Conflitos em Cartum não diminuem, após Exército do Sudão declarar trégua
Publicada em
Por Khalid Abdelaziz e Nafisa Eltahir
CARTUM (Reuters) - Pesados tiroteios foram ouvidos em Cartum nesta sexta-feira, após o Exército do Sudão declarar uma trégua, disse uma testemunha da Reuters, um golpe às tentativas internacionais de encerrar quase uma semana de conflitos entre suas tropas e uma força rival.
A origem dos tiros não ficou clara, disse a testemunha, acrescentando que ataques aéreos também eram ouvidos de tempos em tempos.
O Exército disse que concordou com uma trégua de três dias para permitir que as pessoas comemorassem o feriado muçulmano do Eid al-Fitr. Seu adversário, o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), disse mais cedo que havia acertado um cessar-fogo de 72 horas, também para marcar o Eid.
“As Forças Armadas esperam que os rebeldes cumpram todas as exigências da trégua e parem qualquer ação militar que a obstrua”, disse um comunicado do Exército.
O anúncio noturno do Exército aconteceu depois de outro dia de hostilidades em Cartum e o primeiro deslocamento a pé do Exército na cidade desde que os conflitos começaram no sábado.
Soldados e homens armados das Forças de Apoio trocaram tiros em bairros ao redor da cidade, inclusive durante a convocação para orações especiais do Eid no começo da manhã
O tiroteio continuou sem pausas todo o dia, pontuado pelo baque da artilharia e de ataques aéreos. Imagens de drones mostraram vários pilares de fumaça em Cartum e cidades nos arredores, que juntas formam uma das maiores áreas urbanas da África.
O conflito matou centenas de pessoas, principalmente na capital e no oeste do Sudão, levando o terceiro maior país do continente --onde cerca de um quarto da população já dependia de auxílio alimentício-- a um desastre humanitário.
ACABANDO ÁGUA E COMIDA
O conflito está dificultando que a população deixe suas casas e se junte às multidões que partem de Cartum.
A Organização Mundial de Saúde afirmou que pelo menos 413 pessoas foram mortas e milhares ficaram feridas, com hospitais sob ataque e até 20.000 pessoas fugindo para o vizinho Chade.
“Um número cada vez maior de pessoas está ficando sem comida, água e energia elétrica, inclusive em Cartum”, disse o gabinete humanitário da ONU.
A violência começou após um desentendimento em torno de um plano apoiado internacionalmente para formar um novo governo civil, quatro anos depois da queda do autocrata Omar al-Bashir por causa de protestos em massa, e dois anos após um golpe militar.
Os dois lados acusam o outro de impedir a transição.
(Reportagem de Khalid Abdelaziz em Cartum, Nafisa Eltahir, Mariam Rizk e Aidan Lewis no Cairo, Clauda Tanios em Dubai, Emma Farge em Genebra, Daphne Psaledakis em Washington)
Escrito por Reuters
SALA DE BATE PAPO