Autoridades dos EUA se opõem a esforço europeu para comprar armas localmente
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Por Gram Slattery e John Irish e Daphne Psaledakis
WASHINGTON/PARIS (Reuters) - Autoridades dos Estados Unidos disseram a seus aliados europeus que querem que eles continuem comprando armas fabricadas nos EUA, em meio às recentes medidas da União Europeia para limitar a participação dos fabricantes norte-americanos em licitações de armas, disseram à Reuters cinco fontes familiarizadas com o assunto.
As mensagens transmitidas por Washington nas últimas semanas ocorrem em um momento em que a UE toma medidas para impulsionar o setor de armamentos da Europa, ao mesmo tempo em que pode limitar as compras de determinados tipos de armas dos EUA.
As primeiras medidas de política externa do governo Trump, incluindo o corte breve da ajuda militar para a Ucrânia -- posteriormente revertido -- e a diminuição da pressão sobre Moscou, deixaram os aliados europeus profundamente nervosos, levando muitos a questionar se os Estados Unidos são um parceiro confiável.
Em meados de março, a Comissão Europeia, o órgão Executivo da UE, propôs aumentar os gastos militares e reunir recursos em projetos conjuntos de defesa, à medida que a Europa se prepara para a redução do envolvimento militar dos EUA sob o comando do presidente Donald Trump.
Algumas das medidas propostas podem significar um papel menor para empresas de fora da UE, incluindo aquelas sediadas nos EUA e no Reino Unido, segundo especialistas.
Em uma reunião em 25 de março, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, disse aos ministros das Relações Exteriores da Lituânia, Letônia e Estônia que os Estados Unidos querem continuar participando das aquisições de defesa dos países da UE, disseram as fontes à Reuters.
De acordo com duas das fontes, Rubio disse que qualquer exclusão de empresas norte-americanas das licitações europeias seria vista de forma negativa por Washington, o que essas duas fontes interpretaram como uma referência às regras propostas pela UE.
Um diplomata do norte da Europa, que não participou da reunião no Báltico, disse que também foi informado recentemente por autoridades norte-americanas que qualquer exclusão das compras de armas da UE seria vista como inadequada.
Rubio planeja discutir as expectativas de que os países da UE continuem comprando armas dos EUA durante sua visita a Bruxelas nesta semana, onde participará da Reunião de ministros das Relações Exteriores da aliança militar ocidental Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), disse um alto funcionário do Departamento de Estado.
'É um ponto que o secretário levantou e continuará levantando', disse a autoridade.
Um porta-voz do Departamento de Estado disse que Trump saúda os esforços recentes dos aliados europeus para 'fortalecer suas capacidades de defesa e assumir a responsabilidade por sua própria segurança', mas alertou contra a criação de novas barreiras que excluam as empresas norte-americanas dos projetos de defesa europeus.
'A cooperação industrial de defesa transatlântica torna a Aliança mais forte', disse o porta-voz.
Os ministérios das Relações Exteriores da Letônia e da Estônia não responderam aos pedidos de comentários. O Ministério das Relações Exteriores da Lituânia não quis comentar.
DIREÇÕES OPOSTAS
A preocupação dos EUA com os limites para a compra de armas reflete uma tensão no centro da política europeia do governo Trump.
Trump pediu aos aliados europeus que gastem mais em defesa e assumam maior responsabilidade por sua própria segurança. Ao fazer isso, a UE está procurando trazer a fabricação para dentro de casa, tendo em vista as sugestões do presidente dos EUA de que seu compromisso com a Otan não é absoluto.
Isso vai contra outro objetivo do governo Trump, que é abrir mercados estrangeiros para os fabricantes dos EUA.
A proposta de defesa apresentada em meados de março pela Comissão Europeia, batizada de ReArm Europe, incluía um plano de empréstimo de 150 bilhões de euros (US$162 bilhões) para empréstimos aos governos da UE para serem gastos em projetos de defesa.
Muitos governos da UE dizem que são a favor de uma abordagem mais pan-europeia para a defesa. Mas a forma como isso funcionaria provavelmente será objeto de um debate acirrado -- sobre quem deve ter o poder de decidir sobre projetos conjuntos, quem deve executá-los e como eles devem ser financiados.
Embora a Comissão insista que há maneiras de as empresas de fora da UE competirem por fundos de defesa de acordo com o plano proposto, os fabricantes de armas de fora do bloco enfrentariam, na prática, uma série de obstáculos práticos e administrativos.
O governo Trump -- assim como os governos anteriores dos EUA -- já pressionou por compras europeias de armas norte-americanas antes, inclusive na Conferência de Segurança de Munique deste ano. Algumas das fontes consideram as recentes mensagens de Washington como uma continuação da política dos EUA.
Ainda assim, várias fontes disseram que a ênfase dos EUA sobre o assunto se intensificou nas últimas semanas, uma vez que a UE tomou medidas mais decisivas para dissociar suas compras de armas.
'Eles estão chateados com a proposta da ReArm e com a exclusão dos EUA', disse uma fonte europeia graduada.
(Reportagem de Gram Slattery e Daphne Psaledakis, em Washington; John Irish, em Paris; Reportagem adicional de Lili Bayer, em Bruxelas)
Escrito por Reuters