Campos Neto diz que juros não estão diretamente ligados a reformas, mas a efeitos sobre inflação
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Por John Revill
ZURIQUE (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira que a trajetória dos juros não está diretamente ligada às reformas, e sim aos efeitos sobre a inflação, ao reforçar a percepção de que a retomada da recuperação econômica será gradual.
'Não queremos dizer que os juros estão diretamente ligados às reformas', disse Campos Neto durante apresentação em evento em Zurique. 'O importante é o que vai para o canal da inflação. Temos uma curva bastante achatada na inflação.'
Depois da apresentação, ao responder a perguntas dos jornalistas, Campos Neto reiterou: 'Não estamos amarrando as reformas à decisão sobre os juros, mas estamos dizendo que há muitas incertezas e muitos fatores de risco. Estamos dizendo que esse fator de risco é o mais importante agora. Por quê? Porque a sensibilidade do mercado está nos dizendo isso.'
Campos Neto destacou que o Comitê de Política Monetária (Copom) avalia que o cenário externo melhorou e que, domesticamente, a ociosidade da economia tem aumentado.
'Há outras incertezas, falamos sobre vários choques que a economia sofreu, estamos monitorando todos eles. Não é necessariamente amarrado a um fator', completou.
Ao manter a Selic em 6,50% em sua última reunião de política monetária, o BC ressalvou que, embora o balanço de riscos para a inflação tenha evoluído de maneira favorável, o risco relacionado à agenda de reformas é preponderante, o que pede manutenção do juro básico no atual patamar.
Para economistas, a sinalização dada é de que cortes de juros só ocorrerão após a aprovação da reforma da Previdência no plenário da Câmara dos Deputados, o que para alguns no mercado pode ocorrer antes do recesso parlamentar, que se inicia em 18 de julho. Ou seja, para essa ala, o BC teria espaço para reduzir a Selic já no encontro do Copom dos dias 30 e 31 de julho.
A última pesquisa Focus, do BC, divulgada na segunda-feira, mostra que o mercado prevê quatro cortes consecutivos de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros em cada uma das reuniões do Copom até o final do ano, o que levaria a Selic a 5,50% ao ano.
Já operadores de mercado tem demonstrado menos convicção em corte da Selic já neste mês, após as comunicações do BC na sequência da decisão de juros de meados de junho. A ferramenta da Reuters indicava nesta terça-feira 48% de probabilidade de corte de 0,25 ponto percentual da Selic no fim deste mês. Antes do comunicado da decisão do Copom, ocorrida em 19 de junho, essa precificação era de quase 80%.
Em sua apresentação no evento em Zurique, divulgada pelo BC, Campos Neto reforçou a percepção de interrupção do processo de recuperação da economia, repetindo que o cenário da autoridade monetária é de retomada adiante de forma gradual.
'Dados recentes sobre a atividade econômica indicam interrupção no processo de recuperação econômica do Brasil nos últimos trimestres, mas nosso cenário básico é de retomada do processo de recuperação econômica à frente, de forma gradual', disse ele na apresentação.
Ainda assim, Campos Neto voltou a destacar os riscos ao cenário-base para a inflação, citando a necessidade de avanço nas reformas estruturais, em particular a da Previdência.
'Uma possível frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar o prêmio de risco e aumentar a inflação no horizonte relevante para a política monetária', disse.
'Embora o balanço de riscos tenha evoluído de forma favorável, o risco (das reformas) prevalece nesse momento', completou.
Ele afirmou ainda que a sustentabilidade fiscal é fundamental para reduzir incertezas, aumentar a confiança e o investimento e, consequentemente, alimentar crescimento econômico de longo prazo.
'O avanço de reformas estruturais, em particular a reforma da Previdência, é necessário', afirmou.
Campos Neto ressalvou que a estimativa é que reformas do setor bancário tenham o maior impacto sobre o crescimento da produtividade e disse que o Brasil pode levantar mais dinheiro do que o esperado com a venda de ativos públicos.
'Precisamos reduzir o tamanho do Estado, vendendo ativos públicos', disse. 'O retorno estimado ao Tesouro é maior do que o esperado... há muitas operações que estão acontecendo.'
Escrito por Reuters
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