Condições para sinalização de que Selic não deve subir seguem de pé, diz BC
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Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central indicou que as condições para sua sinalização de que a taxa Selic não deve subir seguem de pé, segundo ata do Comitê de Política Monetária (Copom) publicada nesta terça-feira, na qual reforçou considerar adequado manter a chamada prescrição futura como instrumento de política monetária adicional.
Apesar da existência de uma assimetria em seu balanço de riscos para a inflação para o lado altista, o BC ressaltou que não pretende reduzir o grau de estímulo monetário a menos que o quadro mude.
'O Copom avaliou que as condições para a manutenção do 'forward guidance' seguem satisfeitas. O comitê considera que as expectativas de inflação, assim como as projeções de inflação de seu cenário básico, encontram-se significativamente abaixo da meta de inflação para o horizonte relevante de política monetária; o regime fiscal não foi alterado; e as expectativas de inflação de longo prazo permanecem ancoradas', apontou a ata.
No documento, o BC também reiterou a mensagem de que por questões prudenciais e de estabilidade financeira, o espaço para cortar ainda mais os juros, se existente, deve ser pequeno.
Na semana passada, o BC manteve a Selic em sua mínima histórica de 2% ao ano após nove cortes consecutivos, conforme esperado pelo mercado, e, num comunicado sem grandes novidades quanto à política monetária, reconheceu que a inflação deve acelerar no curto prazo.
Parte do mercado se ressentiu da falta de mensagens mais atualizadas do BC sobre o lado fiscal, em meio a pressões crescentes para mais despesas em 2021 e dúvidas quanto à manutenção da regra do teto de gastos nesse contexto, e sobre o avanço de preços na economia, na esteira de uma disparada da inflação ao produtor e de alta em alimentos e na construção civil.
Para o diretor do ASA Bank e ex-secretário do Tesouro, Carlos Kawall, a ata essencialmente refletiu o comunicado e apontou que a recuperação desigual da economia coloca uma pressão para baixo nos preços livres no horizonte relevante para a política monetária.
'Por isso a decisão de manter os juros e, na ausência da possibilidade de cortar, a ideia de que ele não subirá (a Selic) tão cedo', afirmou ele, que prevê a manutenção da taxa básica no atual patamar pelo restante do ano.
INFLAÇÃO
Sobre a visão de que a inflação ao consumidor deve se elevar no curto prazo, o BC disse na ata que contribuem para esse movimento a alta temporária nos preços dos alimentos e a normalização parcial do preço de alguns serviços em um contexto de recuperação dos índices de mobilidade e do nível de atividade.
Já sobre os preços administrados, a avaliação é que eles devem apresentar 'variação contida', com destaque para o recuo nas tarifas de plano de saúde em setembro e a queda projetada para o preço da gasolina a partir de outubro.
Em nota, o time do Bradesco avaliou que, mesmo incorporando essa alta da inflação ao consumidor à frente, o BC indicou que as projeções para o IPCA seguem compatíveis com as metas de médio prazo.
'A leitura é a de que o setor de serviços deve continuar com ociosidade elevada, gerando pressões desinflacionárias provenientes da redução da demanda, que podem ter duração maior do que em recessões anteriores', disse a equipe de analistas do banco.
Por isso, a avaliação é que o Copom não fechou as portas para eventualmente cortar a Selic, mas reforçou que isso demandaria maior clareza sobre a atividade e inflação prospectivas, e poderia ocorrer com espaçamento temporal, disse o Bradesco, que também prevê uma taxa básica inalterada para as próximas reuniões do comitê.
Em relação à evolução da atividade, o BC pontuou que a recomposição de renda proporcionada pelo auxílio emergencial e outras ações do governo 'vêm permitindo que a economia brasileira se recupere relativamente mais rápido que a dos demais países emergentes'.
Ao mesmo tempo, frisou que os indicadores recentes sugerem uma recuperação parcial, com padrão similar à que ocorre em outras economias, onde os setores mais diretamente afetados pelo distanciamento social permanecem deprimidos, numa menção indireta ao comportamento dos serviços.
Nesse sentido, o BC voltou a dizer que a incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia permanece acima da usual, principalmente para o período a partir do final deste ano, quando haverá arrefecimento dos efeitos do auxílio emergencial.
CENÁRIO MELHOR PARA EMERGENTES
Quanto ao quadro externo, o BC deu mais pistas sobre sua leitura após já ter assinalado no comunicado da semana passada que ele estava 'relativamente mais favorável' para emergentes.
Para a autoridade monetária, isso decorre da retomada da atividade nas principais economias, ainda que concentrada no mercado de bens, e da moderação na volatilidade dos ativos financeiros.
De qualquer forma, o BC ponderou que há bastante incerteza sobre a evolução desse cenário benigno.
'Uma possível redução abrupta e não organizada dos estímulos governamentais pode atrasar a recuperação da demanda por bens e o processo de recomposição de estoques. Ao mesmo tempo, a própria evolução da pandemia da Covid-19 pode atuar como um limitante para o pleno funcionamento do setor de serviços', disse.
Escrito por Reuters
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