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Vitória de Trump amplia desafios do Brasil com inflação e juros globais maiores, dizem fontes da Fazenda

Placeholder - loading - Funcionários de fábrica em Socorro, São Paulo 03/03/2020 REUTERS/Rahel Patrasso
Funcionários de fábrica em Socorro, São Paulo 03/03/2020 REUTERS/Rahel Patrasso

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Por Bernardo Caram

BRASÍLIA (Reuters) - A eleição do republicano Donald Trump para retornar à presidência dos Estados Unidos a partir de 2025 indica um cenário econômico mais difícil para o Brasil, que deverá lidar com ampliação de medidas protecionistas, pressões inflacionárias mais fortes e níveis mais altos de juros no mundo, avaliaram três autoridades do Ministério da Fazenda.

Em meio a reação de aliados políticos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra medidas de ajuste fiscal, especialmente diante desse novo cenário, uma das fontes ponderou que o governo precisará enfrentar reformas estruturais com ainda mais afinco para evitar que o ambiente desafiador para o Brasil após a eleição de Trump fique ainda pior.

“Se não fizer os ajustes o dólar vai estabilizar nos 6 reais, a inflação vai para 5% ou mais e juros passam dos 13%, ficando lá até a eleição (presidencial de 2026). Não creio que alguém que queira se reeleger vai gostar de um cenário desses”, disse uma das fontes sob anonimato.

Na manhã desta quarta, a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, afirmou que a eleição de Trump demanda um fortalecimento da democracia no Brasil, “mas principalmente respostas concretas às necessidades e expectativas do povo, que não cabem na receita neoliberal que o mercado quer impor”. Na terça, ela havia se posicionado contra medidas de ajuste em Saúde, Educação, seguro-desemprego, benefícios assistenciais e aposentadorias.

IMPACTOS

Trump venceu a democrata Kamala Harris nas eleições de terça-feira após propor durante a campanha iniciativas que incluem aumento de tarifas de importação, maiores restrições a produtos chineses e corte de impostos para empresas e cidadãos norte-americanos.

Avaliação apresentada nas últimas semanas pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, mostra que as promessas de campanha feitas por Trump tendem a gerar déficits fiscais maiores do que em um governo Kamala. O conjunto de medidas, para ele, se traduzirá em maior pressão inflacionária nos EUA.

Um cenário de inflação mais alta tende a dificultar o trabalho do banco central dos EUA, exigindo doses maiores de juros, o que gera como efeito uma ampliação do fluxo de recursos para o país norte-americano e fortalecimento do dólar. Um movimento desse tipo reprime investimentos e eleva custos em economias emergentes.

Outra autoridade da Fazenda destacou que a possível ampliação de força dos republicanos na Câmara e a conquista do controle do Senado pelo partido indica que Trump terá condições de realmente emplacar sua agenda de campanha.

“Tendo a achar que ele vai avançar em vários temas e esse custo vai aparecer ao longo do mandato dele. E provavelmente vai impactar comércio global se ele levar à frente a ideia protecionista e isolacionista”, disse, vendo também dificuldades no andamento da agenda ambiental, um tema caro ao Brasil.

Para uma terceira fonte da Fazenda, uma nova rodada protecionista nos EUA naturalmente seria replicada por outros países, gerando maior inflação global. Ela avaliou, no entanto, que o mundo deve se acomodar à nova realidade sem grandes choques.

“Não é o cenário ideal para emergentes no curto prazo, mas não vejo cenário de crises fortes por conta disso. O mundo terá de se acostumar com o cenário de inflação maior, juros provavelmente maiores também”, afirmou.

Uma quarta fonte, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), também demonstrou preocupação com as políticas de protecionismo, considerando que o cenário atual já é de maior fragmentação entre os países.

“Pode ter uma tendência a maior defesa da indústria nacional, fortalecendo as políticas de localização de produção. Além do mais, um acirramento da disputa geopolítica, principalmente contra a China. A escalada de protecionismo pode se elevar mais ainda”.

(Por Bernardo Caram)

Escrito por Reuters

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