A Música de Madonna que Incendiou o Mundo
35 anos atrás, a artista fez história ao lançar ao mundo uma obra prima do Pop que ainda é tão popular quanto provocadora
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Madonna já quis ser uma freira?
A Rainha do Pop foi excomungada três vezes da Igreja Católica?
Sim e sim. E ambas as perguntas estão relacionadas com a música “Like a Prayer”.
A obra prima da cultura pop alcançou o 1º lugar nos Estados Unidos (e em mais 18 países) no seu primeiro ano de lançamento, 1989. É a música mais conhecida de Madonna no mundo e, apesar de haver uma riqueza musical espetacular embutida na produção dela – a criação funk-pop de construção lenta, o vocal mais imponente de Madonna em sua brilhante carreira, as harmonias gloriosamente edificantes do coral gospel regido por Andrae Grouch – o videoclipe foi um marco histórico na indústria musical, permanecendo no imaginário coletivo por gerar inúmeras consequências na carreira de Madonna e desafiar questões que foram horrorizadas à época.
Composta por Madonna e Patrick Leonard, a faixa inclui vocábulos litúrgicos e cria duplo sentido entre sexo e religião. Se até hoje uma enorme quantidade de pessoas consideraria o videoclipe abominável, 35 anos atrás, em um mundo com muitas menos conquistas femininas e raciais, a reação do público foi ainda mais radical.
Madonna incendiou os Estados Unidos ao dançar em frente a crucifixos em chamas, criticar a intolerância racial e desafiar a Igreja Católica a tal ponto que o Papa João Paulo II apelou ao boicote aos shows de Madonna na Itália, além de excomungá-la do catolicismo. Posteriormente, ela seria excomungada mais duas vezes: em 1990, no palco, durante uma turnê, a artista incluiu uma performance da música Like A Virgin em que simulava gestos obscenos na visão da Igreja Católica.
Já a última vez excomungada foi durante uma turnê de 2006, chamada de Confessions Tour. No palco, Madonna revoltou a comunidade católica ao performar a música Live To Tell “pregada” em uma grande cruz.
Videoclipe Polêmico
No vídeo de Mary Lambert, Madonna assume o papel de uma jovem que presencia um crime brutal cometido por supremacistas brancos. Um homem negro é injustamente preso no lugar do verdadeiro culpado. Após uma profunda experiência religiosa, que inclui um sonho vívido onde beija um Cristo negro, a jovem encontra a força para denunciar o crime às autoridades e lutar pela inocência do rapaz.
Em uma cena impactante, ela dança com fervor diante de cruzes flamejantes em um campo aberto, em uma clara referência à prática utilizada pela Ku Klux Klan para aterrorizar a população negra.
A repercussão do clipe foi tamanha que ele chegou a ser proibido em alguns países, mas consagrou Madonna na indústria — vendendo 15 milhões de cópias.
Como ela disse à Revista Rolling Stone na época, "Eu rezo quando estou em apuros ou quando estou feliz. Quando sinto qualquer tipo de extremo". Não seria do estilo de Madonna lançar uma música tão pessoal sem um grande escândalo para acompanhar.
Religião X Sexualidade: Controvérsia ou Congruência?
Enquanto, para muitos, religião e sexualidade são assuntos opostos – sendo o segundo proibido e condenado pelo primeiro –, Madonna enxerga uma relação entre os dois. 'Like a Prayer' explora a complexidade das emoções humanas e a intersecção entre diferentes formas de experiência transcendental.
Na canção, a voz do amado se torna um chamado divino, unindo amor e fé em um êxtase transcendente. A entrega apaixonada se entrelaça com a devoção religiosa, evocando o poder transformador do amor, capaz de transportar a alma para um refúgio de paz e conexão profunda. A dualidade entre o sagrado e o profano, tema recorrente em Madonna, é aqui explorada com maestria, evidenciando a força avassaladora do amor e do desejo sexual, que transcende os limites do convencional.
Não é à toa que a religião desperta lugares profundos em Madonna. Em carta antiga enviada ao diretor Stephen Lewicki, em 1979, a artista, que tinha a intenção de pedir um papel no thriller “A Certain Sacrifice” (seu primeiro trabalho nas telas), confessou que já pensou em ser uma freira durante a infância. “Nasci e fui criada em Detroit, Michigan, onde comecei minha carreira com petulância e precocidade. Quando estava na quinta série, sabia que eu queria ser uma freira ou uma estrela de cinema. Nove meses em um convento me curaram da primeira doença”, escreveu a popstar, no que ela ainda chama de “currículo informal”.
Comercial Censurado
Antes mesmo do lançamento oficial do videoclipe, a melodia já estrelava as telas em um comercial de um popular refrigerante. A parceria entre a cantora e a marca previa a participação dela em três anúncios. Mas o primeiro e único comercial, que servia como um aperitivo para o videoclipe de "Like a Prayer", desencadeou uma onda de críticas por parte de líderes religiosos de todo o mundo.
Inconformados com a associação da marca com a artista, esses líderes se uniram para boicotar a Pepsi. O movimento ganhou força e chegou até mesmo ao Vaticano, levando o Papa João Paulo II a banir Madonna de entrar na Itália. O álbum "Like a Prayer" também foi censurado no país.
Diante da repercussão negativa, a Pepsi decidiu cancelar a veiculação do comercial "Make a Wish" e encerrar seu contrato de patrocínio com a cantora.
O comercial em questão apresentava duas "Madonnas": uma adulta, que cantava e dançava a música "Like a Prayer", e outra criança, que a observava pela televisão. Apesar de não fazer menções diretas à temática religiosa do videoclipe, a empresa foi duramente criticada por sua associação com a artista.
O episódio gerou grande debate sobre os limites da liberdade artística e da expressão religiosa, expondo as tensões entre cultura pop e crenças tradicionais. A canção "Like a Prayer" se tornou um marco histórico, não apenas por sua qualidade musical, mas também pelo impacto que causou na sociedade.
No entanto, em 2023, 34 anos depois do videoclipe, o comercial estreou no intervalo dos Video Music Awards, da MTV. Dessa vez, de forma irônica, o anúncio se encerra com a frase “Pepsi: celebrando 40 anos perturbando o status quo”.
Em suas redes sociais, a cantora postou o vídeo com a seguinte legenda: “Há 34 anos, fiz um comercial com a Pepsi para comemorar o lançamento da minha música Like a Prayer”, escreveu Madonna em suas redes sociais. “O comercial foi imediatamente cancelado quando me recusei a mudar qualquer cena do vídeo em que beijava um santo negro ou queimava cruzes”.
“Assim começou minha ilustre carreira como artista, em que me recusei a comprometer minha integridade artística. Obrigada @pepsi por finalmente perceber a genialidade da nossa colaboração. Os artistas estão aqui para perturbar a paz”, reforçou.
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