Lula recebe líderes da América do Sul para tentar recompor fraturada integração regional
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Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Depois de nove anos sem encontros presenciais, representantes de alto nível de 12 países da América do Sul se encontram nesta terça-feira, em Brasília, em uma tentativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de encontrar um tema comum para retomar uma integração regional fraturada por diferenças ideológicas na última década.
'Vamos ouvir o que cada um dos 12 países quer fazer da integração', disse Lula nesta segunda-feira após reunião com o presidente Nicolás Maduro, da Venezuela. 'Vamos ter de discutir se queremos ser o que somos, ou se formamos um bloco para poder negociar com mais força', seguiu o brasileiro.
Maduro, que aproveitou a cúpula para fazer sua primeira visita oficial Brasil desde 2015, foi o primeiro a chegar para o encontro regional, que contará com 11 dos 12 presidentes convidados e será um teste para as relações regionais -- além de Maduro, Lula deve ter ao menos mais uma reunião bilateral, com Gustavo Petro, da Colômbia.
A única mandatária a não estar presente será a do Peru, Dina Boluarte, que não obteve autorização do Congresso para deixar o país. Ela será representada pelo presidente do Conselho de Ministros, Alberto Otárola.
A retomada do diálogo é uma das metas da política externa de Lula neste terceiro mandato, em uma região em que os países viraram de costas uns para os outros nos últimos anos, mas a própria diplomacia brasileira admite que não é uma tarefa fácil.
'A principal motivação é retomar o diálogo, que ficou muito truncado nos últimos anos. O Brasil quer reativar essa cooperação, mas é necessário primeiro ver o que une esses países', disse a embaixadora Gisela Padovan, secretária de América Latina e Caribe.
Infraestrutura, saúde, energia, meio ambiente são os assuntos que o governo brasileiro vê como essenciais para uma concertação conjunta da região.
Não há, no entanto, um modelo. Em um sinal de que Lula quer ouvir os chefes de Estado falarem francamente, a sessão da tarde do encontro desta terça será mais restrita do que o normal, apenas com os presidentes, os chanceleres e dois assessores presidenciais de cada lado.
'O presidente quer que todos falem francamente', disse Padovan. 'Talvez não seja um caminho (para integração) curto nem fácil, mas é preciso dialogar. Esperamos que saia uma orientação dos presidentes para onde vai caminhar.'
AO SABOR DAS ELEIÇÕES
A cúpula será também um teste para o diálogo amplo da região, inclusive em torno da crise na Venezuela, depois de anos de turbulências e clivagens ideológicas. Em janeiro, assim que assumiu, Lula retomou as relações diplomáticas com o país vizinho, rompidas por Jair Bolsonaro.
Até 2014, a região se unia na União das Nações Sul-americanas, um grupo criado depois de gestões de Lula, o presidente da Argentina, Nestor Kirchner, e Hugo Chávez, da Venezuela. A última reunião, naquele ano, foi em Quito. Em 2016, com o impeachment de Dilma Rousseff, o então secretário-geral da entidade, Ernesto Samper, pediu demissão em protesto, iniciando o racha do bloco e sua consequente paralisia.
Em 2019, um bloco de direita, o ProSul, foi formado por iniciativa dos presidentes do Chile e da Colômbia à época, Sebastián Piñera e Iván Duque, com participação do Brasil de Jair Bolsonaro -- que deixou a Unasul nos primeiros dias de seu governo -- e a participação de Argentina, Equador, Paraguai e Peru, que haviam eleito também presidentes de direita. O bloco, no entanto, também não vingou.
Brasil e Argentina anunciaram este ano a volta a Unasul, mas o grupo original ainda tem apenas sete dos países da região.
'O presidente quer diálogo com os 12 países. Temos consciência de que há diferenças de visão e orientação ideológica entre os vários países', disse a embaixadora Gisela Padovan.
'A idéia é ter os 12 países. Uma Unasul de cinco, de sete países não resolve o problema da região. É preciso voltar a unir os 12 países com um propósito comum. Queremos algo mais permanente, não algo que fique a maré de mudanças de governo, que sempre existem. Estamos falando de Estados, não governos.'
Escrito por Reuters
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