MPF vai investigar denúncia de venda de vacinas por ouro em garimpos em reserva indígena
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Por Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O Ministério Público Federal em Roraima vai investigar as denúncias de que estaria havendo troca de ouro por vacinas na reserva indígena ianomâmi, de acordo com denúncia feita por lideranças da região, informou o órgão nesta quarta-feira à Reuters.
A investigação será incluída, de acordo com o MPF, em outra investigação sobre o desvio de doses de vacinas destinadas a indígenas no Estado que já está em curso.
A denúncia foi feita ao Ministério Público e ao Ministério da Saúde pela Associação Hutukara, que representa os ianomâmi, com apoio da ONG Instituto Socioambiental. Em ofício enviado aos dois órgãos, Dário Kopenawa Ianomâmi, vice-presidente da associação, aponta casos de desvios de vacinas e materiais em dois dos distritos sanitários indígenas ianomâmi, em troca de vacinas --em um deles, aponta o nome da funcionária responsável.
Um dos casos estaria acontecendo, segundo a associação, no distrito de Homoxi. Uma funcionária teria desviado materiais como gasolina e um gerador, vendendo aos garimpeiros que atuam ilegalmente na reserva em troca de ouro. Essa mesma funcionária estaria aplicando vacinas clandestinamente nos garimpeiros, também em troca de ouro.
Uma outra denúncia foi feita diretamente ao secretário especial de Saúde Indígena do ministério, Robson dos Santos Silva, em outro distrito das terras ianomâmi, Uxiu. Segundo o relato feito em uma reunião em Boa Vista, uma funcionária do distrito estaria desviando medicamentos para garimpeiros e os atenderia à noite em acampamentos, também em troca de ouro.
'É comum a queixa por parte dos ianomâmi de que os materiais e medicamentos destinados à saúde indígena estão sendo desviados para atendimento aos garimpeiros', diz Dário, da Hutukara, no ofício.
Em resposta à Reuters, o Ministério da Saúde informou que recebeu a denúncia da troca de vacinas por ouro em uma reunião ocorrida em Boa Vista no dia 5 deste mês e abriu uma investigação.
'Em caso de confirmação da suspeita, o Distrito Sanitário Especial Indígena Ianomâmi tomará medidas administrativas, como desligamento dos funcionários, e apresentará uma denúncia formal ao Ministério Público Federal para ação penal cabível. O Ministério da Saúde rechaça a comercialização de insumos de saúde em troca de qualquer benefício', informou a pasta em nota enviada à Reuters.
A associação e o Instituto Socioambiental alertam, ainda, sobre a lentidão na vacinação dos indígenas e a pressão que está sendo feita para que vacinas destinadas às aldeias sejam revertidas para a população em geral.
Até agora, de acordo com dados do Distrito de Saúde Indígena, dos 12.253 indígenas aptos a serem vacinados, 8.721 receberam a primeira dose e 5.415 a segunda, sendo que várias vacinações estariam em atraso, apesar de haver, de acordo com a Secretaria de Saúde, um estoque de 26.182 doses de vacinas ainda para serem aplicados aos indígenas, que foram colocados como grupos prioritários para vacinação.
Em um ofício, a Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa pede que essas vacinas sejam aplicadas na população em geral, já que os distritos não tem estrutura para armazená-las e a vacinação estaria atrasada. A comissão alega que as doses poderiam ser repostas depois, com novas distribuições pelo ministério.
As lideranças ianomâmi alegam que há uma campanha de notícias falsas, divulgadas pelos garimpeiros, entre as aldeias, e que há casos de indígenas que se recusam a receber a vacina porque têm medo. Ainda assim Dário afirma que há atraso na vacinação por falta de estrutura dos distritos, que perderam profissionais e equipamentos.
Escrito por Reuters
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