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Bolsonaro precisa se desprender do discurso de campanha e investir na articulação política, diz líder do DEM

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Por Maria Carolina Marcello e Anthony Boadle

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro precisa se descolar da retórica de campanha e investir em sua articulação política, o que envolve definir interlocutores com autonomia, conversar com dirigentes partidários e oferecer prestígio aos parlamentares para aprovar a reforma da Previdência, avaliou o líder do DEM, Elmar Nascimento (BA), nesta quinta-feira.

O líder explica que há uma percepção, entre parlamentares, da necessidade da aprovação da reforma, mas eles também querem ser levados em conta quando os resultados da eventual aprovação da proposta começarem a ser colhidos. Segundo ele, a falta de articulação pode ter impactos não na aprovação da reforma, mas no seu timming de votação.

'O presidente não pode ficar preso à retórica de campanha, não pode cair na armadilha de ficar preso no discurso de campanha”, disse o líder do DEM à Reuters.

“É isso que ele tem que enxergar. Dar um passo para trás para andar para frente”, afirmou, acrescentando que na capoeira, muito presente na cultura baiana, “recuar também é golpe”.

Não se trata, explica Nascimento, de aderir a práticas condenáveis da “velha política”, mas é necessário organizar uma base de apoio para aprovar a reforma da Previdência.

Um dos primeiros passos para articular os aliados seria, na opinião do líder, que as negociações do governo levem em conta as demandas dos parlamentares. Segundo ele, não se trata de fisiologismo, o que em muitos casos chega a ofender parlamentares. Trata-se de gestos de aproximação e de prestígio.

“Não adianta você dar comida a quem quer bebida. Não adianta você dar comida a quem quer carinho”, explicou.

“O problema é atenção. As pessoas querem carinho, principalmente os que o ajudaram (na eleição à Presidência da República).”

Também é preciso, na avaliação do líder do DEM, conversar com lideranças e dirigentes partidários. São os partidos, argumenta, que em última análise detém os mandatos dos parlamentares.

O tema foi tratado em reunião entre Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), no último sábado. Segundo relatos, o presidente teria entendido a importância do gesto, mas isso ainda não foi traduzido em atitudes no decorrer da semana.

“A ideia é trazer a institucionalidade para a relação.”

Paralelamente a isso, Nascimento considera importante que sejam definidos os interlocutores com liberdade de articular e firmar acordos que possam ser cumpridos. Esse seria um dos papéis, por exemplo, do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Mas falta a ele a autonomia e o poder para falar pelo governo nessas conversas.

(Reportagem adicional de Jake Spring e Jamie McGeever)

Escrito por Thomson Reuters

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