OMS vê aumento de casos de Covid e gripe por taxas de vacinação 'incrivelmente baixas'
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Por Jennifer Rigby e Julie Steenhuysen
(Reuters) - As baixas taxas de vacinação contra as versões mais recentes da Covid-19 e da gripe estão pressionando os sistemas de saúde neste inverno no hemisfério norte, disseram à Reuters importantes autoridades de saúde pública.
Nos Estados Unidos, em vários países europeus e em outras partes do mundo, houve relatos de aumento de hospitalizações relacionadas a infecções respiratórias nas últimas semanas. As taxas de mortalidade também aumentaram entre os adultos mais velhos em algumas regiões, ainda que muito abaixo do pico da pandemia da Covid.
O governo da Espanha restabeleceu as exigências de uso de máscaras nos estabelecimentos de saúde, assim como algumas redes de hospitais dos EUA.
'Muitas pessoas estão precisando de cuidados médicos sérios por causa da gripe, da Covid, quando podemos evitá-la', disse Maria Van Kerkhove, diretora interina de preparação para epidemias e pandemias da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Ela citou taxas de vacinação 'incrivelmente baixas' contra a gripe e a Covid em muitos países nesta temporada, enquanto o mundo tenta superar a pandemia e suas restrições.
Os governos têm se esforçado para comunicar os riscos ainda representados pela Covid e os benefícios da vacinação desde que uma emergência de saúde pública global foi declarada em maio de 2023, disseram especialistas em doenças infecciosas e autoridades de saúde.
Apenas 19,4% dos adultos dos EUA receberam a vacina contra a Covid desta temporada, segundo a Pesquisa Nacional de Imunização do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos EUA, apesar da recomendação de que todos os adultos recebam uma vacina atualizada para se protegerem contra doenças graves.
Além disso, só cerca de 17% dos adultos receberam o reforço bivalente na temporada 2022-2023, com base nos dados reais de vacinas informados ao CDC pelos Estados.
Quase metade dos adultos norte-americanos com mais de 18 anos tomou a vacina contra a gripe nesta temporada (44,9%), praticamente o mesmo percentual do no ano passado (44%), de acordo com o CDC.
'Não achamos que um número suficiente de pessoas tenha tomado a vacina atualizada contra a Covid', disse a diretora do CDC, Mandy Cohen, em entrevista. 'As pessoas ainda não estão entendendo que a Covid ainda é uma doença mais grave do que a gripe.'
A gripe representou 5,2% dos atendimentos de emergência nos EUA, em comparação com 3% para a Covid na semana encerrada em 30 de dezembro. No entanto, a Covid foi responsável por 10,5 de cada 100.000 hospitalizações nesse período, em comparação com 6,1 de cada 100.000 por gripe.
A maioria das vacinas atualizadas que estão sendo usadas nos EUA e na União Europeia é fabricada pela Pfizer com a parceira alemã BioNTech, ou a Moderna
Na Europa, a gripe está circulando a uma taxa mais alta do que a Covid, informou o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC, na sigla em inglês). No total, 24% de uma amostra representativa de testes deram positivo na última semana de 2023, em comparação com 19% uma quinzena antes.
As taxas estão de acordo com as temporadas de gripe anteriores, disse Edoardo Colzani, especialista em vírus respiratórios do ECDC. Mas 'agora temos a Covid-19 como um novo hóspede indesejado', disse.
O ECDC não tinha taxas de vacinação para a gripe ou a Covid na Europa, mas Colzani disse que os dados iniciais mostravam que a vacinação contra a Covid estava bem abaixo dos níveis pandêmicos.
Na Europa, as novas vacinas contra a Covid são recomendadas apenas para grupos de risco, como idosos e pessoas imunocomprometidas. Entre esses grupos, a OMS diz que deve haver 100% de cobertura.
VACINAS EFICAZES
As taxas de Covid também estão aumentando no hemisfério sul durante o verão, disse a OMS, porque ainda não é um vírus sazonal.
No mês passado, foram registrados 850.000 novos casos de Covid e 118.000 novas hospitalizações em todo o mundo, um aumento de 52% e 23%, respectivamente, em relação a novembro, de acordo com a OMS, que acrescentou que os números reais provavelmente são ainda maiores.
As vacinas ainda são muito eficazes na prevenção de doenças graves, mesmo que não bloqueiem a infecção, disseram os especialistas.
Um estudo recente do Karolinska Institutet e do Danderyd Hospital, na Suécia, publicado na revista Lancet Infectious Diseases, constatou que a vacina atualizada, que tem como alvo a variante XBB.1.5 do coronavírus, reduziu o risco de hospitalização por Covid em 76,1% em pessoas afetadas por variantes mais recentes, com base em registros de saúde pública de adultos com mais de 65 anos.
Estima-se que as vacinas contra a gripe deste ano, produzidas por diversos fabricantes, reduzam o risco de hospitalização em 52%.
Mas a 'fadiga pela vacinação contra a Covid' está dificultando a adesão, disse Colzani.
Na Itália, por exemplo, 8,6% da população elegível recebeu o terceiro reforço contra a Covid após a série inicial de vacinação, segundo dados de 7 de janeiro do Ministério da Saúde.
Os dados sobre a gripe ainda não estão disponíveis, mas um estudo da Federfarma, a associação das farmácias italianas, informou que 15% dos italianos foram vacinados contra a gripe neste outono, em comparação com pouco mais de 20% na última temporada.
(Reportagem de Jennifer Rigby, em Londres, eJulie Steenhuysen, em Chicago; reportagem adicional de Emilio Parodi, em Milão, e Andrew Silver, em Xangai)
Escrito por Reuters
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