Diretório Nacional do PT decide apoiar convocação de presidente do BC ao Congresso
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Por Maria Carolina Marcello, Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - Em mais uma investida contra a taxa de juros, o Diretório Nacional do PT decidiu apoiar uma convocação do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao Congresso para prestar esclarecimentos sobre a política monetária, informou a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann.
Segundo Gleisi, o posicionamento do partido será formalizado em resolução do diretório, e pode ser convertido para um convite a Campos Neto, desde que ele se disponha a ir ao Parlamento.
'Tiramos o posicionamento do PT de chamar o presidente do Banco Central, convocar o presidente do Banco Central para fazer explicações ao Congresso Nacional', disse Gleisi, argumentando que se Campos Neto tem se disponibilizado a entrevistas, pode também falar com os parlamentares.
'É importante que ele vá também ao Congresso Nacional, que é a Casa representativa do povo brasileiro. Então essa foi a nossa posição hoje no Diretório Nacional.'
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva trouxe para o centro do debate a taxa Selic, atualmente em 13,75% ao ano, e questiona a razoabilidade do patamar em comparação a outros países.
Segundo Gleisi, no debate interno do PT 'todos' concordaram com a posição de Lula.
'Achamos exagerado os juros que tem. Achamos importante rediscutir a meta da inflação', afirmou a presidente do partido.
Mais tarde, em ato em comemoração de 43 anos da legenda, Gleisi defendeu que o debate econômico ocorra 'sem medo', seja sobre a política monetária, fiscal ou cambial.
'Está na hora de enfrentarmos esse discurso mercadocrata dos ricos desse país, que temos risco fiscal. Qual risco? De não pagar a dívida? Mentira. Nossa dívida é toda em reais, numa proporção razoável do PIB', argumentou a presidente do PT, em discurso no ato partidário.
'Eles mentem, e o Banco Central, uma autarquia do Estado brasileiro, corrobora com a mentira, impondo um arrocho de juros elevados ao Brasil. Isso tem que mudar. Temos um mercado antiquado, atrasado que não percebeu ainda as mudanças internacionais.'
O Diretório Nacional do PT reuniu-se nesta segunda-feira pela primeira vez desde a eleição de Lula para discutir a atual conjuntura, assuntos internos e informes.
SINAIS
Já tramita, na Câmara dos Deputados, um requerimento apresentado pelo aliado PSOL para que Campos Neto tenha que explicar pessoalmente a condução da política monetária. O líder do PT na Casa, deputado Zeca Dirceu (PT-PR), já havia se antecipado e anunciado no Twitter ter assinado o pedido.
'Assinei o requerimento convidando o presidente do Banco Central, como qualquer autoridade, para vir à Câmara explicar, dar satisfação. Para mim, ele vai ter de explicar o inexplicável', publicou o líder petista.
O requerimento precisa ser votado pelo plenário. Não há convocação, no sistema da Câmara, de sessões deliberativas para esta semana.
Na reunião do diretório desta segunda-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também criticou a taxa de juros, informou uma fonte, embora tenha admitido que não esperava qualquer mudança na política monetária na última reunião do Copom que decidiu não alterar a Selic. Haddad teria manifestado ainda a expectativa de que o BC sinalize uma redução das taxas até o fim do ano.
A autonomia do Banco Central também entrou no debate, mas ministros de Lula e lideranças aliadas têm, em diversas declarações, negado qualquer intenção de mexer nesse quesito.
O PSOL, no entanto, apresentou à Câmara um projeto que altera as regras de autonomia do Banco Central, que determinam, entre outros pontos, a não coincidência dos mandatos do presidente do BC e do presidente na República.
A lei da autonomia também prevê que o presidente do BC deve apresentar semestralmente, no Senado, relatórios de inflação e de estabilidade financeira explicando as decisões tomadas no período anterior.
(Reportagem de Maria Carolina Marcello, Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito)
Escrito por Reuters
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