EXCLUSIVO-Iraque busca saída rápida das forças dos EUA, mas não há prazo definido, diz premiê
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Por Timour Azhari
BAGDÁ (Reuters) - O Iraque quer uma saída negociada, rápida e ordenada das forças militares lideradas pelos Estados Unidos de seu território, mas não estabeleceu um prazo, disse o primeiro-ministro Mohammed Shia al-Sudani, descrevendo a presença dessas forças como desestabilizadora em meio às repercussões regionais da guerra de Gaza.
Os apelos de longa data das facções muçulmanas xiitas, muitas delas próximas ao Irã, para a saída da coalizão liderada pelos EUA ganharam força após uma série de ataques dos EUA a grupos militantes ligados ao Irã que também fazem parte das forças de segurança formais do Iraque.
Esses ataques, que ocorreram em resposta a dezenas de ataques com drones e mísseis contra as forças dos EUA desde que Israel lançou sua campanha em Gaza, aumentaram os temores de que o Iraque poderia se tornar novamente um palco de conflitos regionais.
'Há uma necessidade de reorganizar esse relacionamento para que ele não seja um alvo ou uma justificativa para qualquer parte, interna ou externa, interferir na estabilidade do Iraque e da região', disse Sudani à Reuters em uma entrevista em Bagdá na terça-feira.
Dando os primeiros detalhes de seu pensamento sobre o futuro da coalizão desde o anúncio, em 5 de janeiro, de que o Iraque iniciaria o processo de encerramento da coalizão, Sudani disse que a saída deveria ser negociada em 'um processo de entendimento e diálogo'.
'Vamos chegar a um acordo sobre um prazo (para a saída da coalizão) que seja, honestamente, rápido, para que eles não permaneçam por muito tempo e os ataques continuem acontecendo', disse ele, observando que somente o fim da guerra de Israel em Gaza poderia impedir o risco de uma escalada regional.
'Essa (fim da guerra em Gaza) é a única solução. Caso contrário, veremos mais expansão da arena de conflito em uma região sensível para o mundo, que detém grande parte de seu suprimento de energia', afirmou Sudani.
Uma retirada dos EUA provavelmente aumentaria a preocupação em Washington sobre a influência do Irã sobre a elite governante do Iraque. Os grupos xiitas apoiados pelo Irã ganharam força no Iraque após a invasão liderada pelos EUA em 2003.
Na segunda-feira, o Pentágono disse que não tinha planos de retirar as tropas norte-americanas, que estão no Iraque a convite do governo.
O Iraque, segundo maior produtor de petróleo da Opep, tem sido um dos críticos mais ferozes da campanha de Israel em Gaza, descrevendo a matança em massa e o deslocamento de civis palestinos como um caso exemplar de genocídio, alegações que Israel nega veementemente.
No entanto, o governo iraquiano também afirmou repetidamente que os ataques de grupos armados contra forças estrangeiras e missões diplomáticas no Iraque eram ilegais e contrários aos interesses do país, e diz que prendeu alguns criminosos e evitou ataques.
Ao mesmo tempo, Bagdá condenou os ataques dos EUA às bases usadas pelos grupos, bem como um ataque recente contra um comandante sênior de milícia no centro de Bagdá, como graves violações da soberania.
As forças lideradas pelos EUA invadiram o Iraque e derrubaram o ex-líder Saddam Hussein em 2003, retirando-se em 2011, mas retornando em 2014 para combater o Estado Islâmico como parte de uma coalizão internacional. Atualmente, os EUA têm cerca de 2.500 soldados no Iraque.
Com o Estado Islâmico derrotado territorialmente em 2017 e em extinção desde então, Sudani disse que a razão de ser da coligação já terminou há muito tempo.
Escrito por Reuters
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