NTS estuda transporte de biometano, avança com projetos de suprimento de gás
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Por Letícia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) - A Nova Transportadora do Sudeste (NTS) está avaliando a possibilidade de atuar no transporte de biometano, combustível renovável equivalente ao gás natural, ao mesmo tempo em que avança com seus projetos voltados à segurança energética que deverão demandar investimentos da ordem de 12 bilhões de reais, disse à Reuters o CEO da companhia.
A transportadora de gás controlada pela Brookfield já mapeou potenciais oportunidades em biometano no Rio de Janeiro e em São Paulo, mas ainda tem dúvidas se o transporte através de sua malha de gasodutos é a melhor solução logística para o produto.
'O desafio do biometano é o 'grid', a capilaridade dele... A pergunta é qual é a melhor solução logística, se seria o escoamento e consumo (do biometano) próximo das áreas de produção, ou o acúmulo para transporte em grande escala', explicou Erick Portela.
O biometano é um gás de origem renovável que serve como substituto do gás natural, diesel e GLP, e que vem ganhando mais atenção diante da agenda de transição energética. Ele resulta do processamento do biogás, que por sua vez é obtido de resíduos orgânicos urbanos e agropecuários, como de aterros sanitários e da indústria da cana.
'A gente está estudando isso fortemente com o governo do Rio de Janeiro, através da otimização de lixões, e começamos a conversar com o governo de São Paulo para iniciar estudos', afirmou o executivo.
Ele aponta que, para que o negócio faça sentido para a NTS, as plantas de geração de biometano precisam ter escala, sendo menos provável o transporte do insumo produzido em plantas de pequeno porte, de pequenos e médios agricultores, por exemplo.
'Fazendo uma analogia, quem gera energia elétrica em painel fotovoltaico em telhados não gera para jogar na rede de alta tensão, mas para consumir na própria residência. É diferente de uma planta em larga escala de solar.'
O mercado de biometano ainda é relativamente novo no Brasil, mas começou a crescer nos últimos anos com a aposta de grandes empresas no segmento, como Vibra, Raízen e Orizon, e o interesse industrial na ponta do consumo.
PROJETOS PARA GÁS
Em paralelo, a NTS está avançando com seu plano de investimentos de 12 bilhões de reais lançado no ano passado, que prevê projetos principalmente para garantir a estabilidade e ampliar o suprimento de gás nos principais Estados consumidores em meio às mudanças no cenário de oferta do insumo.
A empresa, que além da Brookfield tem como acionistas grandes fundos internacionais e a Itaúsa, é dona de uma malha de mais de 2 mil quilômetros que liga os Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo ao gasoduto Bolívia-Brasil e à TAG, a terminais de GNL e a plantas de processamento de gás.
O primeiro projeto da NTS é a construção de uma estação de compressão em Japeri (RJ), já aprovada pela agência reguladora ANP, com 600 milhões de reais em aportes. O empreendimento tem como objetivo dar mais flexibilidade ao sistema e compensar eventuais quedas de suprimento de fontes que dão sinais de 'cansaço', apontou Portella, como Bolívia e o Campo de Mexilhão.
Mas o maior projeto da transportadora para os próximos anos é o chamado 'corredor pré-sal', que viabiliza a chegada do gás do pré-sal para as regiões Sudeste e Sul com mais 300 quilômetros de dutos e cinco estações de compressão.
'Essa 'fase 2' vai entrar pari passu com (a oferta de gás) do Rota 3, Rota 5 e Sergipe Águas Profundas', disse Portela, acrescentando que essas fontes serão essenciais para cobrir o suprimento dos principais mercados de gás e proteger o Brasil do decaimento de outras origens.
Segundo o CEO da transportadora, as discussões agora estão centradas em 'como se paga a conta' desses projetos. A defesa da companhia é que a ANP autorize a rolagem automática desses investimentos para sua base regulatória de ativos.
Outra aposta da companhia é a estocagem de gás natural liquefeito (GNL) para atender a demanda de termelétricas, que hoje compram o insumo principalmente no mercado internacional.
A proposta é criar estoques artificiais 'onshore' para que as empresas ganhem velocidade para atender os despachos e também se protejam de uma eventual 'fuga' de fornecedores para outros mercados, diante das restrições da oferta mundial de gás.
No caso da estocagem, por se tratar de um negócio não regulado, a NTS está fazendo um levantamento de custos dos projetos e estudando qual seria o melhor modelo de negócios para deslanchar o projeto, explicou o CEO.
Escrito por Reuters
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