Chuva intensa retorna a Porto Alegre e moradores precisam sair de casa por novos alagamentos
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Por Débora Ely
PORTO ALEGRE, 23 Mai (Reuters) - Três semanas após o início das enchentes devastadoras no Rio Grande do Sul, uma chuva intensa retornou a Porto Alegre nesta quinta-feira, inundando novamente bairros que haviam sido atingidos pelas cheias e alagando também pontos que ainda não tinham sido afetados pelas águas.
Moradores e empresários tiveram de deixar às pressas suas casas e comércios em diversos pontos da cidade desde o fim da manhã, sem terem recebido qualquer alerta prévio da prefeitura. Barcos e caminhões de voluntários e militares precisaram novamente ser usados nos resgates.
Em locais impactados pela segunda vez, como os bairros Cidade Baixa, Menino Deus e Praia de Belas, muitas pessoas haviam recém voltado para limpar suas residências e lojas depois que as águas tinham baixado.
“Foi tudo muito rápido, muito mais rápido do que a outra vez, porque os bueiros estão entupidos”, disse à Reuters a diretora de uma escola infantil do Menino Deus, que preferiu não ser identificada.
Ela entrou em contato com os pais dos cerca de 200 alunos da unidade e pediu que eles buscassem os filhos o quanto antes assim que viu a rua em frente à unidade começar a inundar, no final da manhã. A diretora havia reaberto a escola um dia antes, após uma semana de faxina para recuperar o local, onde a água tinha chegado a 1,5 metro de altura.
Outras escolas vizinhas, além de casas geriátricas e residências, também foram desocupadas. Segundo o relato da diretora, técnicos do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) retiraram idosos de macas de alguns prédios.
Nas ruas e avenidas da capital gaúcha, uma água barrenta verteu dos bueiros e causou correntezas em vias onde normalmente passam veículos. Pontos no interior da zona sul de Porto Alegre, onde somente ruas próximas ao Guaíba tinham sido inundadas anteriormente, foram rapidamente tomadas pelos alagamentos.
No bairro Cavalhada, a moradora Gimena Samuel buscou socorro para resgatar os pais idosos em uma rua que se tornou inacessível para carros.
“Tem muitos idosos, incluindo meus pais, que não conseguem se deslocar. É um absurdo”, afirmou.
“PESADELO” E “CAOS”
Dias antes, a prefeitura de Porto Alegre havia pedido que os moradores de bairros inundados deixassem os entulhos nas calçadas para serem recolhidos pelo Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU). Com a volta do temporal, o lixo se misturou à água e entupiu bueiros, agravando os alagamentos.
“Foi bastante chuva hoje, mas acredito que, aliado a esse problema, tem a sujeira toda dos esgotos, dos bueiros. Nossos políticos têm que fazer alguma coisa, é demais. Está tudo nesse estado aqui, embaixo d’água”, disse Janete Guimarães, que havia ido resgatar o irmão no bairro Cavalhada.
Nas redes sociais e em fóruns de voluntários que atendem às vítimas da enchente em Porto Alegre, os comentários eram de que as pessoas viviam novamente um “pesadelo” e o “caos”.
“Parece que voltamos ao primeiro dia”, escreveu uma delas em um grupo de WhatsApp.
A cidade contabilizou em 12 horas nesta quinta o volume de chuva esperado para todo o mês de maio. As estações do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) nos bairros Belém Novo e Jardim Botânico, por exemplo, registraram, respectivamente, 129,6 e 108,8 milímetros entre a meia-noite e as 15h desta quinta-feira. A média mensal é de cerca de 100 milímetros.
Em coletiva de imprensa, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), disse que a prefeitura não foi surpreendida pelos temporais, embora moradores critiquem a ausência de alertas para saírem de áreas da cidade.
“A prefeitura não foi pega de surpresa, nós sabíamos que ia chover. Agora, a quantidade de chuva foi excessivamente forte”, afirmou Melo.
O prefeito anunciou a suspensão das aulas nas redes pública e privada nesta sexta-feira e pediu que os voluntários não desmobilizem os abrigos em funcionamento desde o início do mês na cidade. Melo também comunicou a “iminência” de fechamento de comportas que haviam sido abertas nos últimos dias para que a água escoasse da cidade para o Guaíba.
Na tarde desta quinta-feira, cinco das 14 comportas que integram o sistema anticheias de Porto Alegre estavam abertas. Além disso, somente dez das 23 casas de bomba do município, que drenam a água na cidade, estão funcionando.
“Temos uma rede extremamente sobrecarregada, seja por água e, agora, com a sua capacidade reduzida, porque há um grande acúmulo de areia e lodo depositado. Então, isso diminui ainda mais a eficiência dessa rede, o que faz com que a água fique mais superficial, visto que tivemos um grande volume de chuva”, afirmou o diretor do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), Maurício Loss.
Com as chuvas desta quinta-feira, também houve registros de alagamentos e estragos em outras cidades já castigadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul, como Canoas e Lajeado. Segundo o mais recente boletim da Defesa Civil, o desastre climático causou 163 mortes e deixou mais de 647 mil desabrigados e desalojados no Estado.
Escrito por Reuters
SALA DE BATE PAPO