G20 manifesta apoio unânime por solução de 2 Estados para conflito entre israelenses e palestinos
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Por Lisandra Paraguassu e Anthony Boadle
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A primeira reunião do grupo de chanceleres do G20 sob a presidência do Brasil encerrou-se nesta quinta-feira com um apoio unânime dos países membros à solução de dois Estados como forma de resolver o conflito entre israelenses e palestinos, informou o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
'Destacou-se a virtual unanimidade no apoio da solução dos dois Estados, como sendo a única solução possível para o conflito entre Israel e Palestina', disse o chanceler ao fazer um relato final da reunião de dois dias aos jornalistas.
Em meio a diferentes posições sobre a ação de Israel, que invadiu a Faixa de Gaza e deixou milhares de mortos em reação ao ataque do Hamas, em outubro, ao território israelense, os países membros do G20 e os associados presentes no encontro concordaram que a propostas de dois Estados é a única solução possível.
Negociado há pelo menos 20 anos, o desenho de dois Estados efetivos nunca saiu do papel, e diferentes propostas já foram apresentadas. Há cerca de um mês, a União Europeia apresentou um texto, e espera-se que os países árabes coloquem outro nas próximas semanas.
Mais cedo nesta quinta, em entrevista a agências de notícias, o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, havia revelado que este foi um dos poucos pontos em relação ao conflito em que não houve dissidências.
'É um consenso entre todos nós, porque eu não ouvi ninguém dizer nada contra a solução de dois Estados. Então vamos tornar público. Eu pedi ao ministro brasileiro (Mauro Vieira) que em suas conclusões orais leve esse tema e explique que todos no G20 são favoráveis a essa solução', disse o diplomata europeu.
O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, reafirmou também que seu país está trabalhando na construção de um caminho que leve à criação de um Estado palestino.
'Nós todos queremos que esse conflito acabe o mais rápido possível. Mas nós temos que garantir que termine de uma maneira que não deixe espaço para que esse ciclo de violência se repita', afirmou, argumentando que é necessário criar uma estrutura que permita levar à paz duradoura na região.
'Isso significa Israel integrada na região, com relações normais com países-chave, com firmes garantias para sua segurança, juntamente com uma caminho concreto para criação de um Estado palestino', defendeu.
Em seu pronunciamento, Vieira disse que a maioria dos países presentes mostrou extrema preocupação com os ataques de Israel a Rafah, no sul de Gaza, que se iniciaram esta semana. A região foi o refúgio dos palestinos que saíram da cidade de Gaza, no norte, com o início da invasão de Israel, e hoje não tem mais para onde ir.
'Foi conferido especial destaque ao deslocamento forçado de mais de 1 milhão e 100 mil palestinos para o sul da faixa de Gaza. Nesse contexto, houve diversos pedidos em favor da liberação imediata do acesso para a ajuda humanitária na Palestina, bem como apelos pela cessação das hostilidades', disse Vieira.
'Muitos se posicionaram, contrariamente, a anunciada operação de Israel em Rafah, pedindo que o governo do Israel reconsidere e suspenda imediatamente essa decisão', afirmou.
O ministro confirmou, ainda, que a condenação à guerra da Rússia na Ucrânia foi reiterada por diversos países, mas não entrou em detalhes.
Em sua fala, distribuída pelo departamento de Estado, Blinken acusou a Rússia de ser o único dos países à mesa que não colabora para a solução dos conflitos mundiais.
Do desenvolvimento de armamento antissatélite desestabilizador à violação flagrante da integridade territorial do seu vizinho independente, a Ucrânia, e do envio de forças paramilitares em toda a África ao encarceramento e assassinato de dissidentes no país e em todo o mundo, a Rússia tornou-se o principal exportador mundial de instabilidade', disse Blinken. 'Na Ucrânia, a guerra de agressão da Rússia está minando a segurança internacional, matando e ferindo milhares de pessoas e deslocando milhões.'
Como mostrou a Reuters, o primeiro dia de discussões dos chanceleres, na quarta-feira, centrado nos conflitos globais, fez com que o chanceler russo, Sergei Lavrov, fosse o principal alvo de ataques da maior parte dos países. O diplomata, no entanto, não se abalou e acusou as nações ocidentais de terem dois pesos e duas medidas ao tratar das invasões de Gaza por Israel e da Ucrânia pela Rússia de forma diferente. Na sua visão, são duas guerras de defesa.
REFORMAS
As propostas de reforma das instituições de governança global, um dos objetivos da presidência brasileira no G20, foram 'acolhidas por todos', disse Vieira.
Um dos temas centrais da política externa do governo Lula, as mudanças na Organização das Nações Unidas (ONU), no Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) são prioridade para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A avaliação do governo brasileiro é que o momento, apesar de complexo com os diferentes conflitos internacionais, pode também ser uma oportunidade para tirar do papel mudanças das quais se falam há pelo menos 30 anos.
'Todos concordaram quanto ao fato de que as principais instituições multilaterais -- ONU, Organização Mundial do Comércio, Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional, entre outras -- precisam de reforma para se adaptarem aos desafios do mundo atual', disse Vieira, revelando ainda que há um acordo sobre a necessidade da ampliação do Conselho de Segurança da ONU com novos membros permanentes e não permanentes.
'As diferentes propostas existentes nesse sentido precisam ser efetivamente debatidas, e pretendemos impulsionar esse processo', afirmou o ministro brasileiro.
Mais cedo, Borrell também havia defendido as reformas. O diplomata europeu afirmou que a proposta brasileira é boa, mas que existem muitas discussões pela frente.
'Todo mundo concorda que as instituições tem que ser reformadas. Mas uma coisa é fazer o diagnóstico, outra é a terapia', afirmou. 'Não é apenas sobre as instituições, é a mentalidade. É preciso um pensamento multilateral se você quer que o multilateralismo funcione. Nós temos que pegar as instituições que temos e fazê-las trabalhar melhor, não criar novas.'
(Reportagem adicional de Simon Lewis)
Escrito por Reuters
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