O trabalho de uma vida destruído: palestinos contabilizam prejuízos da guerra na Faixa de Gaza
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Por Mahmoud Issa
CAMPO DE REFUGIADOS DE JABALIA, Faixa de Gaza (Reuters) - Mohammed Al Safi contou que sua empresa, que fazia roupas de cama e colchões na Faixa de Gaza, dava a ele uma vida digna e empregava dez pessoas -- até o local ser destruído por um ataque israelense. Hoje, ele depende de ajuda para sobreviver, se puder encontrá-la.
Safi, de 51 anos, disse que os frutos de 30 anos de trabalho foram perdidos em um único dia. 'Eu me ajudava, ajudava meu pai, ajudava meus filhos... Tínhamos uma vida boa, uma vida decente', disse.
'Quando você perde a sua fonte de renda, você fica destruído, e aqueles ao seu redor ficam destruídos', afirmou, ao inspecionar o maquinário danificado e carbonizado de sua fábrica, no campo de refugiados de Jabalia, no norte do enclave palestino.
Esse é um retrato dos enormes danos causados à economia de Gaza durante a ofensiva militar israelense que transformou, nos últimos seis meses, grande parte do território costeiro sitiado em um terreno baldio, principalmente no norte.
A guerra eclodiu em 7 de outubro, quando militantes do grupo islâmico Hamas, que governa Gaza, invadiram a fronteira com Israel em um ataque que matou cerca de 1.200 pessoas e resultou no sequestro de outras 253, segundo os registros israelenses.
A retaliação de Israel matou mais de 33.000 pessoas, e milhares de outras ainda não foram retiradas dos escombros, segundo autoridades de saúde de Gaza. A maioria dos 2,3 milhões de habitantes do território está desabrigada agora.
Sob um longo bloqueio de Israel, a economia da Faixa de Gaza enfrentava dificuldades há anos, mesmo antes do atual conflito, e tinha uma das mais altas taxas de desemprego do mundo.
O choque econômico da guerra é o maior já observado na história recente, disseram o Banco Mundial e a Organização das Nações Unidas (ONU) em um relatório recente.
Até 31 de janeiro, diz o relatório, o enclave tinha sofrido cerca de 18,5 bilhões de dólares em danos de infraestrutura, equivalente a 97% do Produto Interno Bruto (PIB) da Faixa de Gaza e da Cisjordânia em 2022.
MENDICÂNCIA E EMPRÉSTIMOS
Jabalia está localizada no norte de Gaza, onde a fome é iminente, segundo órgão mundial de controle. É o maior dos oito campos de refugiados de blocos de concreto na Faixa de Gaza, que datam da guerra de 1948, da fundação de Israel, com cerca de 116.000 refugiados registrados, segundo a ONU.
Muitos dos residentes de Jabalia rejeitaram os avisos israelenses de retirada e permaneceram no local, apesar dos intensos bombardeios que atingiram a região nos últimos seis meses.
A UNRWA, agência das Nações Unidas para refugiados palestinos, estima que a população das províncias do norte de Gaza e da Cidade de Gaza seja de até 300.000 pessoas.
Safi relatou que sua empresa foi destruída em um ataque ao bairro de Jabalia há cerca de dois meses.
'Você tinha uma fábrica em que trabalhava e que não existe mais. O que você se tornará? Vai suplicar? Isso é uma destruição. É destruição econômica', completou Safi.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) afirmou que 90% dos empregos foram perdidos na Faixa de Gaza nos seis meses de guerra até aqui.
A diretora regional da instituição para os países árabes, Ruba Jaradat, disse à Reuters que a maioria dos negócios no enclave sofreu danos de infraestrutura, incluindo lojas, armazéns e fábricas.
'Os negócios foram severamente afetados com a destruição da infraestrutura. Então eu diria que as cadeias de suprimento pararam. Não há atividade econômica', afirmou.
Salem Awad Rab’a tinha uma loja de telefones celulares em Jabalia, onde empregava seis pessoas, até que o edifício do estabelecimento foi atingido, ainda no começo da guerra. Pai de cinco filhos, ele teve de fazer empréstimos para atender às necessidades da família.
'A vida estava normal e não dependíamos de ninguém, até que esse desastre aconteceu... Nossa fonte de subsistência foi destruída', contou, em frente à loja, agora queimada.
(Reportagem adicional de Emilie Madi em Beirute e Saleh Salem em Doha)
Escrito por Reuters
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