Bolsonaro demite ministro do Turismo por conflito com Ramos; chefe da Embratur assume
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Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro demitiu nesta quarta-feira Marcelo Álvaro Antônio do cargo de ministro do Turismo devido a um conflito aberto com o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, confirmou à Reuters uma fonte com conhecimento do assunto.
Antônio, que voltará à Câmara dos Deputados, será substituído por enquanto pelo presidente da Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), Gilson Machado, pelo menos até que Bolsonaro decida por uma reforma ministerial mais ampla que deve acomodar nomes do centrão no primeiro escalão, segundo a fonte.
A informação foi confirmada pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho de Bolsonaro e próximo ao novo titular da pasta, em publicação no Twitter. 'Desejo boa sorte a Gilson Machado, que vinha fazendo bom trabalho como presidente da Embratur e agora se torna novo ministro do Turismo. Que Deus o ilumine nessa nova jornada', disse.
Por ora, oficialmente, o Planalto não confirma as trocas.
Foi a pressão para acomodar o centrão no governo que levou ao conflito entre Antônio e Ramos e à precipitação da saída do ministro do Turismo. Antônio há bastante tempo aparece na lista de substituíveis, e esta semana acusou Ramos de pedir sua saída a Bolsonaro para ceder o Ministério do Turismo a partidos da base.
Em tom irritado, Antônio mandou uma longa mensagem em grupo de ministros do governo em que chama Ramos de 'traíra' e diz que Ramos pediu sua cabeça ao presidente para 'resolver as eleições do Parlamento' e 'suprir sua própria deficiência.'
'Ministro Ramos, o senhor entra na sala do PR comemorando algumas aprovações insignificantes no Congresso, mas não diz o altíssimo preço que tem custado, conheço de parlamento, o nosso governo paga um preço de aprovações de matérias nunca visto na história e ainda assim (na minha avaliação), não temos uma base sólida no Congresso Nacional', diz a mensagem, vista pela Reuters.
O governo trabalha para eleger o líder do PP na Câmara, Artur Lira, para a presidência da Casa. Comandante informal do centrão, Lira é um dos principais aliados de Bolsonaro, que quer ver um nome mais amigável no cargo no lugar de Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Entre as negociações, estaria a promessa de abrir espaço no primeiro escalão para nomes-chave do grupo que, apesar de trabalhar junto, não é tão unido assim. Um de seus principais nomes, por exemplo, o presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), é um dos pré-candidatos do grupo de Maia contra Lira.
Irritado por ver seu cargo negociado abertamente, Álvaro Antônio acusou Ramos de 'jogar um companheiro de guerra aos inimigos'.
'Ministro Ramos, o Sr é exemplo de tudo que não quero me tornar na vida, quero chegar ao fim da minha jornada exatamente como meus pais me ensinaram, leal aos meus companheiros e não um traíra como o senhor', escreveu o ex-ministro na mensagem.
Até o momento o Palácio do Planalto não se manifestou oficialmente sobre a demissão de Álvaro Antônio.
O agora ex-ministro do Turismo foi a causa de um dos primeiros embaraços para o governo de Jair Bolsonaro. Ainda em 2019, foi investigado e depois indiciado pela Polícia Federal sob suspeita de falsidade ideológica eleitoral, apropriação indébita de recurso eleitoral e associação criminosa -- Antônio é acusado de usar uma rede de candidatas-laranja para ter acesso a recursos do fundo eleitoral.
Apesar das denúncias, o deputado federal foi mantido no cargo por ser considerado um aliado fiel por Bolsonaro.
(Reportagem adicional de Ricardo Brito)
Escrito por Reuters
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