Brasil procura na Argentina de Milei foragidos por 8 de Janeiro
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Por Ricardo Brito e Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O governo brasileiro solicitou à Argentina informações sobre dezenas de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro que buscam refúgio no país vizinho para evitar consequências legais por terem atacado os prédios dos Três Poderes em Brasília em janeiro do ano passado como parte de uma suposta tentativa de golpe.
Autoridades policiais brasileiras disseram que o pedido apresentado na segunda-feira foi um precursor de possíveis pedidos de extradição.
Em 8 de janeiro de 2023, uma semana após a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, milhares de manifestantes invadiram o Congresso, o Supremo Tribunal Federal e o Palácio do Planalto em um tumulto que alguns esperavam que criasse um caos que justificasse um golpe militar para anular a eleição de Lula.
Autoridades da Polícia Federal disseram à Reuters que acreditam que entre 50 e 100 apoiadores de Bolsonaro acusados de vandalismo e insurreição fugiram para a Argentina depois que o libertário Javier Milei assumiu o cargo em dezembro.
A maioria dos fugitivos foi julgada e condenada pela Suprema Corte e enfrenta sentenças severas, incluindo até 17 anos de prisão por planejar um golpe de Estado, disse um graduado policial envolvido na investigação.
O Brasil pediu à polícia argentina que identificasse o paradeiro e a situação deles no país antes de decidir solicitar a extradição, disseram as autoridades policiais. Os fugitivos tinham restrições de movimento determinadas pela Justiça e alguns quebraram tornozeleiras eletrônicas que haviam sido instaladas.
'A cooperação policial que vai dizer quantos; a gente estima a partir das informações que até agora recebemos entre 50 e 100 brasileiros na Argentina', disse o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, a repórteres na terça-feira.
A PF começou a investigar o caso depois que parlamentares de direita, incluindo o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, visitaram Buenos Aires no mês passado e pediram publicamente ao governo argentino que tratasse os fugitivos como 'exilados políticos'.
O ex-vice-presidente de Bolsonaro, senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), disse nas redes sociais que eles foram para a Argentina porque não acreditavam que teriam um julgamento justo no Brasil.
A polícia brasileira disse acreditar que a maioria dos apoiadores de Bolsonaro desaparecidos solicitou asilo político.
A Comissão Nacional para Refugiados da Argentina disse que não comenta sobre pedidos de asilo.
O analista político André César disse que o grupo de apoiadores de Bolsonaro que encontrou uma fuga fácil para a vizinha Argentina pode estar apostando na mudança do clima político sob Milei para obter asilo.
'Esse grupo, que não é pequeno e que agiu de maneira concertada, sentiu que com Milei no poder havia um ambiente sócio-político propício para essa fuga para lá,' disse César, sócio da Hold Legislative Advisors, uma consultoria de políticas públicas.
'Dado o estranhamento inicial entre o governo de Milei e o governo de Lula, não me estranharia que Milei no mínimo colocasse obstáculos para a concessão de extradição', acrescentou.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito em Brasília, Nicolas Misculin em Buenos Aires)
Escrito por Reuters
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