Lula recebe Lira para entrar de vez na articulação com Congresso, mas adia encontro com líderes
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Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu sinais de que vai se empenhar pessoalmente na articulação política no Legislativo a fim de ter uma base estável, afirmou nesta segunda-feira o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), após tomar uma café da manhã com o chefe do Executivo.
Lira admitiu, em entrevista à CNN Brasil após o encontro com Lula, que o 'combustível do prestígio' dele e de líderes partidários com os deputados para aprovar projetos de interesse do governo está acabando, e cobrou um pragmatismo mais lógico do governo no Congresso para não precisar discutir matéria a matéria, e sim buscar uma estabilidade congressual.
'Por parte do Parlamento, (há) toda a boa vontade de contribuir. O Parlamento não vai faltar para os temas que serão importantes para o país', disse Lira.
'Agora, todos os líderes da Casa sabem, o governo sabe, a articulação sabe que o ponto fatal de consumo de combustível próprio do prestígio interno do presidente da Câmara e dos líderes para com os deputados está afundando', reforçou.
O encontro pessoal entre Lira e Lula ocorreu dias após o governo ter tido muita dificuldade para aprovar na Câmara dos Deputados a medida provisória que reestruturou a organização dos ministérios na Esplanada.
Lira afirmou que Lula iria se reunir nesta tarde com líderes da Câmara e do Senado em um gesto para buscar melhorar a articulação política. O encontro chegou a ser confirmado por líderes, mas foi posteriormente cancelado pelo Palácio do Planalto.
'Por motivo de agenda com o senhor Presidente da República, nossa reunião que estava marca para hoje, às 17h, será remarcada para outro dia', informou o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), em mensagens aos líderes vista pela Reuters.
Uma fonte disse que a agenda de Lula encavalou, com ato no Planalto pelo Dia do Meio Ambiente e anúncio da MP para redução do preço dos carros.
O líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu (PR), que também havia confirmado o encontro de Lula com os líderes, disse que Lula queria agradecer o apoio aos líderes que apoiaram o governo na votação da MP dos ministérios, e também falar sobre a tramitação das MPs de recriação dos programas do Minha Casa, Minha Vida e Mais Médicos.
Para o líder petista, a conversa entre Lira e Lula 'ajuda muito' na busca de uma maior estabilidade do governo na Câmara. 'Ouvi que a conversa foi ótima', destacou.
SEM QUEDA DE BRAÇO
Na entrevista à CNN, o presidente da Câmara disse que não há uma 'queda de braço Lula-Lira ou Lira-Lula', mas ressaltou, em tom de alerta, que o governo precisa se mobilizar e ter uma articulação política mais atenta.
Lira afirmou que, no encontro com Lula, ambos não conversaram sobre reforma ministerial, liberação de emendas ou cargos. Segundo ele, foi uma conversa 'institucional', tratando de problemas macros e decisões que precisam ser tomadas.
Ainda assim, o presidente da Câmara reconheceu que a Casa ficou subpreresentada na formação do governo.
'Se foi feito certo ou se foi feito errado, a situação que a gente vive hoje fala por si', afirmou. 'Eu penso que o governo fez pensando de uma maneira em atender principalmente ex-governadores, que têm mandato de senadores, tentando ocupar uma capacidade mais administrativa da experiência de cada um. Mas fato é que a Câmara ficou nessa situação subrrepresentada', destacou.
O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), indicou que, por ora, não estão previstas mudanças nos comandos dos ministérios. 'Só se houver problema de desempenho ou alguma ruptura política', disse ele em entrevista coletiva.
Wagner afirmou que o objetivo das reuniões com líderes da Câmara e do Senado que inicialmente estavam previstas para esta segunda seria fazer um gesto de agradecimento. Ainda não está marcada uma nova data.
'Não acho que vai se tratar de demandas', ressaltou.
(Reportagem adicional de Lisandra Paraguassu)
Escrito por Reuters
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