Trump sugere adiar eleição dos EUA; republicanos no Congresso rejeitam
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Por Steve Holland
WASHINGTON (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, levantou nesta quinta-feira a possibilidade de adiamento da eleição presidencial de 3 de novembro, uma ideia rejeitada imediatamente tanto por democratas quanto por republicanos no Congresso -- a única instância com autoridade para fazer tal alteração.
Críticos e até aliados de Trump refutaram a ideia, que não levaram a sério, e alguns disseram ser apenas uma tentativa de desviar a atenção diante de notícias econômicas devastadoras.
O comentário de Trump no Twitter veio no momento em que os EUA atravessam uma das maiores crises de uma geração: uma pandemia de coronavírus que já cobrou mais de 150 mil vidas, uma recessão paralisante provocada pelo surto e protestos de âmbito nacional contra a violência policial e o racismo.
Na manhã desta quinta-feira, o governo dos EUA anunciou a pior contração econômica desde a Grande Depressão.
Trump, que pesquisas de opinião mostram atrás e perdendo terreno para o adversário democrata e ex-vice-presidente Joe Biden, também disse que não confiaria nos resultados de uma eleição que incluísse uma votação pelo correio em larga escala -- uma medida que muitos observadores consideram essencial por causa da pandemia de coronavírus.
Sem provas apresentar, Trump repetiu alegações de fraude nas votações pelo correio.
'Com uma votação universal pelo correio (não votação fora do domicílio, que é boa), 2020 será a eleição mais IMPRECISA E FRAUDULENTA da história. Será um grande constrangimento para os EUA', tuitou Trump. 'Adiar a votação até as pessoas poderem votar de forma apropriada, garantida e segura???'
Os Estados Unidos realizaram eleições ao longo de 200 anos, inclusive durante a Guerra Civil, a Grande Depressão e duas guerras mundiais. O Artigo 2 da Constituição dá ao Congresso o poder de programar as eleições, e a 20ª emenda encerra o mandato do presidente e do vice-presidente no dia 20 de janeiro seguinte à eleição geral.
Diversos parlamentares republicanos --entre eles o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, e o republicano mais graduado da Câmara dos Deputados, Kevin McCarthy-- rejeitaram a ideia.
'Nunca na história das eleições federais deixamos de realizar uma eleição, e deveríamos ir adiante com nossa eleição', disse McCarthy.
O senador Lindsey Graham, um aliado de Trump, disse: 'Adiar a eleição provavelmente não seria uma boa ideia'.
Trump já havia insinuado que não confiaria nos resultados do pleito -- queixas semelhantes àquelas que fez ao ir para o segundo turno da disputa de 2016. No entanto, o presidente não havia sugerido tão diretamente mudar a data de 3 de novembro.
Trump questiona, sem argumentos, a legitimidade da votação pelo correio, que tem sido usada com muito mais frequência nas eleições primárias em meio à pandemia.
Ari Fleischer, que foi porta-voz da Casa Branca no governo do presidente republicano George W. Bush, disse que Trump deveria apagar o tuíte.
'Esta é uma ideia que ninguém, especialmente o presidente dos Estados Unidos, deveria cogitar. Nossa democracia se baseia em eleições nas quais todos conhecem as regras e elas se aplicam a todos', disse Fleischer. 'Senhor presidente, por favor, nem finja brincar com isso. É uma ideia nociva'.
Os democratas, incluindo o candidato presidencial Joe Biden, já iniciaram preparativos para proteger os eleitores e a eleição devido ao temor de que Trump tente interferir com o pleito ou questionar os resultados -- especialmente se o resultado final for adiado pela chegada tardia de votos enviados pelo correio.
Escrito por Reuters
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