Oposição da Venezuela segue busca por reconhecimento de vitória eleitoral, mas opções são limitadas
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Por Vivian Sequera e Mayela Armas e Tibisay Romero
CARACAS (Reuters) - A coalizão de oposição da Venezuela ainda está pressionando pelo reconhecimento do que diz ser sua vitória retumbante na eleição presidencial do mês passado, mas suas opções estão diminuindo à medida que a atenção internacional é atraída para outros lugares, disseram analistas e fontes da oposição.
As autoridades eleitorais declararam que o presidente Nicolás Maduro ganhou um terceiro mandato na disputa de 28 de julho, enquanto as contagens coletadas pela oposição mostram uma vitória para o candidato da oposição Edmundo González.
Reclamando de fraude eleitoral de Maduro, manifestantes saíram às ruas. Os protestos, classificados pelo governo como violência fascista, mataram 23 pessoas e levaram a cerca de 2.400 prisões.
Esse é um cenário familiar para a Venezuela, onde protestos, sanções e a declaração de uma presidência interina liderada pela oposição, reconhecida por países ocidentais, não conseguiram destituir Maduro nos últimos anos.
Com os líderes militares prometendo apoiá-lo, os caminhos da oposição parecem limitados.
Por enquanto, a oposição está concentrando sua resposta em uma exigência de publicação dos resultados completos das votações, de acordo com quatro fontes da oposição que não quiseram ser identificadas. Elas disseram que a oposição está aberta a negociações com o partido governista e espera que a pressão internacional possa eventualmente dar frutos.
González e a líder da oposição María Corina Machado, que liderou sua campanha, também conclamaram seus partidários a manterem os protestos, com Machado lançando a ideia de possíveis incentivos para que figuras do partido governista deixem o poder.
Até o momento, o governo se recusou a entrar em negociações 'porque dentro do partido governista não há uma posição acordada', disse Machado a jornalistas nesta semana. 'Há grupos que estão claramente dispostos a negociar e a pressionar para que isso ocorra, e outros que não estão, que estão entrincheirados e dispostos a fazer qualquer coisa.'
As apurações em posse da oposição e publicadas online mostram que González obteve cerca de 7 milhões de votos, mais do que o dobro dos 3,3 milhões de Maduro. Os números estão de acordo com as pesquisas de boca de urna independentes.
O conselho eleitoral nacional não publicou os resultados completos, mas afirma que Maduro venceu com cerca de 51% dos votos. Seu site está fora do ar desde as primeiras horas do dia 29 de julho.
O tribunal superior da Venezuela - considerado pela oposição como um braço do partido governista - disse que ainda está verificando os resultados, mas que a oposição não apresentou provas de suas apurações.
O governo também ainda está revisando seus cálculos sobre quantos votos a oposição pode ter recebido, disse uma fonte próxima ao partido governista, que não quis se identificar.
'Um diálogo teria que reconhecer um processo eleitoral em que a oposição fosse a vencedora', afirmou Maria Isabel Puerta, professora de ciência política do Valencia College, na Flórida, acrescentando que os conflitos no Oriente Médio e na Ucrânia poderiam desviar a atenção internacional da Venezuela.
PRESSÃO INTERNACIONAL
Uma fonte da oposição disse estar confiante de que Brasil, Colômbia e México podem exercer pressão sobre Maduro, mas 'a pressão interna não deve cessar'.
Estados Unidos, Argentina e Chile, entre outros países, têm exigido repetidamente que o governo publique as contagens completas, enquanto Brasil, Colômbia e México - cujos líderes têm sido tradicionalmente mais amigáveis com Maduro - estão trabalhando para estabelecer conversações entre Maduro e González.
Mas as nações ocidentais, cautelosas com os fracassos diplomáticos anteriores, deram poucos sinais de que planejam implementar rapidamente medidas mais duras, incluindo novas sanções, em resposta à disputa.
Rússia, China e outros países parabenizaram Maduro por sua vitória.
'Sinto que pelo menos a disposição de não ter fechado completamente o canal (de comunicação) com Brasil, México e Colômbia é um bom sinal e esperamos ver o que acontecerá nesta semana, o que considero crucial', disse Machado.
Ela descartou a possibilidade de repetir a eleição, disseram duas fontes diplomáticas à Reuters nesta semana.
Escrito por Reuters
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