Médicos relatam horror de explosão em hospital de Gaza
Publicada em
Por Nidal al-Mughrabi
GAZA (Reuters) - O chefe do setor de cirurgia ortopédica do Hospital Al-Ahli al-Arabi em Gaza, Fadel Naim, tinha acabado de concluir um procedimento quando ouviu uma enorme explosão e seu departamento se encheu de pessoas gritando por socorro.
'As pessoas entraram correndo no departamento de cirurgia gritando: 'Ajudem-nos, ajudem-nos, há pessoas mortas e feridas dentro do hospital', disse ele.
'O hospital estava cheio de mortos e feridos, corpos desmembrados', contou. 'Tentamos salvar quem podia ser salvo, mas o número era grande demais para a equipe do hospital.'
A explosão de terça-feira matou centenas de palestinos e descarrilou uma missão diplomática do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que chegou a Israel na quarta-feira para acalmar a região, mas foi desprezado pelos líderes árabes que cancelaram uma cúpula de emergência.
Autoridades palestinas culparam um ataque aéreo israelense pela explosão. Israel disse que a explosão foi causada por um lançamento de foguete fracassado do grupo militante palestino Jihad Islâmica, que negou a culpa.
O médico Ibrahim Al-Naqa tem orgulho do hospital batista de 100 anos. Em uma região de conflito, ele acolhe todas as religiões e oferece aos pacientes uma igreja e uma mesquita.
Na terça-feira, as pessoas que buscavam abrigo dos combates mais ferozes entre os militares israelenses e o grupo militante palestino Hamas em décadas entraram no hospital e morreram.
O sangue manchou as paredes e o chão do que normalmente era um local pacífico que ajudava os pacientes a se recuperarem.
'Este lugar criou um refúgio seguro para mulheres e crianças, aqueles que escaparam dos bombardeios israelenses para este hospital, aqueles que viram este lugar como um refúgio seguro', disse Naqa.
'Sem aviso, este hospital foi alvo de ataques. Não sabemos o nome do projétil, mas vimos os resultados quando ele atingiu crianças e despedaçou seus corpos.'
REGIÃO EM CRISE
O número de mortos na explosão do hospital foi, de longe, o mais alto de todos os incidentes ocorridos em Gaza durante a violência atual e provocou protestos na Cisjordânia ocupada e em toda a região, inclusive na Jordânia e na Turquia.
O médico britânico-palestino Ghassan Abusittah disse que o hospital estava tremendo o dia todo por causa dos bombardeios. Ele afirmou ter ouvido o som de um míssil pouco antes de uma grande explosão e, em seguida, o teto da sala de cirurgia desabou sobre ele e outros médicos. No pátio, ele podia ver corpos e membros por toda parte. Ele tratou de um homem cujas pernas foram arrancadas.
Abusittah disse que o sistema médico de Gaza entrou em colapso, com os médicos lutando até mesmo por recursos básicos. 'Estamos exaustos. O número de pacientes continua aumentando', afirmou ele.
A explosão inflamou uma região em crise depois que o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, realizou um ataque transfronteiriço contra comunidades no sul de Israel em 7 de outubro, no qual pelo menos 1.300 pessoas morreram e reféns foram feitos.
Israel respondeu com os ataques aéreos mais pesados de todos os tempos contra a Faixa de Gaza bloqueada e reuniu tropas e tanques em sua fronteira.
As Forças Armadas de Israel publicaram na quarta-feira o que descreveram como evidência de que um foguete palestino mal disparado causou a explosão no hospital. O Hamas disse que foi um ataque aéreo israelense e um porta-voz da Jihad Islâmica rejeitou as acusações israelenses como 'disfarce para justificar a realização de seus massacres contra civis palestinos'.
As cenas de destruição do hospital foram horríveis até mesmo para os padrões dos últimos 12 dias, que confrontaram o mundo com imagens implacáveis, primeiro de israelenses mortos em suas casas e depois de famílias palestinas enterradas sob os escombros dos ataques de retaliação de Israel.
O porta-voz do Ministério da Saúde de Gaza, Ashraf Al-Qidra, disse que 471 palestinos foram mortos e mais de 314 ficaram feridos no hospital.
'O massacre realizado pela ocupação israelense no Hospital Batista é o massacre do século 21 e é uma continuação de seus crimes desde a Nakba de nosso povo em 1948', disse Salama Marouf, chefe do escritório de mídia do governo do Hamas.
'Nakba', ou 'catástrofe', refere-se ao momento em que muitos palestinos fugiram ou foram forçados a deixar suas casas durante a guerra de 1948 que acompanhou a criação de Israel.
(Reportagem adicional de Abir Al Ahmar)
Escrito por Reuters
SALA DE BATE PAPO