Famílias de Gaza voltam para casa e dizem que nenhum lugar está a salvo das bombas israelenses
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Por Nidal al-Mughrabi
GAZA (Reuters) - A família Abu Marasa está voltando para a Cidade de Gaza, tendo fugido na sexta-feira após Israel ordenar que todos os civis fossem para o sul ou corriam risco de bombardeios, dizendo que eles preferem morrer em casa depois que um ataque aéreo atingiu a casa ao lado de onde estavam abrigados.
Os bombardeios no sul da pequena e populosa Faixa de Gaza mataram dezenas de pessoas durante a noite, segundo as autoridades locais, e a família Abu Marasa é uma das várias com as quais a Reuters conversou que concluíram que poderiam voltar para suas casas no norte.
Mais de uma dezena de membros da família estavam amontoados em um carro na periferia de Khan Younis, a principal cidade do sul de Gaza, com seus pertences amarrados ao teto para a perigosa viagem de volta ao norte, em meio ao bombardeio.
'Por que deveríamos ser mártires em Khan Younis? É melhor morrermos como mártires em nossas casas', disse Saleem Abu Marasa, preparando-se para voltar de carro.
Israel iniciou seu mais intenso bombardeio na Faixa de Gaza, um enclave de 45 km de comprimento onde vivem 2,3 milhões de pessoas, depois que o grupo militante palestino Hamas invadiu cidades israelenses matando 1.300 pessoas em 7 de outubro.
Os militares israelenses disseram na semana passada que todos os civis deveriam deixar a metade norte do enclave, incluindo a Cidade de Gaza, enquanto preparam um ataque terrestre para eliminar o Hamas. Os bombardeios israelenses mataram cerca de 3.000 palestinos em 11 dias.
Mesmo sem bombardeio, um desastre humanitário está ocorrendo no enclave, pois Israel bloqueia toda energia, água, medicamentos, alimentos e combustível.
A ordem de retirada despertou temor em Gaza, onde muitos habitantes são refugiados, de que nunca mais poderão voltar para casa. O escritório de direitos humanos das Nações Unidas alertou nesta terça-feira que a exigência poderia violar a lei internacional.
As Nações Unidas disseram que um pesado bombardeio estava ocorrendo em todo o enclave, com ataques atingindo Khan Younis e outras partes do sul, para onde Israel havia dito às pessoas para irem.
'Aqueles que conseguiram cumprir a ordem de retirada das autoridades israelenses estão agora presos no sul da Faixa de Gaza, com poucos abrigos, suprimentos de alimentos que se esgotam rapidamente, pouco ou nenhum acesso a água potável, saneamento, medicamentos e outras necessidades básicas', disse a porta-voz do escritório de direitos da ONU, Ravina Shamdasani.
Nesta terça-feira, uma multidão estava trabalhando nos escombros de um prédio destruído por um ataque aéreo, procurando sobreviventes e corpos.
As equipes de resgate carregavam um homem ferido, manchado de poeira e sangue, passando por uma cratera de bomba e escombros caídos, antes que um paramédico saísse correndo das ruínas segurando um bebê enrolado em um cobertor, buscando em vão uma pulsação.
'MORTE EM TODA PARTE'
Hattab Wahdan fugiu de Beit Hanoun, no norte de Gaza, e viajou para Khan Younis com sua família. Durante a noite, um ataque aéreo israelense atingiu uma casa próxima àquela onde ele está hospedado, matando várias pessoas que, como ele, fugiram do norte.
'Eles nos disseram que o sul era seguro. Eles nos forçaram, nos desalojaram de nossas casas e viemos para Khan Younis porque temos filhos', disse Wahdan, contando que os ataques israelenses destruíram sua casa durante os conflitos de 2006 e 2014.
'Descobrimos que as coisas são as mesmas. A morte está em toda parte. Portanto, voltar é melhor para nós', afirmou ele, descrevendo a situação em Khan Younis como um 'inferno'.
Ataques israelenses ainda estão ocorrendo no norte de Gaza. Quando o Sol nasceu na terça-feira, explosões atingiram a parte de trás de uma fileira de blocos habitacionais na Cidade de Gaza, lançando bolas de chamas seguidas por enormes pilares de fumaça, conforme mostrou um link de vídeo da Reuters.
Os moradores falaram de uma devastação sem precedentes, com bairros inteiros destruídos. Mas muitos moradores decidiram permanecer no local, alguns deles com medo de serem forçados a ir até o Egito.
'É verdade que não temos eletricidade, água e internet, mas o mais importante é a nossa determinação de resistir até a morte', disse Shadi, pai de seis filhos que trabalha como funcionário público na administração de Gaza, controlada pelo Hamas.
'Não vamos dar a eles o que querem, eles querem outro deslocamento e não conseguirão. Podemos morrer, mas seremos enterrados aqui, não no Sinai', declarou ele à Reuters por telefone do campo de refugiados de Jabalia.
Os repórteres da Reuters na estrada que sai de Khan Younis disseram que viram várias dezenas de veículos lotados de pessoas e pertences indo para o norte.
No carro da família, Raghda Abu Marasa estava sentada no banco de trás, apertada com outros adultos, com duas crianças pequenas no colo.
'Agora estamos voltando para casa, embora nossa vida corra perigo e seja difícil para nós e nossos filhos', disse ela. Mas isso é melhor do que morrer longe de casa, afirmou.
Escrito por Reuters
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