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Enchentes em Porto Alegre ainda devem durar semanas, dizem especialistas

Placeholder - loading - Vista aérea de ruas alagadas durante enchente em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul 13/05/2024 REUTERS/Diego Vara
Vista aérea de ruas alagadas durante enchente em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul 13/05/2024 REUTERS/Diego Vara

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Por Lisandra Paraguassu

PORTO ALEGRE (Reuters) - As ruas de Porto Alegre ainda devem continuar a sofrer com enchentes por semanas, disseram especialistas, agravando as dificuldades em um Rio Grande do Sul onde mais de meio milhão de pessoas foram forçadas a abandonar suas casas inundadas por chuvas recordes no Estado.

As águas do lago Guaíba, que transbordou e inundou a capital gaúcha, subiram a 5,22 metros na terça-feira, bem acima do nível de enchente de 3 metros e perto do pico histórico de 5,33 metros alcançado na semana passada. O lago recebe as águas de diversos rios da região que foram sobrecarregados por temporais.

Especialistas e pesquisadores climáticos do Instituto de Pesquisas Hidráulica (IPH), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirmaram que as águas podem se estabilizar ou continuar a subir, dependendo da chuva. Mas eles concordam que o nível das águas levará cerca de um mês para baixar.

As enchentes devastaram dezenas de cidades do interior do Rio Grande do Sul e alagaram diversos pontos de Porto Alegre, onde a região central permanece debaixo de água. O número de mortos na tragédia subiu na terça-feira para 149, e 112 pessoas permanecem desaparecidas.

Uma previsão inicial do IPH dizia que as águas do Guaíba demorarão 35 dias para voltar aos níveis normais, com base na pior enchente anterior, em 1941, quando atingiram 4,76 metros. Rio acima, as águas podem recuar mais cedo nos cinco afluentes.

O Guaíba deve voltar lentamente a ficar abaixo dos níveis de enchentes dentro de semanas ou mesmo até meados de junho, afirmou o professor do IPH Rodrigo Paiva, mas ele acrescentou que isso dependerá de chover mais ou não.

Segundo Fernando Fan, hidrólogo e pesquisador do IPH, o Guaíba deve voltar a 4 metros entre 19 e 21 de maio. Ele acrescentou, no entanto, “que isso pode atrasar, se chover mais'.

'Em 1941 nós não tivemos o rebote que temos agora”, disse ele à Reuters.

Novas chuvas nos últimos dias levaram a um novo aumento do nível das águas do Guaíba, aumentando o medo de que o lago ultrapassará recordes anteriores e levando as autoridades a alertarem os moradores a não retornarem para suas casas em áreas inundadas.

Às margens da estrada RS-448, a comunidade de pescadores da praia do Paquetá observa de perto cada movimento das águas que tomou conta do local e acabou com o sustento das famílias.

“Estamos esperando baixar. A gente estava contente que estava baixando, agora começou a subir de novo... vai levar dois meses pelo menos”, disse Cristiano André Pastoriza, de 45 anos.

A comunidade vive da pesca no rio Jacuí, um dos principais afluentes do Guaíba. No dia 1º de maio, depois de dois dias de chuvas intensas, uma barreira se rompeu e a água chegou de uma vez só na região.

“Só deu para sair com a roupa do corpo e os documentos”, contou Cristiano.

No que parece ser agora um enorme rio, só se vê os telhados das casas. A estrada que levava à comunidade termina na água.

Moacir Oliveira Lopes, de 58 anos, disse que nunca viu o rio assim durante toda sua vida passada na localidade.

“Vai demorar muito para voltar, dois, três meses. E o peixe volta quando a água voltar para o leito. Tem que escoar essa água ruim toda, aí vem a nova e aí os peixes voltam”, disse 'Seu Cira', como é conhecido.

Os pescadores da comunidade também usaram seus barcos para resgatar moradores na cidade vizinha de Canoas, que ficou gravemente inundada.

“Quando falaram que invadiu Mathias (Velho, bairro de Canoas mais afetado pela enchente) saí por aqui por dentro correndo de barco. Quando cheguei lá me desesperei. Quando eu vi aquele povo em cima do telhado, criança pequena, eu chorei, me cortou o coração. A gente está pegando uns e outros pedindo socorro”, contou.

(Reportagem adicional de Ricardo Brito, em Brasília)

Escrito por Reuters

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