Credit Suisse quer captar bilhões em reorganização que prevê demissões e novo foco
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Por Noele Illien e Oliver Hirt e John O'Donnell
ZURIQUE (Reuters) - O Credit Suisse planeja levantar 4 bilhões de francos suíços (4 bilhões de dólares) com investidores, cortar milhares de empregos e mudar o foco do seu negócio de banco de investimento para clientes ricos, enquanto tenta deixar para trás anos de escândalos.
O banco suíço detalhou nesta quinta-feira o que o presidente do conselho de administração, Axel Lehmann, chamou de 'plano para o sucesso', após a instituição registrar um prejuízo inesperado de 4 bilhões de francos suíços no terceiro trimestre.
O anúncio do novo plano veio após semanas tensas para o banco e gerou reação negativa dos investidores. As ações do Credit, que atingiram mínimas históricas nas últimas semanas, caíram até 16% nesta quinta-feira antes de reduzir as perdas. Por volta de 10h (horário de Brasília), os papéis cediam 13%.
Analistas disseram que muitas questões permanecem em aberto.
'Você sai com a sensação de que eles foram apressados a divulgar (a novidade) nesta manhã com um plano profundamente incompleto', escreveram analistas do Goldman Sachs, acrescentando que as metas 'improvavelmente baixas' serão batidas.
'Execução resoluta e nenhum outro erro serão fundamentais, e levará tempo até que os resultados comecem a aparecer', disse Andreas Venditti, analista da Vontobel.
O Credit Suisse disse que os clientes retiraram recursos nas últimas semanas em um ritmo que fez o banco violar alguns requisitos regulatórios de liquidez, ressaltando o impacto nos negócios de oscilações de mercado e uma tempestade nas redes sociais.
O grupo, entretanto, acrescentou que sua situação é estável.
O plano de reestruturação tem muitos elementos, desde o corte de empregos até a reorientação do negócio.
O Credit Suisse cortará 2.700 empregos, ou 5% da força de trabalho, até o final deste ano e mais cerca de 9.000 até o final de 2025, ficando com cerca de 43.000 funcionários.
O banco suíço também disse que pretende separar seu banco de investimentos para criar o CS First Boston, unidade focada em trabalhos de consultoria, como fusões e aquisições e arranjos de transações no mercado de capitais.
O banco prevê a venda de uma participação no novo negócio, mas mantendo cerca de 50%, disse uma pessoa familiarizada com o assunto. O Credit ainda está explorando a possibilidade de uma oferta pública inicial de ações (IPO) da unidade, disse outra fonte familiarizada com o assunto.
INFLUÊNCIA SAUDITA
O Saudi National Bank (SNB), de propriedade majoritária do governo da Arábia Saudita, disse que investirá até 1,5 bilhão de francos no Credit Suisse para ter uma participação de até 9,9% e deverá investir no banco de investimento.
A medida reforça a influência saudita em um dos bancos mais conhecidos da Suíça. O Olayan Group, um dos maiores conglomerados familiares sauditas, com uma carteira de investimentos multibilionária, também possui uma participação de 5% no Credit Suisse.
A Autoridade de Investimentos do Catar - que detém cerca de 5% do banco suíço - não comentou se planeja comprar ações.
A consultoria Ethos Foundation disse estar desapontada por ter demorado tanto para o Credit Suisse seguir um caminho que o rival UBS já havia tomado, de aumentar o foco na gestão de patrimônio, enquanto reduz o banco de investimento.
A Ethos criticou o banco por deixar o SNB obter uma grande participação a um preço de barganha, acrescentando: 'Este plano é dramático para os atuais acionistas, que sofrerão um efeito de diluição muito significativo'.
O Credit Suisse disse que criará uma unidade para encerrar negócios não estratégicos e de alto risco, enquanto anunciou planos de venda de grande parte de seus negócios de produtos securitizados para um grupo de investidores liderado pela Apollo.
O banco também encerrará alguns negócios de trading em mercados emergentes e renda variável.
O forte prejuízo do Credit Suisse no terceiro trimestre deveu-se em grande parte a baixas relacionadas à reestruturação do banco de investimento, incluindo ajustes para créditos fiscais perdidos.
Analistas do JPMorgan disseram que 'permanecem pontos de interrogação' sobre a reestruturação do banco de investimento. Eles ainda afirmaram que a venda de ações também deve pressionar os papéis do banco na bolsa.
A reformulação, com o objetivo de superar a pior crise do banco em sua história, é a terceira tentativa nos últimos anos de sucessivos presidentes-executivos para recuperar o grupo.
(Reportagem adicional de Michael Shields, em Zurique, e Yousef Saba, em Dubai)
Escrito por Reuters
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