Cabral admite ter pago US$2 milhões para comprar votos em eleição olímpica do Rio
Publicada em
Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral disse em depoimento na quinta-feira que usou 2 milhões de dólares para comprar votos para que a cidade do Rio de Janeiro fosse escolhida para sediar a Olimpíada de 2016.
Os recursos vierem de propina paga por um empresário que tinha elevado número de contratos com o governo do Estado, disse Cabral em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, titular da Lava Jato no Rio.
Segundo o ex-governador, os recursos foram utilizados para conseguir até 9 votos a favor da candidatura carioca.
O contato, segundo o ex-governador, para a compra de votos seria o então presidente da Associação Internacional das Federações de Atletismo (Iaaf), Lamine Diack. Cabral disse que o esquema para a compra de votos lhe foi apresentado pelo ex-presidente do COB e ex-presidente do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos, Carlos Arthur Nuzman.
“O Nuzman vira pra mim e fala: 'Sérgio, quero te abrir que o presidente da federação internacional de atletismo, Iaaf, Lamine Diack, ele é uma pessoa que se abre pra vantagens indevidas'”, disse Cabral a Bretas.
Cabral disse que cobrou de Nuzman garantia do sucesso da operação. “Eu falei: 'Nuzman, qual a garantia?' Ele disse 'a tradição é que ele vende seus 4, 5, 6 votos. Pode ser o risco de não passarmos pra segunda fase. O senhor foi testemunha que vamos obter esses votos, mas na primeira fase não', disse. 'Eu perguntei de onde vinham os votos', continuou Cabral, acrescentando que Nuzman disse que seriam de membros da África e também de membros do atletismo.
Nuzman foi denunciado pelo Ministério Público Federal em outubro de 2017 por suspeita de envolvimento no pagamento de 2 milhões de dólares em propina para assegurar a realização dos Jogos no Rio. Ele afirma ser inocente e seus advogados repetiram o argumento na quinta-feira.
Diack também foi denunciado pelo MPF. Ele disse à época ser inocente. Não foi possível fazer contato com Diack ou seus representantes na quinta-feira.
No mês passado, Diack também foi indiciado por um tribunal francês por acusações de que ele e seu filho Papa Massata tiveram envolvimento em uma série de práticas ilícitas ao longo de vários anos, incluindo recebimento de propina e lavagem de dinheiro, com o envolvimento ativo de atletas internacionais e de suas federações.
O ex-governador do RJ, que está preso há mais de dois anos e já foi condenado a quase 200 anos de prisão, disse que o ex-prefeito do Rio Eduardo Paes e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinham conhecimento da operação, mas não participaram do esquema. “O Eduardo Paes e o presidente Lula souberam depois do corrido”, disse.
A audiência de quinta-feira foi solicitada pela nova defesa de Cabral que adotou a estratégia de revelar crimes cometidos pelo ex-governador na tentativa de amenizar as penas aplicadas a ele e a sua mulher, a ex-primeira dama Adriana Ancelmo.
Escrito por Reuters
SALA DE BATE PAPO