Marinha contesta estudo de universidade sobre mancha de petróleo no Nordeste
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Por Pedro Fonseca e Ricardo Brito
RIO DE JANEIRO/BRASÍLIA (Reuters) - A Marinha contestou nesta quarta-feira um estudo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) que sugeriu que manchas de petróleo que atingem o litoral do Nordeste brasileiro desde setembro podem ter origem em um grande vazamento abaixo da superfície do mar.
O pesquisador Humberto Barbosa, do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), vinculado à Ufal, apontou mais cedo a identificação de um 'enorme vazamento de óleo, em formato de meia lua, com 55 quilômetros de extensão e 6 quilômetros de largura, a uma distância de 54 quilômetros da costa do Nordeste'.
De acordo com a assessoria de imprensa da Marinha, não há tal registro de mancha de óleo na região ao sul da Bahia, diferentemente do que apontou a Ufal em um comunicado em seu site.
Para a Marinha, a imagem de satélite pode ter mostrado uma nuvem espessa.
A possibilidade de as manchas no Nordeste terem origem em vazamento no fundo do oceano já havia sido contestada nesta quarta-feira pelo comandante da Marinha, Ilques Barbosa Junior, que apontou como causa mais provável do derrame alguma embarcação que navegava pela costa do país.
Em entrevista à Globonews, o almirante disse que não há indicação de vazamento no fundo do oceano, até porque o governo tem a confirmação de que o petróleo não é brasileiro, e sim venezuelano.[nE6N26402M]
Segundo o Lapis, foi identificado um padrão característico de manchas de óleo no oceano que pode explicar a origem da poluição que atingiu o litoral do Nordeste, com base em imagens do satélite Sentinel-1A, da Agência Espacial Europeia (ESA). O laboratório disponibilizou reproduções das imagens em sua página na internet.
Ao ser confrontado com as declarações do comandante da Marinha, Barbosa disse não poder 'dizer com 100% de certeza (que o petróleo veio do fundo do mar) não, mas não posso descartar isso também não'.
'A gente não é conclusivo, não pegou uma imagem aleatória, há um processo de análise de imagens que o próprio laboratório fez', comentou.
Mas ele questionou: 'Por que as imagens do Sentinel não têm sido usadas antes, em vez de dizer que o fenômeno que ocorreu não é associado ao vazamento?'
As manchas de óleo foram identificadas inicialmente no início de setembro, e já atingiram praias ao longo de mais de 2.000 quilômetros desde então.
De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e a Petrobras , o óleo encontrado nas praias brasileiras é venezuelano, e o governo investiga se navios que passaram pelo litoral brasileiro seriam responsáveis pelo incidente.
ABROLHOS
Separadamente, a Marinha informou ainda nesta quarta-feira que o Grupo de Avaliação e Acompanhamento, formado pela reguladora do setor de petróleo ANP e o Ibama, está monitorando o deslocamento das substâncias oleosas que têm atingido as praias do Nordeste, especialmente na região do entorno do Arquipélago de Abrolhos, importante área de preservação ambiental.
A intenção é ampliar a cobertura para a visualização de manchas na água e o seu recolhimento, caso detectadas, disse a Marinha, acrescentando que navios foram deslocados para área, ao sul da Bahia.
ORIGEM
O sul da Bahia como possível origem de um eventual vazamento, conforme o estudo da Ufal, foi questionado por um especialista ouvido pela Reuters, que não descartou contudo a possibilidade de o petróleo vir do fundo do mar.
O professor da Faculdade de Oceanografia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), engenheiro ambiental e oceanógrafo, David Zee, disse achar improvável que o petróleo que atinge as praias do Nordeste tenha origem no sul da Bahia, uma vez que as correntes marítimas no local apontado seguem na direção sul e o petróleo pesado que tem alcançado as areias do Nordeste foi até o Maranhão.
'Essa possibilidade que esse ponto tenha sido a origem do problema é muito remota, para não dizer impossível... o petróleo foi até o Maranhão, teria que ter feito a curva no Brasil', disse Zee.
Já o pesquisador da Ufal argumentou que desde a segunda quinzena de abril até agosto os ventos oceânicos na região, alísios, seguem do Sudeste em direção ao Nordeste e 'também fazem uma espécie de dobra, contornando o litoral do país', o que explicaria a possibilidade de um eventual vazamento subir para o norte.
Mas Zee, da Uerj, tal como Barbosa, da Ufal, não descarta que a mancha observada pela universidade alagoana tenha origem em um vazamento por meio de exsudação natural ou de uma plataforma que esteja produzindo na região.
'A grande questão é que agora todos estão olhando para o mar e descobrindo mazelas', afirmou.
Zee ressaltou que a mancha apontada nas imagens da Ufal não parece ter vindo de um navio em movimento, linha de investigação seguida pela Marinha.
Escrito por Reuters
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