Chefe do grupo mercenário Wagner diz que guerra da Rússia na Ucrânia é baseada em mentiras
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Por Andrew Osborn
LONDRES (Reuters) - O chefe russo da companhia militar privada Wagner, Yevgeny Prigozhin, disse nesta sexta-feira que a justificativa do Kremlin para invadir a Ucrânia foi baseada em mentiras inventadas pelo adversário constante do mercenário -- o alto escalão do Exército.
Prigozhin, cujos discursos frequentes nas mídias sociais desmentem seu papel limitado na guerra como chefe do grupo mercenário, há meses acusa abertamente o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, e o principal general da Rússia, Valery Gerasimov, de incompetência.
Nesta sexta-feira, no entanto, ele descartou pela primeira vez, em um videoclipe divulgado no Telegram por seu serviço de imprensa, as principais justificativas da Rússia para invadir a Ucrânia em 24 de fevereiro do ano passado chamando-a de 'operação militar especial'.
'Não houve nada fora do comum acontecendo em 24 de fevereiro... o Ministério da Defesa está tentando enganar a sociedade e o presidente e nos contar uma história sobre como houve uma agressão louca da Ucrânia e que eles estavam planejando nos atacar com o toda a Otan', disse Prigozhin, chamando a versão oficial de 'uma bela história'.
'A guerra era necessária... para que Shoigu pudesse se tornar um marechal... para que ele pudesse conseguir uma segunda medalha de 'Herói' (da Rússia). A guerra não era necessária para desmilitarizar ou desnazificar a Ucrânia', afirmou, sentado em uma cadeira com uma gigantesca bandeira preta do grupo Wagner atrás dele.
Prigozhin disse que a guerra também foi necessária para enriquecer a elite dominante que, segundo ele, não estava satisfeita com o potencial comercial de parte da região ucraniana de Donbass, assumida por procuração por Moscou em 2014 por meio uma força separatista.
'A tarefa era dividir os bens materiais (na Ucrânia)', disse ele. 'Houve um roubo maciço no Donbass, mas eles queriam mais.'
CONTRADIZENDO PUTIN
O Wagner liderou a captura da cidade ucraniana de Bakhmut pela Rússia no mês passado, e Prigozhin usou seu sucesso no campo de batalha -- obtido a um enorme custo humano -- para criticar Moscou publicamente com aparente impunidade.
Ele não criticou, no entanto, o presidente Vladimir Putin, de cujo apoio ele depende.
Sua última afirmação, entretanto, contradiz diretamente a lógica proclamada por Putin, que justificou o envio de seus tanques para a Ucrânia como medida para desmilitarizar e 'desnazificar' um país que representava uma ameaça à Rússia, alegação negada por Kiev.
É uma narrativa que as autoridades russas defendem com multas ou penas de prisão para aqueles que espalham 'falsidades' sobre a guerra.
Não houve resposta imediata do Ministério da Defesa, que ignorou críticas anteriores de Prigozhin, pelo menos em público. Tampouco houve qualquer reação imediata do Kremlin, que também se recusou no passado a comentar as explosões de Prigozhin.
Putin, no entanto, apoiou uma ordem do Ministério da Defesa, à qual Prigozhin se opõe, de que grupos mercenários como o Wagner devem assinar contratos colocando-se sob o controle do ministério até 1º de julho.
Alguns analistas russos especulam que Prigozhin teria ambições políticas e poderia estar tentando substituir Shoigu, uma ideia que ele sempre minimizou.
(Reportagem de Andrew Osborn)
Escrito por Reuters
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