Sobe para 65 número de mortos por rompimento da barragem em Brumadinho, há 279 desaparecidos
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Por Gram Slattery
BRUMADINHO, Minas Gerais (Reuters) - Subiu para 65 o número de mortes confirmadas, nesta segunda-feira, após o rompimento de uma barragem em Brumadinho (MG) da Vale ter lançado uma enorme avalanche de lama de rejeitos sobre comunidades, a área administrativa da própria Vale e a cidade.
Em entrevista a jornalistas em Brumadinho, onde a barragem da usina da mina do Córrego do Feijão se rompeu na sexta-feira liberando uma onda de lama que devastou os arredores, o tenente-coronel Flávio Godinho, coordenador da Defesa Civil de Minas Gerais, disse que ainda existem 279 pessoas desaparecidas. Segundo ele, o número de pessoas resgatadas se manteve em 192 e foram identificados 31 corpos entre os óbitos.
Nesta manhã, o presidente em exercício, Hamilton Mourão, afirmou que o grupo de crise que trata do rompimento da barragem estudava a possibilidade de pedir a destituição da diretoria da Vale, mas que não sabia se isso seria possível e como seria feito.
Mais tarde, no entanto, Mourão disse que a destituição da diretoria da Vale precisa ser feita pelo Conselho de Administração da empresa e não está em estudo o governo pedir uma reunião para tratar do assunto, apesar de ser um dos acionistas e possuir a Golden Share na empresa. [nL1N1ZS1L8]
'Essa questão da diretoria tem que reunir o Conselho de Administração, porque é ele que nomeia, então nós não temos poder para isso. A mudança tem que ser por meio do Conselho, é a única forma. E o presidente (Jair Bolsonaro) é quem tem que decidir isso, e ele está fora', disse Mourão.
Bolsonaro passou por uma cirurgia nesta segunda-feira para a retirada da bolsa de colostomia. Ele deve reassumir a Presidência na manhã de quarta-feira. [nL1N1ZS17G]
As ações da Vale caíram mais de 20 por cento, equivalente a uma perda de mais de 73 bilhões de reais em valor de mercado.[nL1N1ZS1EP]
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, disse que a companhia deve ser fortemente responsabilizada inclusive criminalmente. Os executivos da Vale também devem ser pessoalmente responsabilizados, disse ela.
O desastre na mina do Córrego do Feijão ocorreu pouco mais de três anos depois que uma barragem desabou em uma mina em Mariana operada pela Samarco, uma joint venture entre a Vale e a BHP Billiton, matando 19 pessoas e atingindo o importante rio Doce, no maior desastre ambiental da história do país.
Apesar de o desastre da Samarco de 2015 ter despejado cerca de cinco vezes mais resíduos de mineração, o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho na sexta-feira deixou muito mais mortos por ter soterrado um refeitório lotado da Vale e uma área povoada.
'O refeitório estava em uma área de risco', disse Renato Simão de Oliveira, de 32 anos, enquanto procurava por seu irmão gêmeo, funcionário da Vale, em uma estação de atendimento de emergência.
'Só para economizar dinheiro, mesmo que isso significasse perder o cara... Esses empresários só pensam em si mesmos.'
À medida que os esforços de busca foram retomados nesta segunda-feira, bombeiros utilizaram placas de madeira para atravessar o mar de lama, que chega a centenas de metros de profundidade em algumas áreas, para retirar corpos que estariam dentro de um ônibus. Moradores encontraram o ônibus enquanto tentavam salvar uma vaca presa na lama.
Ademir Rogério, um morador de longa data da região, chorava enquanto vasculhava a lama do local onde um dia ficaram as instalações da Vale.
'O mundo acabou para nós', disse ele. 'A Vale é a maior mineradora do mundo. Se isso pode acontecer aqui, imagina se fosse uma mineradora menor.'
Nestor José de Mury disse que perdeu seu sobrinho e colegas de trabalho na lama.
'Nunca vi nada parecido, matou todo mundo', disse.
DEBATE SOBRE SEGURANÇA
O conselho da Vale, que no último ano elevou o pagamento de dividendos, suspendeu todos os pagamentos aos acionistas e os bônus aos executivos, após o desastre colocar sua estratégia corporativa sob escrutínio.
Desde o desastre, tribunais ordenaram o bloqueio de 11,8 bilhões de reais em bens da Vale para cobrir os danos. Autoridades federais e estatais multaram a mineradora em 349 milhões de reais.
O diretor-presidente da Vale, Fabio Schvartsman, disse no domingo que as instalações foram construídas de acordo com os padrões de segurança, e que equipamentos mostraram que a barragem estava estável duas semanas antes.
'Eu não sou técnico em mineração, eu segui a orientação dos técnicos e esse negócio deu no que deu, não funcionou', disse o executivo. 'Estão 100 por cento dentro de todas as normas, e não houve solução.'
Muitos se perguntam se o Estado de Minas Gerais, tão marcado pela atividade de mineração que talhou sua paisagem há séculos, deveria ter padrões de segurança mais elevados.
'Há formas seguras de mineração', disse o deputado João Vítor Xavier (PSDB), presidente da Comissão de Minas e Energia na Assembleia Estadual. 'É que diminui as margens de lucro, então eles preferem fazer as coisas da maneira mais barata -- e colocar vidas em risco.'
A reação ao desastre pode ameaçar os planos de Bolsonaro de relaxar restrições sobre o setor de mineração, incluindo propostas para abrir reservas indígenas e grandes áreas da Amazônia para a mineração.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse em entrevista nesta segunda-feira que o Brasil deve criar novas regulações para barragens de mineração, substituindo as barragens de rejeito por métodos de mineração a seco.
(Reportagem adicional de Tatiana Bautzer, Maria Carolina Marcello, Ricardo Brito e Lisandra Paraguassu)
Escrito por Thomson Reuters
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