Desmatamento da Amazônia cai pelo 3º mês seguido, mas mantém patamar elevado
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Por Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) - O desmatamento da Amazônia registrou queda na comparação anual pelo terceiro mês seguido, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgados nesta sexta-feira, que mostraram também, no entanto, que a devastação da floresta segue em patamares elevados na comparação com anos anteriores a 2019.
De acordo com números do sistema Deter, do Inpe, que aponta alertas de desmatamento e tempo real, a Amazônia perdeu 964 quilômetros quadrados de floresta em setembro, uma queda de 33,7% em comparação com os 1.454 quilômetros quadrados desmatados em setembro do ano passado, mas um número maior do que os registrados nos meses de setembro de 2015, 2016, 2017 e 2018.
De janeiro a setembro deste ano, o desmatamento da floresta tropical somou 7.063 quilômetros quadrados, uma queda de 10,25% ma comparação com os primeiros nove meses de 2019, mas patamar também bastante superior ao registrado entre 2015 e 2018, quando o maior acumulado em nove meses foi de 4.899 quilômetros quadrados registrados em 2016.
Ambientalistas culpam o governo do presidente Jair Bolsonaro, que reduziu os mecanismos de fiscalização ambiental e defende a mineração e a agricultura em áreas protegidas da Amazônia, por incentivar madeireiros ilegais, grileiros e garimpeiros a destruírem a floresta.
'A situação do desmatamento ainda é péssima, os números ainda são horríveis e continuam inaceitáveis. A marca só parece boa se ela for comparada ao recorde negativo do próprio governo', disse o secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, em áudio enviado à Reuters.
'Só para a gente ter uma ideia, se a gente pegar os números dos anos imediatamente anteriores ao governo Bolsonaro --2016, 2017 e 2018-- eles são bem menores do que os que foram divulgados agora em 2020', disse.
'Antes a gente media desmatamento na Amazônia na casa de centenas de quilômetros e com o Bolsonaro a gente inaugurou uma nova era em que a gente mede alertas de desmatamento na casa dos milhares de quilômetros quadrados. Dos 19 meses do governo, 15 foram de piores marcas em termos de alertas de desmatamento.'
Além do desmatamento, a Amazônia tem sofrido com queimadas, que também atingiram o Pantanal. Este cenário levou a um aumento da pressão internacional sobre o governo Bolsonaro por causa de sua política ambiental e levou o governo a enviar as Forças Armadas para conter crimes ambientais na Amazônia.
Bolsonaro diz que pretende tirar a região da pobreza e que a quantidade de floresta ainda preservada mostra que o Brasil é um modelo ambiental. Ele também aponta que há interesses e cobiça internacional sobre a Amazônia.
Na semana passada, durante debate entre candidatos à Presidência dos Estados Unidos, o postulante democrata Joe Biden propôs um esforço para fornecer 20 bilhões de dólares em financiamento para a preservação da floresta e ameaçou o Brasil com 'consequências econômicas significativas' se o país não parar o desmatamento.
Em resposta, Bolsonaro disse que a declaração do candidato democrata sobre a Amazônia foi 'desastrosa e gratuita' e que ele fez uma ameaça infundada.
Procurado, o Ministério do Meio Ambiente não se manifestou sobre os dados divulgado nesta sexta.
Apesar da queda nos dados mensais de desmatamento, o dado oficial sobre a perda florestal de 2020 deve registrar uma nova alta.
A medição anual do desmatamento da Amazônia é feita pelo sistema Prodes, também do Inpe, entre os meses de agosto de um ano a julho do ano seguinte. De acordo com os dados do Deter, que costumam ser menores que os do Prodes, entre agosto de 2019 e julho de 2020, o desmatamento foi de 9.216 quilômetros quadrados, alta de 34,6% na comparação com o período anterior.
O Instituto de Pesquisa da Amazônia (Ipam) estima que o dado anual sobre desmatamento para o período 2019/2020, que deve ser divulgado em novembro, ficará acima de 14 mil quilômetros quadrados.
(Com reportagem adicional de Jake Spring)
Escrito por Reuters
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