Em exumação de vala comum, filha de vítima da Guerra Civil Espanhola busca uma conclusão
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Por Juan Medina
COLMENAR VIEJO, Espanha (Reuters) - Benita Navacerrada é uma espanhola de 91 anos que deseja saber onde seu pai foi enterrado há mais de 80 anos.
Ela espera que a resposta esteja na exumação perto de Madri dos restos mortais de mais de 100 pessoas que foram executadas pelas forças do falecido ditador Francisco Franco em 1939, após a Guerra Civil Espanhola.
'Quero saber onde ele está porque nunca soube', disse Navacerrada à Reuters esta semana no cemitério de Colmenar Viejo, onde duas valas comuns foram encontradas.
Navacerrada disse que localizar seu pai, que era um líder sindical e morreu quando ela tinha sete anos, traria alegria e encerramento: 'Eu poderia dizer que ele está descansando em paz e não jogado lá fora como porcos'.
Especialistas forenses estavam analisando no fim de semana a segunda vala comum, localizada em uma alameda do cemitério, recolhendo crânios com marcas de balas e ossos para identificá-los geneticamente e depois entregá-los a seus familiares.
Um total de 108 civis, muitos associados a partidos e sindicatos de esquerda, foram executados e enterrados no cemitério de Colmenar Viejo entre abril e dezembro de 1939.
A exumação da primeira vala comum começou no ano passado com o apoio financeiro do governo de esquerda da Espanha e levou à descoberta dos restos mortais de 12 pessoas.
A Espanha fez a transição para a democracia após a morte de Franco em 1975, mas o legado de sua ditadura fascista de quatro décadas ainda divide a sociedade espanhola. A questão das exumações foi um tema quente nas vésperas das eleições nacionais em julho, nas quais os blocos de direita e de esquerda não conseguiram a maioria.
Uma das primeiras políticas implementadas pelo primeiro-ministro socialista Pedro Sánchez quando assumiu o cargo em 2018 foi a aprovação de uma lei que possibilita aos parentes identificar as vítimas enterradas em valas comuns em todo o país.
O rival conservador PP e o Vox, de extrema-direita, se opõem à 'Lei da Memória Democrática', argumentando que ela ameaça reabrir feridas e, durante a campanha eleitoral, prometeram revogá-la.
PP e Vox já se comprometeram a restringir a lei em diversas regiões onde selaram governos de coalizão nas últimas semanas.
(Reportagem de Juan Medina)
Escrito por Reuters
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