Eleitores relatam longas filas para votar; cenário é incerto sobre definição no 1º turno
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Por Lisandra Paraguassu e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - Eleitores enfrentavam longas filas para votar neste domingo em uma eleição realizada sob clima de tranquilidade, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), apesar de uma campanha marcada pela tensão e pela polarização entre o candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas e pode conquistar um inédito terceiro mandato presidencial já no primeiro turno.
Lula e Bolsonaro votaram praticamente ao mesmo tempo pela manhã, após seis pesquisas de intenção de voto divulgadas no sábado mostrarem que o petista tem alguma chance de liquidar a disputa agora.
O Ipec registrou Lula com 51% dos votos válidos --que excluem os brancos e nulos, e também os indecisos da pesquisa-- e o Datafolha colocou o petista com 50%. Para vencer na primeira rodada de votação, um candidato precisa ter mais da metade dos votos válidos. Em ambas as pesquisas a margem de erro é de 2 pontos percentuais. Os dois levantamentos colocam Bolsonaro em segundo lugar, com 37% no Ipec e 36% no Datafolha.
Lula foi o primeiro a votar, em uma escola de São Bernardo do Campo (SP). Acompanhado de sua mulher, Rosângela da Silva, e do candidato a vice, Geraldo Alckmin (PSB), entre outros aliados, o ex-presidente lembrou que foi impedido de votar em 2018 porque estava preso por condenação no âmbito da operação Lava Jato.
'É um dia mais do que importante para mim, não poderia deixar de dizer que quatro anos atrás eu não pude votar porque tinha sido vítima de uma mentira nesse país', disse Lula a jornalistas após registrar seu voto.
O ex-presidente passou 580 dias preso entre abril de 2018 e novembro de 2019, mas agora não deve nada à Justiça, uma vez que suas condenações foram anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Bolsonaro votou logo depois, no Rio de Janeiro, e voltou a ignorar os resultados das pesquisas para dizer que tem chances de vencer no primeiro turno.
O presidente chegou em comboio ao seu local de votação acompanhado de apoiadores, entre eles o deputado federal e candidato ao Senado Daniel Silveira (PTB), que recebeu indulto de Bolsonaro este ano depois de ser condenado à prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por ataques às instituições democráticas.
Em entrevista a jornalistas após votar, Bolsonaro não respondeu diretamente quando perguntado se aceitará o resultado em caso de derrota: 'A gente está tranquilo com (a vitória) em primeiro turno, e eleições limpas têm que ser respeitadas”, afirmou.
Bolsonaro tem questionado durante toda a campanha, sem apresentar provas, a integridade do sistema eleitoral e também colocou em dúvida a isenção de ministros da Justiça Eleitoral e de institutos de pesquisa.
No entanto, em 26 anos de adoção das urnas eletrônicas desde a primeira eleição com o equipamento, em 1996, nunca houve um caso sequer comprovado de fraude no sistema de votação. Tanto o TSE quanto especialistas independentes asseguram a segurança do sistema eleitoral brasileiro.
O presidente do tribunal, Alexandre de Moraes, disse que o processo eleitoral está transcorrendo 'sem qualquer problema' e reiterou a segurança do sistema eleitoral e a confiança da população na Justiça Eleitoral.
'Estamos extremamente satisfeitos com o andamento das eleições de 2022', disse Moraes em entrevista coletiva, acrescentando que foram registrados apenas incidentes isolados e já vistos em outras eleições, como o caso de um eleitor que destruiu uma urna em Goiás.
Sobre incidente em São Paulo em que um homem armado abriu fogo e feriu dois policiais do lado de fora de um local de votação, Moraes afirmou que o caso não teve qualquer relação com disputa eleitoral e foi 'banditismo'.
Sobre as filas maiores do que de costume, Moraes disse que podem ser consequência de um aparente comparecimento maior dos eleitores, mas também uma consequência do uso da biometria nos locais de votação para identificação dos eleitores.
'Em algumas zonas eleitoras já foi verificado um aumento do número de eleitores, ou seja, um menor número de abstenção. Nós só vamos poder realmente saber depois o porquê, se eventualmente houver uma demora, se foi pelo aumento do número de eleitores ou eventualmente pela biometria', disse Moraes.
