EXCLUSIVO-Na Rússia, candidato antiguerra tenta aproveitar voto de protesto contra Putin
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MOSCOU (Reuters) - Boris Nadezhdin, um ex-parlamentar da oposição de 60 anos, está realizando uma campanha para desafiar Vladimir Putin à Presidência russa e diz que seu apelo para acabar com a guerra da Rússia na Ucrânia tem impulsionado a candidatura.
Nadezhdin, que às vezes aparece na TV estatal, onde critica as autoridades antes de ser rapidamente abafado pelos âncoras de TV, precisa coletar 100.000 assinaturas em toda a Rússia até o final de janeiro para ser registrado como candidato.
Seus apoiadores dizem que ele já ultrapassou a marca de 100.000 assinaturas, obtendo um apoio considerável em Moscou e São Petersburgo, mas ainda precisa de mais assinaturas de outras partes da Rússia, já que as assinaturas precisam ser espalhadas por pelo menos 40 regiões do maior país do mundo.
Nadezhdin disse que estava confiante de que seria registrado e que ficou surpreso com a forma como seu apelo para acabar com a guerra da Rússia na Ucrânia fez com que as pessoas fizessem fila no meio do inverno russo para dar assinatura em apoio.
'Ela (oposição à guerra) é enorme. As pessoas estão cansadas de tudo isso. Elas querem viver uma vida normal em um país normal, não querem o que está acontecendo', afirmou ele à Reuters em uma entrevista.
'As pessoas estão colocando suas assinaturas não porque realmente gostam de mim, mas simplesmente porque é uma chance de fazer algo pela paz, para que toda essa história termine e para que as pessoas parem de morrer', disse Nadezhdin, que parecia notavelmente relaxado para um homem que desafia a máquina política do Kremlin.
Uma pequena amostra de eleitores entrevistados pela Reuters pareceu confirmar que ele estava atraindo um voto genérico contra a guerra.
'Vim aqui para expressar minha posição contra a guerra. Acredito que essa é a única maneira de declarar a posição, ainda não temos outra', disse Sergei Yasinsky, de 42 anos, morador de Moscou.
CONTROLE RÍGIDO
No sistema político rigidamente controlado da Rússia, pessoas concorreram contra Putin no passado e se apresentaram como oponentes genuínos, apenas para revelar, anos depois, que estavam fazendo isso como parte de um acordo com as autoridades para compor os números.
O Kremlin afirma que a eleição de 15 a 17 de março é uma disputa política de boa-fé e que Putin, que tem um índice de aprovação de cerca de 80%, é genuinamente popular.
Putin, que optou por concorrer como independente e não como candidato do partido governista Rússia Unida, já coletou mais de três milhões de assinaturas, mais de 10 vezes as 300.000 de que ele precisa, dizem seus partidários.
O Kremlin também afirma que a maioria dos russos apoia o que chama de 'operação militar especial' de Moscou na Ucrânia.
A TV estatal tem trabalhado sem parar por quase dois anos, dizendo aos eleitores que o conflito é uma luta existencial com o Ocidente por uma nova ordem mundial.
O resultado da eleição não está em dúvida. Putin, no poder como presidente ou primeiro-ministro há mais de duas décadas e no controle de todas as alavancas do Estado, deve ganhar outro mandato de seis anos em uma disputa que os críticos dizem ser uma imitação grosseira de democracia.
Atualmente, há 11 candidatos à Presidência. Os críticos afirmam que o Kremlin precisa de pessoas como Nadezhdin para proporcionar uma aparência de competição, mesmo que o resultado seja uma conclusão óbvia.
Perguntado na quarta-feira se Nadezhdin representava uma ameaça política a Putin, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse: 'De forma alguma, não o vemos como um rival. Qualquer cidadão tem o direito de concorrer à Presidência se atender a uma série de condições'.
(Reportagem da Reuters)
Escrito por Reuters
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