IPCA-15 desacelera em março mesmo com alta de ovos e café, mas taxa em 12 meses é a mais alta em 2 anos
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Por Camila Moreira
SÃO PAULO (Reuters) - A alta do IPCA-15 desacelerou mais do que o esperado em março apesar da forte alta dos alimentos, mas ainda assim registrou a taxa em 12 meses mais elevada em dois anos mesmo em meio a um ciclo de alta de juros pelo Banco Central.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) teve alta de 0,64% em março, depois de subir 1,23% em fevereiro, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira.
Nos 12 meses até março, o índice passou a subir 5,26%, de 4,96% no mês anterior, marcando a taxa mais elevada desde os 5,36% registrados em março de 2023. Com isso, vai ainda mais além da meta oficial --3,0%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
Os resultados, no entanto, ficaram abaixo das expectativas em pesquisa da Reuters de alta mensal de 0,70% e de 5,30% em 12 meses.
A inflação no Brasil havia sido pressionada em fevereiro pelo aumento sazonal de educação e pela alta da energia elétrica devido ao fim da incorporação do bônus de Itaipu que havia concedido descontos em faturas no mês de janeiro.
Passados os efeitos desses fatores, a maior pressão no IPCA-15 de março foi exercida pelo grupo Alimentação e bebidas, com alta de 1,09%.
O avanço dos custos de alimentação no domicílio acelerou a 1,25% em março, de 0,63% em fevereiro. Com os preços dos alimentos gerando preocupação para o governo, os consumidores sentiram no bolso principalmente as altas do ovo de galinha (19,44%), do tomate (12,57%), do café moído (8,53%) e das frutas (1,96%).
Recentemente, tanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, quanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva levantaram preocupação com o aumento dos preços do ovo, com a inflação dos alimentos sendo apontada como uma das causas da queda recente de popularidade de Lula.
De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), as exportações brasileiras de ovos, incluindo produtos frescos e processados, aumentaram 57,5% em fevereiro diante da maior demanda dos Estados Unidos.
Também exerceu forte influência no resultado do IPCA-15 de março a alta de 0,92% do grupo Transportes. Juntos, Transportes e Alimentação responderam por cerca de dois terços do resultado geral do índice.
Os combustíveis subiram 1,88% no período, com alta nos preços do óleo diesel (2,77%), do etanol (2,17%), da gasolina (1,83%) e do gás veicular (0,08%).
Já o avanço dos custos de Habitação desacelerou para 0,37% em março, de 4,34% em fevereiro – quando havia sofrido impacto do fim dos descontos nas contas de luz relativos ao bônus de Itaipu. Em março, a energia elétrica residencial subiu 0,43%, depois de disparar 16,33% em fevereiro
De acordo com André Valério, economista sênior do banco Inter, o núcleo da inflação, medida que exclui itens voláteis como alimentos e combustíveis, desacelerou de 0,61% para 0,47%. A inflação de serviços recuou de 0,68% para 0,66%, alcançando o menor valor desde dezembro.
'Por outro lado, nota-se aumento na margem tanto na inflação de serviços subjacentes quanto nos serviços intensivos em trabalho, mas sem sugerir piora significativa', afirmou, acrescentando que o resultado de março ainda sugere cautela com a inflação.
'Apesar da melhora do aspecto qualitativo, essa melhora ainda é marginal, e a persistência da inflação de alimentos em patamar muito elevado por vários meses pode ter repercussões no restante do índice', disse Valério, prevendo que o resultado não altera a condução da política monetária por enquanto.
Na semana passada, o BC decidiu elevar a Selic em 1 ponto percentual, a 14,25% ao ano, na quinta alta consecutiva da taxa básica de juros, e ainda indicou um ajuste de menor magnitude na reunião de maio. Nesta quinta-feira, a autoridade monetária previu em seu Relatório de Política Monetária uma continuidade da inflação acima do teto da meta ao longo deste ano.
As atenções em relação à inflação recaem ainda sobre o mercado de trabalho ainda robusto, dólar fortalecido e as tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
A última pesquisa Focus realizada pelo BC mostra que a expectativa de especialistas é de que a inflação termine este ano a 5,65%, com a Selic a 15,00%.
Escrito por Reuters