Apesar das filas, afirmou, a situação não fugiu da normalidade. 'Não há nenhum problema que necessite alguma medida por parte do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)', afirmou.
As urnas foram abertas em todo país às 8h e serão fechadas às 17h, pelo horário de Brasília. Os resultados serão divulgados ainda neste domingo.
1º OU 2º TURNO?
Analistas ouvidos pela Reuters apontaram que a taxa de abstenção dos eleitores mais pobres --inclinados a Lula e que historicamente comparecem em proporção menor às seções eleitorais-- neste domingo deverá ser fator-chave para as chances de Lula liquidar a fatura sem precisar de uma segunda rodada de votação que, se necessária, acontecerá no dia 30 de outubro.
'Aumentou a probabilidade de vitória em primeiro turno, o condicionante, me parece, por isso que ainda estou um pouco conservador, é a taxa de comparecimento eleitoral. Se ela for homogênea em todos os grupos, acho que Lula ganha no primeiro turno', disse o analista político da Tendências Consultoria Rafael Cortez.
'Se ela tiver uma variação, essa variação em tese prejudica o Lula, porque eleitores de renda mais baixa, escolaridade mais baixa, tudo mais constante, vão menos na eleição. Caso se confirme esse padrão histórico, isso pode atrapalhar esse cenário de vitória em primeiro turno.'
Cerca de 156 milhões de eleitores estão aptos a votar neste domingo, quando, pela primeira vez desde a instituição da reeleição, um presidente que tenta o segundo mandato chega ao dia do voto atrás nas pesquisas.
TENSÃO E VIOLÊNCIA
Os meses que antecederam este domingo foram marcados pelas constantes alegações falsas e sem fundamento de Bolsonaro contra o sistema eleitoral, além de uma retórica frequentemente agressiva do presidente, especialmente a dirigida a Lula, a quem chamou de 'ladrão', 'ex-presidiário', 'vagabundo' entre outras ofensas.
Bolsonaro, por sua vez, recebeu de Lula durante a campanha o tratamento de 'genocida', 'desequilibrado mentalmente', 'bobo da corte', entre outros.
Em meio ao clima agressivo, o guarda municipal Marcelo Arruda foi morto a tiros em julho durante sua festa de aniversário --que tinha Lula como tema-- em Foz do Iguaçu pelo policial penal Jorge Guaranho, apoiador de Bolsonaro. Em setembro, na cidade de Confresa, no Mato Grosso, Rafael Silva de Oliveira, simpático a Bolsonaro, matou a facadas Benedito Cardoso dos Santos, defensor de Lula, após uma discussão política enquanto trabalhavam.
Às vésperas do primeiro turno um apoiador de Bolsonaro foi morto a facadas em um bar de Santa Catarina e a polícia apura se a motivação foi política. No Ceará, um homem foi assassinado por outro ao responder que votaria em Lula quando o agressor quis saber se havia algum eleitor do petista no local.
TERCEIRA VIA
O resultado das urnas no domingo também deve revelar um enfraquecimento de Ciro Gomes, candidato ao Planalto pelo PDT, que deve ter desempenho pior do que teve em 2018, quando encerrou em terceiro lugar com 12,47% dos votos válidos.
Agora, o pedetista, que adotou tom agressivo contra Lula na reta final da campanha, a ponto de ser acusado de alinhar-se ao bolsonarismo, aparece entre 4% e 8% dos votos válidos nas pesquisas. Após votar, Ciro indicou que essa foi sua última candidatura presidencial.
A campanha chega também ao dia da votação sacramentando o fracasso da chamada terceira via.
Na pré-campanha nomes como o então governador de São Paulo João Doria (PSDB), o ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro (União Brasil) e até o apresentador Luciano Huck foram aventados como alternativa a Lula e Bolsonaro, mas sequer chegaram a sair candidatos.
A tarefa acabou com Simone Tebet (MDB), que tampouco conseguiu atrair o eleitor e, de acordo com as pesquisas, deve ter entre 3% e 7% dos votos neste domingo.
(Reportagem adicional de Leonardo Benassatto, em São Bernardo do Campo; Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro; e Beatriz Garcia, em São Paulo)
Escrito por Reuters
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