Mike Lynch, pioneiro britânico da tecnologia que morreu no mar após absolvição nos EUA
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Por Paul Sandle
LONDRES (Reuters) - Mike Lynch, o magnata da tecnologia que morreu quando seu iate de luxo afundou na Sicília, passou mais de uma década construindo a maior empresa de software do Reino Unido e quase o mesmo tempo lutando contra acusações de que inflou o valor da companhia para obter uma venda no valor de bilhões de libras.
O corpo de Lynch foi retirado nesta quinta-feira do barco em que ocorreu o acidente na segunda-feira, afirmou uma autoridade italiana.
Lynch fundou a Autonomy em 1996 a partir de suas pesquisas na Universidade de Cambridge. Ele foi elogiado por acionistas, líderes empresariais e políticos quando vendeu a empresa para a Hewlett-Packard, 15 anos depois, por 11 bilhões de dólares.
Mas no fim de 2012, a HP surpreendeu Wall Street e a City de Londres ao alegar que descobriu um grande escândalo de contabilidade. Lynch negou as acusações.
A HP registrou uma baixa contábil de 8,8 bilhões de dólares e desencadeou 12 anos de batalhas judiciais de Londres a São Francisco.
Lynch era conhecido por sua inteligência formidável, que tornou sua inovadora pesquisa acadêmica em um negócio bilionário, passando a ser conhecido como o Bill Gates britânico.
Ele não fugiu do conflito com os críticos de sua empresa, incluindo uma vez em que confrontou Larry Ellison, da Oracle. Lynch foi central em toda a sua defesa.
O empresário contratou os maiores nomes da advocacia e da comunicação no Reino Unido e convidou jornalistas para visitarem uma sala cheia de documentos cuidadosamente empilhados para que pudessem pesquisar sobre sua contabilidade.
A HP foi atraída pela habilidade da Autonomy de buscar e organizar informações desencontradas de clientes, uma solução fundamental em um mundo de dados ilimitados antes do surgimento da inteligência artificial.
Lynch recebeu cerca de 800 milhões de dólares por sua fatia da Autonomy.
O software da Autonomy usava algoritmos patenteados que utilizavam uma fórmula matemática do século 18, criada pelo reverendo Thomas Bayes. Em homenagem à fórmula, o empresário batizou o iate que afundou nas águas italianas de Bayesian.
A HP abriu um processo cível contra Lynch na Suprema Corte de Londres, no valor de 5 bilhões de dólares. O magnata passou 22 dias sendo interrogado.
A empresa norte-americana venceu a maior parte de suas reivindicações em 2022, depois de um juiz ter decidido que Lynch e um colega ocultaram de maneira fraudulenta uma “venda de liquidação” de hardwares e se envolvido em esquemas de revenda, com o objetivo de mascarar uma queda na procura pelo software da Autonomy. As indenizações ainda precisam ser decididas.
Lynch enfrentou então uma extradição para os EUA, com acusações criminais que envolviam fraude eletrônica e conspiração. Esse processo poderia levá-lo à prisão por décadas. Ele foi a São Francisco testemunhar em sua própria defesa: “A Autonomy é uma empresa extremamente bem-sucedida”.
Lynch foi absolvido em junho, após um ano em prisão domiciliar. Ele afirmou estar “eufórico” e ansioso para reencontrar sua família em Suffolk, na Inglaterra. Como parte da comemoração, convidou quem o apoiou para se juntar a sua família em férias a bordo do iate de 56 metros. Entre os convidados estavam seu advogado e um executivo do Morgan Stanley que foi testemunha da defesa.
Ancorado e com as velas abaixadas, o barco foi atingido por uma tempestade antes do amanhecer de segunda-feira e afundou rapidamente.
Sua mulher sobreviveu, mas sua filha mais nova permanece desaparecida.
Escrito por Reuters
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