Europa divide-se sobre ataques dos EUA e do Reino Unido contra Houthis no Iêmen
Publicada em
Por Angelo Amante e John Irish e Inti Landauro
ROMA/PARIS/MADRI (Reuters) - Itália, Espanha e França chamaram a atenção nesta sexta-feira por não participarem dos ataques dos EUA e do Reino Unido contra o grupo Houthi no Iêmen e nem mesmo assinarem uma declaração divulgada por 10 países justificando o ataque.
A divergência destacou divisões no Ocidente sobre como lidar com os Houthis, apoiados pelo Irã, que há semanas têm como alvo navios civis no Mar Vermelho, no que dizem ser um protesto contra a campanha militar de Israel na Faixa de Gaza.
Aviões de guerra, navios e submarinos dos EUA e do Reino Unido lançaram dezenas de ataques aéreos em todo o Iêmen durante a noite, em retaliação aos repetidos ataques Houthi numa das rotas comerciais mais movimentadas do mundo.
A Holanda, a Austrália, o Canadá e o Bahrein forneceram apoio logístico e de inteligência para a operação, disseram autoridades dos EUA.
Além disso, a Alemanha, a Dinamarca, a Nova Zelândia e a Coreia do Sul assinaram uma declaração conjunta com essas seis nações defendendo os ataques noturnos e alertando para novas ações para proteger o livre fluxo do comércio do Mar Vermelho caso os Houthis não recuem.
Uma fonte do gabinete da primeira-ministro Giorgia Meloni disse que a Itália se recusou a assinar a declaração e, como resultado, não foi convidada a participar no ataque contra os Houthis.
No entanto, uma fonte governamental disse que a Itália foi convidada a participar, mas recusou por duas razões: primeiro porque qualquer envolvimento italiano precisaria de aprovação parlamentar, o que teria levado tempo, e segundo porque Roma preferiu seguir uma política 'calmante' no Mar Vermelho.
Sob condição de anonimato, uma autoridade francesa disse que Paris temia perder, ao aderir aos ataques liderados pelos EUA, qualquer influência nas negociações para acalmar as tensões entre o Hezbollah e Israel. A França concentrou grande parte da sua diplomacia nas últimas semanas em evitar uma escalada no Líbano.
Sinalizando um possível apoio tácito à ação dos EUA, o Ministério dos Negócios Estrangeiros francês emitiu uma declaração dizendo que os Houthis eram responsáveis pela escalada.
Mas um diplomata que conhece a posição da França disse que Paris não acredita que o ataque possa ser considerado legítima defesa.
A ministra da Defesa espanhola, Margarita Robles, disse que Madrid não aderiu à ação militar no Mar Vermelho porque queria promover a paz na região.
'Cada país tem de dar explicações pelas suas ações. A Espanha estará sempre comprometida com a paz e o diálogo', disse ela a jornalistas em Madrid.
As opiniões divergentes no Ocidente sobre como enfrentar a ameaça Houthi surgiram no mês passado, quando os Estados Unidos e vários dos seus aliados lançaram a Operação Prosperity Guardian para proteger os navios civis nas movimentadas rotas marítimas do Mar Vermelho.
Itália, Espanha e França não aderiram à missão, evitando colocar os seus navios de guerra sob o comando dos EUA.
Todos os três já participam de operação antipirataria da UE ao largo do Chifre da África, e a ministra da Defesa espanhola disse nesta sexta-feira que a União Europeia poderá em breve decidir sobre nova iniciativa.
'A UE poderia decidir... dentro de alguns dias se deve haver uma missão (naval). Ainda não sabemos o alcance caso essa missão seja aprovada, mas enquanto isso a posição da Espanha, por um sentido de responsabilidade e de compromisso com a paz, é de não intervir no Mar Vermelho', disse.
Escrito por Reuters
SALA DE BATE PAPO