CORREÇÃO-Ordem no governo é baixar temperatura da tensão com BC, dizem fontes
Publicada em
Atualizada em
(Corrige no 3º parágrafo a meta de inflação de 2024 para 3,0%, em lugar de 3,25%)
Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Depois de dias de conflito com o Banco Central em torno das taxas de juros e mudanças na meta de inflação, a ordem no governo é baixar a temperatura e deixar o assunto fora do Palácio do Planalto, uma posição que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que liderou as críticas, vem sendo convencido a abraçar e que já adota desde a viagem aos EUA, apontaram fontes ouvidas pela Reuters.
Depois do apoio à mudança da meta de inflação por parte de três dos principais gestores de recursos do país --Rogério Xavier, da SPX Capital, Luis Stuhlberger, da Verde Asset Management, André Jakurski, da JGP--, a avaliação dentro do governo é que o caminho está traçado mas, de acordo com as fontes, isso não será feito agora, mas em junho.
É nesse mês que o Conselho Monetário Nacional (CMN) define a meta para mais um ano à frente. Atualmente, o Brasil já tem metas definidas para 2024 e 2025, 3,0% nos dois anos, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Este ano será fixada a meta para 2026.
O próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já deixou claro que o tema não estará na pauta desta quinta-feira, em mais um sinal de que o governo não vai forçar a discussão nesse momento.
Nas últimas semanas, o governo --especialmente o próprio Lula-- pesou a mão nas críticas ao Banco Central sobre a taxa básica de juros do país, hoje em 13,75%. Segundo uma das fontes, o assunto foi um dos temas da conversa entre Haddad e o presidente na viagem a Washington. Outros assessores de Lula também ajudaram a convencê-lo a deixar o tema de lado. Desde a viagem, não tocou mais no assunto.
'Isso foi conversado, vai baixar a temperatura', disse uma das fontes.
A entrevista do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao programa Roda Viva, na última segunda-feira, também ajudou a distensionar o clima no Palácio do Planalto. Apesar de críticas a algumas posições, a avaliação de ministros próximos a Lula é que o tom geral foi de uma tentativa de aproximação com o governo e abertura de pontes para negociar.
Campos Neto afirmou, inclusive, que gostaria de encontrar com o presidente Lula novamente --a única reunião entre os dois até agora foi antes da posse, em 30 de dezembro--, mas ainda não existe essa previsão. Nesta quinta, no entanto, o presidente do BC tem uma reunião marcada com o ministro da Casa Civil, Rui Costa.
Se a intenção do governo, pelo menos por ora, é fazer a temperatura esfriar, a pressão sobre Campos Neto, no entanto, deve continuar, mas foi tercerizada para o PT e a bancada no Congresso. Na segunda-feira, o diretório nacional do partido aprovou uma resolução com críticas aos juros altos no país, a formação de uma frente parlamentar contra os juros, e o apoio ao convite ao presidente do BC para que explique a política de juros ao Congresso.
'A militância você não tem como controlar, mas é o papel deles', disse uma das fontes.
Escrito por Reuters
SALA DE BATE PAPO