Djokovic fica no limbo enquanto aguarda recurso na Austrália; mãe diz que ele é 'prisioneiro' em hotel
Publicada em
Por Courtney Walsh e John Mair e Zoran Milosavljevic
MELBOURNE (Reuters) - O tenista sérvio Novak Djokovic poderá ficar pelo menos 72 horas dentro de um hotel para detidos pela imigração em Melbourne, após ter sua entrada recusada na Austrália, nesta quinta-feira, em meio a uma tempestade política por conta de sua possível dispensa de cumprir os requerimentos de vacinação contra a Covid-19.
O número um do ranking mundial, que busca o 21º título de Grand Slam da carreira, continuou na Austrália após seus advogados entrarem com um recurso buscando reverter a decisão do governo federal. Um tribunal aceitou não deportá-lo antes de uma audiência completa marcada para segunda-feira.
A saga, que envolve acusações de aproveitamentos políticos sobre a condução do país ante uma alta recorde no número de infecções pela Covid-19, levou a uma disputa internacional, com o presidente da Sérvia afirmando que o mais celebrado atleta de seu país estaria sendo hostilizado.
A família de Djokovic fez um ato em frente ao Parlamento da Sérvia em Belgrado, com cerca de 300 fãs enrolados em bandeiras da Sérvia e entoando palavras em apoio a seu ídolo. O pai do atleta disse ao público que protestos seriam realizados todos os dias até que seu filho fosse libertado.
'Eles o estão mantendo como prisioneiro', afirmou a mãe de Djokovic, Dijana, no restaurante da família em Belgrado. 'Não é justo. Não é humano.'
Ela disse que falou com o jogador na quinta-feira, e ele estava com dificuldade para dormir. 'A acomodação dele [é] terrível. É apenas um pequeno hotel de imigração, se é que é um hotel. Com insetos, está todo sujo. A comida é terrível.'
O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, defendeu a decisão de recusar a entrada de Djokovic em um pronunciamento televisionado.
'Não há casos especiais, regras são regras', disse. 'Nós vamos continuar a fazer as decisões corretas no que diz respeito à segurança das fronteiras australianas por conta dessa pandemia'.
O tenista espanhol Rafael Nadal disse a jornalistas em Melbourne que ele sentia muito por seu rival, 'mas ao mesmo tempo, ele sabia das condições há muitos meses atrás'.
Djokovic, que recusa consistentemente revelar seu status vacinal enquanto critica publicamente a obrigatoriedade das vacinas, iniciou o furor ao dizer no Instagram na terça-feira que recebera uma dispensa médica para competir no Aberto da Austrália a partir do dia 17 de janeiro.
O anúncio provocou um clamor na Austrália, especialmente na cidade do torneio, Melbourne, que passou pelo período mais longo acumulado de lockdown no mundo para combater o coronavírus.
Em audiência no Tribunal Circuital e Familiar Federal da Austrália na noite de quinta-feira, os advogados de Djokovic e o governo concordaram que o jogador poderia permanecer no país até pelo menos segunda-feira.
O destino do sérvio está atrelado a uma disputa política na Austrália, caracterizada por uma troca de acusações entre o governo conservador de Morrison e o governo de esquerda do Estado de Victoria.
Djokovic recebeu sua dispensa do governo de Victoria --por razões que não são conhecidas--, o que sustentava seu visto emitido pelo governo federal do país.
Sob o sistema federal australiano, Estados e territórios podem emitir dispensas de exigências vacinais para adentrarem suas jurisdições. O governo federal controla, no entanto, as fronteiras internacionais, e pode desafiar tais concessões.
'NÃO É JUSTO'
A ação do governo australiano de bloquear a entrada de Djokovic causou conflitos entre Canberra e Belgrado.
O presidente sérvio, Aleksandar Vucic, disse no Twitter que havia falado com Djokovic e acusou o governo australiano de intimidação.
'Esta perseguição é injusta, começando com o primeiro-ministro australiano', disse ele mais tarde à mídia sérvia. 'Eles estão agindo como se o mesmo conjunto de regras se aplicasse a todos, mas permitiram a entrada de outros pelos mesmos motivos que Novak havia aplicado.'
(Reportagem de Courtney Walsh, em Melbourne, e John Mair, em Sydney; reportagem adicional Ivana Sekularac e Zoran Milosavljevic, em Belgrado)
Escrito por Reuters
SALA DE BATE PAPO