Azul anuncia saída da Abear, na esteira da disputa por slots da ponte aérea
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Por Aluisio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - A Azul anunciou nesta quarta-feira a saída da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), que representa o setor no país, após um embate entre a companhia e as rivais Gol e Latam Airlines pela Avianca Brasil, que está em recuperação judicial.
'Entendemos que nosso diálogo com a sociedade civil, autoridades, órgãos competentes e demais stakeholders deve ser feito diretamente pela companhia', afirmou em nota o presidente-executivo da Azul, John Rodgerson, sem dar mais detalhes.
Em nota, a Abear agradeceu a Azul por ter ajudado a criar e ter feito parte da entidade e que seguirá defendendo 'um ambiente de cooperação empresarial e respeitando à competição'.
Uma fonte com conhecimento do assunto disse à Reuters que o estopim para o racha da Azul com Gol e Latam foi a disputa pelos slots (autorizações de voos) no aeroporto de Congonhas (SP).
No mês passado, Rodgerson acusou Gol e Latam de agirem para evitar a concorrência na ponte aérea São Paulo-Rio de Janeiro.
Em março, a Azul anunciou acordo não vinculante de 105 milhões de dólares para comprar ativos da Avianca Brasil, incluindo slots em aeroportos e contratos de leasing de aviões da rival, que está em recuperação judicial desde dezembro.
Semanas depois, Gol e Latam ofertaram pelo menos 70 milhões de dólares cada por alguns ativos da Avianca Brasil, num acordo aprovado por credores da companhia.
Na prática, o movimento de ambas barrou a tentativa da Azul de obter o ativo mais cobiçado da Avianca Brasil, 20 pares de slots - nome da licença que uma companhia aérea recebe para poder decolar e pousar num aeroporto- em Congonhas.
Isso permitiria que a companhia tivesse várias rotas diárias entre Rio de Janeiro e São Paulo, condição tida como necessária para poder competir em condições de igualdade com as rivais.
'O movimento de Gol e Latam garante um duopólio na rota mais rentável das Américas', disse a fonte sob condição de anonimato.
Após ter devolvido dezenas de aeronaves para empresas de leasing, a Avianca Brasil ficou com apenas 5 aviões e operando em só quatro aeroportos, incluindo justamente Santos Dumont (RJ) e Congonhas, além de Salvador (BA) e Brasília (DF).
Para a fonte ouvida, se a Avianca Brasil mesmo assim não conseguir sobreviver, a tendência seria que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) distribuísse seus slots da ponte aérea entre Gol, Latam e Azul. Mas isso não seria suficiente para a última poder operar a rota de forma competitiva.
Sem conseguir resolver a situação com mecanismos de mercado, a diretoria da Azul passou a negociar caminhos em contato direto com fontes do governo, incluindo em conversas com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas.
O objetivo é tentar aproveitar o interesse do governo do presidente Jair Bolsonaro de elevar a competitividade em vários setores da economia e encontrar caminhos que forcem a abertura da ponte aérea para mais concorrentes. Por enquanto, não houve avanços nesse sentido.
Escrito por Thomson Reuters