Facções sudanesas em guerra lutam após fracasso em acordo de trégua
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CARTUM (Reuters) - Ataques aéreos e de artilharia atingiram Cartum nesta sexta-feira, depois que o Exército do Sudão e o grupo paramilitar das Forças de Apoio Rápido não chegaram a um acordo de cessar-fogo, apesar de se comprometerem a proteger os civis e permitir o acesso humanitário.
Uma chamada declaração de princípios foi assinada na Arábia Saudita na noite de quinta-feira, após quase uma semana de negociações entre os dois lados em guerra, mas nenhum deles divulgou declarações reconhecendo o acordo.
Desde o confronto repentino em 15 de abril, as facções militares rivais não mostraram nenhum sinal de que estão prontas para oferecer concessões para acabar com os combates que já mataram centenas e ameaçam lançar o Sudão em uma guerra civil total.
'Esperávamos que o acordo acalmasse a guerra, mas acordamos com fogo de artilharia e ataques aéreos', disse Mohamed Abdallah, de 39 anos, que mora no sul de Cartum. O mesmo foi ouvido na vizinha Bahri.
O acordo de quinta-feira, produto das negociações mediadas pela Arábia Saudita e pelos Estados Unidos em Jeddah, inclui compromissos para permitir passagem segura para civis, médicos e ajuda humanitária, e minimizar danos a civis e instalações públicas.
Autoridades dos EUA disseram na quinta-feira que a assinatura seria seguida de negociações sobre os detalhes para garantir o acesso humanitário e um cessar-fogo de até 10 dias para facilitar essas atividades.
Os mediadores pressionaram os lados a assinar a declaração de princípios sobre proteção civil, a fim de reduzir as tensões diante do desacordo contínuo sobre um cessar-fogo mais amplo, disse um dos envolvidos na mediação.
'Os dois lados estão muito distantes', declarou um alto funcionário do Departamento de Estado dos EUA na quinta-feira, acrescentando que não esperavam o cumprimento total dos princípios.
O ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita, Faisal bin Farhan, descreveu o acordo como um primeiro passo. 'O mais importante é cumprir o que foi acordado', disse ele no Twitter.
Acordos anteriores de cessar-fogo foram repetidamente violados, deixando os civis em uma paisagem aterrorizante de caos e bombardeio, com falta de energia e água, pouca comida e um sistema de saúde em colapso.
O acordo comprometeu os dois lados a esvaziar propriedades públicas e privadas, incluindo residências particulares, depois que os moradores acusaram principalmente a RSF de ocupação. A RSF negou essas alegações, culpando elementos dos militares e outros grupos armados.
Os países ocidentais condenaram os abusos de ambos os lados em uma reunião de direitos humanos em Genebra na quinta-feira.
'Essas são coisas que eles já deveriam estar fazendo. Eles não deveriam receber crédito por isso', afirmou Cameron Hudson, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, dizendo duvidar que a RSF tenha controle suficiente das tropas para fazer cumprir o acordo de quinta-feira.
(Reportagem de Khalid Abdelaziz em Dubai e Nafisa Eltahir no Cairo)
Escrito por Reuters
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