bêbado que quer dirigir o Brasil', disse Bolsonaro em referência a uma proposta inicialmente incluída no programa de governo de Lula sobre regulação da agroindústria.
O coordenador do programa de governo petista, Aloizio Mercadante, disse que a proposta foi incluída por um erro de revisão e já retirada do documento.
Bolsonaro também afirmou que em seu governo as Forças Armadas passaram a ser respeitadas e criticou a criação do Ministério da Defesa no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
'Eles sabem que as Forças Armadas são o último obstáculo para o socialismo, por isso o ataque, por isso a criação (do Ministério) da Defesa em 1999, não por uma necessidade militar, mas por uma imposição política, para tirar os militares da mesa de negociação', disse.
Quando da criação do Ministério da Defesa --que existe também em vários países desenvolvidos, como os Estados Unidos e várias nações europeias, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica perderam status de ministro, passando a se reportar ao titular da Defesa.
A ideia era de enfatizar o comando civil sobre os militares. No entanto, a partir do governo Michel Temer, um general do Exército passou a comandar a pasta, prática mantida por Bolsonaro. Lula já afirmou que voltará a colocar um civil no posto.
Apesar das declarações de Bolsonaro sobre suposto desrespeito de outros governos aos militares, foram nas gestões de Lula e da também petista Dilma Rousseff que vários contratos de compra de equipamentos para reaparelhamento das forças foram assinados, como por exemplo a compra de caças Gripen e o acordo para a produção de submarinos com vistas à fabricação de uma embarcação a propulsão nuclear. Também foi na era petista que os militares brasileiros comandaram a força de paz da Organização das Nações Unidas no Haiti.
'COMPREM ARMAS'
Em seu discurso no evento da CNA, Bolsonaro também disse que fará tudo para evitar o que avalia ser uma possível piora do país.
'Sou chefe da nação e não vou chegar a 2023 ou 2024 e falar: 'o que eu não fiz lá atrás para o Brasil chegar nesta situação?' Que isso custe a minha vida!', disse o presidente, que também incentivou as pessoas a comprarem armas.
'Povo armado jamais será escravizado', disse, repetindo um bordão seu. 'Comprem suas armas! Comprem suas armas!... Nossa liberdade é sagrada e ela não tem limites. Não tem esse papinho de fake news', disparou.
Antes da fala de Bolsonaro, o presidente da CNA --principal entidade de associações de produtores e lideranças agrícolas do Brasil--, João Martins, afirmou não haver espaço para candidatos processados e presos, também em referência a Lula, que foi condenado e preso por corrupção, mas posteriormente teve suas condenações anuladas pelo Supremo Tribunal Federal.
Outras lideranças do agronegócio, como a deputada federal e ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina, candidata a uma vaga no Senado pelo Mato Grosso do Sul na eleição deste ano, o presidente da Frente Parlamentar da Agricultura (FPA), deputado Sérgio Souza (MDB-PR) e o atual ministro da Agricultura, Marcos Montes, também adotaram tom de comício eleitoral em seus discursos, com críticas aos governos petistas e elogios a Bolsonaro.
'LESA-PÁTRIA'
Bolsonaro também aproveitou o evento da entidade do agronegócio para novamente criticar a possibilidade de mudança na tese sobre o marco temporal das terras indígenas, em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF).
Por este entendimento, só é possível reivindicar a demarcação de terras indígenas que eram ocupadas por indígenas à época da Constituição de 1988. Bolsonaro disse que a derrubada dessa tese seria 'um crime de lesa-pátria' e voltou a adotar um tom de ameaça.
'Se isso for aprovado no Supremo --temos trabalhado para que não seja aprovado--, mas se for aprovado, eu vou ter que cumprir? Esta medida, caso seja aprovada, é um crime de lesa-pátria, é ou não é? Fiquem tranquilos, eu sei o que tem que ser feito', afirmou, antes de ser aplaudido pelos presentes.
Escrito por Reuters
SALA DE BATE PAPO