Crianças doentes deixam Faixa de Gaza para obter tratamento
Publicada em
Por Mohammad Salem
KHAN YOUNIS, Faixa de Gaza (Reuters) - O pequeno Fayez Abu Kwaik agarrou a sua mãe antes de deixar a Faixa de Gaza — sem ela — para tratar um câncer, em cena que mostrava seus braços segurando o pescoço dela e seu rosto pressionando-a enquanto lágrimas corriam pelas suas bochechas.
Fayez, de 5 anos, está em um grupo de crianças que receberam permissão para deixar o enclave por razões médicas. Seus pais afirmaram que Israel não aprovou o pedido para que eles também viajassem, então Fayez vai para o tratamento acompanhado pela avó, cujo requerimento foi aprovado.
Sair da Faixa de Gaza sempre foi difícil, com checagens intensas de segurança sendo realizadas tanto por autoridades israelenses quanto as egípcias.
Quando a guerra começou, em 7 de outubro, tal tarefa se tornou ainda mais difícil. Desde que forças israelenses tomaram o controle do principal posto fronteiriço rumo ao Egito, na cidade de Rafah, a viagem se tornou quase impossível.
Para pais com crianças doentes ou feridas, os problemas aumentaram pelos quase nove meses de intensos bombardeios de Israel contra a Faixa de Gaza, que forçaram que quase a totalidade dos habitantes abandonassem suas casas e deixaram em ruínas o sistema de saúde, tornando a situação realmente catastrófica.
O Cogat, setor do Ministério da Defesa de Israel responsável por manter relações com a Faixa de Gaza para assuntos civis, não respondeu imediatamente aos pedidos da Reuters para que comentasse o assunto.
“Os caroços de seu corpo se espalharam e não sabemos a razão para isso”, afirmou sua mãe, Kamela Abu Kwaik. “Estou com o coração partido. Ele já estava mal quando estava comigo, e não consegue obter tratamento. Como vou deixá-lo se ele só tem cinco anos de idade?”
A família não sabe onde Fayez receberá tratamento, mas acredita que a melhor chance para a sua saúde é o garoto se juntar ao comboio de dois ônibus e quatro ambulâncias que vão para o Egito, junto com outras 20 crianças e seus acompanhantes adultos.
Em uma ambulância, um garoto está deitado em uma maca. Suas pernas só existem acima dos joelhos. Um pai, em pé, segura suas duas filhas, uma delas com um curativo na cabeça por queimaduras sofridas durante um bombardeio de Israel, afirmou.
“Olhe para ele. Ele está explodindo de tanto chorar. O que eles fizeram para merecer isso? Ele tem cinco anos de idade”, afirmou a mãe de Fayez. “Ele me diz ‘eu te amo, não me deixe’. O que devo fazer? Não está sob o meu controle. Você acha que eu gostaria de deixá-lo ir?”
Mohammed Zaqout, diretor dos hospitais de Gaza que ajudaram a organizar o comboio, afirmou que há mais de 25 mil casos de doenças ou ferimentos no enclave que necessitam de tratamento que não pode mais ser oferecido no local. Entre esses casos, estão os de 250 crianças que precisam de tratamento urgente para problemas que trazem risco de morte, acrescentou.
Enquanto o ônibus partia, uma pequena criança podia ser vista na janela, chorando copiosamente.
(Reportagem de Mohammed Salem, reportagem adicional de Ari Rabinovitch)
Escrito por Reuters
SALA DE BATE PAPO