Caixa Econômica acelera reforço de capital para crédito voltar a crescer em 2019
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Por Aluisio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - A Caixa Econômica Federal preencheu uma lacuna de capital sem ter precisado recorrer à venda de ativos e à ajuda do governo federal, mas negocia receber de volta parte dos dividendos de 2017 e emitir bônus no exterior como parte de seu plano para voltar a crescer em 2019, após dois anos de estagnação.
'Precisar de injeção de capital do Tesouro é um assunto que ficou no passado', disse a jornalistas o presidente-executivo da Caixa, Nelson Antônio da Silva.
O banco estatal afirmou mais cedo que seu índice de capital de nível 1, uma medida-chave de como um banco está protegido contra efeitos de uma eventual crise, atingiu 12,5 por cento em junho, 3,5 pontos percentuais superior a junho de 2017. O piso regulatório para esse indicador a partir de 2019 será de 9,5 por cento.
Esse avanço foi obtido sobretudo com uma forte campanha de redução de despesas, que incluiu dois programas de demissão voluntária, fechamento de agências e agressiva contração nos empréstimos não ligados ao setor imobiliário.
Assim, a carteira de 695,3 bilhões de reais em empréstimos do banco no fim do primeiro semestre era 3 por cento menor do que um ano antes. O crédito para empresas caiu em 25,7 por cento no período, enquanto o para consumo se contraiu em 13 por cento.
Em compensação, a despesa da Caixa com provisão para perdas com calotes diminuiu 34 por cento sobre um ano antes, para 3,34 bilhões de reais. Além disso, a despesa com pessoal caiu 2 por cento, enquanto a administrativa subiu só 1 por cento.
Ícone da campanha do governo iniciada em 2008, de tentar estimular a economia por meio da oferta de crédito barato, a Caixa acelerou fortemente suas concessões nos anos seguintes, na contramão dos bancos privados.
À medida que uma sucessão de fatores levou o país a uma forte recessão e deixou o governo sem condições de seguir injetando dezenas de bilhões de reais no capital do banco, a Caixa enfrentou um mix de erosão dos níveis de capital e maiores despesas com calotes, que pressionou fortemente o lucro.
Agências de classificação de risco chegaram a calcular que a Caixa precisaria de um aporte de cerca de 15 bilhões de reais para se enquadrar às regras mais rígidas de capital a partir de 2019.
Para evitar esse quadro, a Caixa planejava captar recursos com a venda de ativos, mas todas as tentativas falharam. O leilão do braço de loterias Lotex, em julho, não teve interessados. A venda de parte do ramo segurador, reunido na Caixa Seguros, por meio de uma listagem em bolsa, foi abortado no ano passado. E a venda de carteiras de crédito vencidas foi barrada pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
Um plano de receber cerca de 15 bilhões de reais em recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para fortalecer o capital também foi barrado pelo TCU.
Até uma captação com bônus no exterior, como fizeram outros bancos brasileiros neste ano, foi inviabilizada, uma vez que os balanços da Caixa nos últimos trimestres têm sido publicados com ressalvas da auditoria independente PricewaterhouseCoopers, em meio a dúvidas sobre a extensão de perdas com casos de irregularidades nos últimos anos.
'Estamos resolvendo isso e acho que nosso balanço já virá sem ressalva a partir do terceiro trimestre, o que nos abrirá caminho para fazer uma captação com bônus no exterior', disse o vice-presidente de finanças da Caixa, Arno Meyer.
Simultaneamente, a administração do banco negocia para receber de volta quase 800 milhões de reais dos cerca de 3 bilhões de reais pagos ao governo federal referentes ao lucro de 2017.
'Se pudermos ter esses recursos, isso nos ajuda', disse à Reuters o vice-presidente de riscos da Caixa, Paulo Henrique Ângelo, explicando que, uma vez devolvidos, os recursos na prática seriam usados para capitalizar o banco, o que elevaria o nível de capital principal em menos de 1 ponto percentual.
A Caixa teve lucro de 3,46 bilhões de reais no trimestre, salto de 33,9 por cento ante mesmo período de 2017. O resultado superou os 3,24 bilhões de reais do Banco do Brasil, também controlado pelo governo federal no período.
(Por Aluísio Alves)
Escrito por Thomson Reuters
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