Gangues exigem um lugar à mesa enquanto nova liderança assume o poder no Haiti
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PORTO PRÍNCIPE (Reuters) - O novo conselho de transição do Haiti deve escolher o próximo presidente do país nesta terça-feira, mas líderes de gangues -- que têm exercido um controle cada vez maior -- pedem influência política e anistia, ameaçando com violência caso suas demandas não sejam cumpridas.
Na semana passada, após o ex-primeiro-ministro Ariel Henry renunciar, o conselho foi formalmente instalado, o que foi visto como um passo fundamental para restabelecer a segurança após anos de violência de gangues.
O conselho é formado por sete membros com direito a voto e dois observadores sem voto, incluindo políticos, um empresário e um pastor. O órgão regional Comunidade do Caribe (Caricom), que liderou a elaboração da composição do conselho, proibiu a entrada de membros de gangues ou de pessoas alvo de sanções internacionais.
Ainda assim, alguns dos líderes de gangues mais poderosos do Haiti ameaçam intensificar a violência se não lhes for permitido ter influência política.
Em uma entrevista à CNN divulgada nesta segunda-feira, Vitel'homme Innocent, que lidera a gangue Kraze Barye e é acusado de orquestrar o sequestro de missionários norte-americanos em 2021, pediu que o conselho ouça as gangues e encontre uma resolução para a crise 'o mais rápido possível'.
A Kraze Barye faz parte de uma coalizão informal de gangues chamada de Viv Ansanm, ou 'Viver Juntos', que agora controla a maior parte da capital Porto Príncipe.
A coalizão exige que o futuro governo conceda anistia pelos seus crimes e crie um plano para jovens membros das gangues que possam ter sido forçados a se juntar a elas, seja sob ameaça ou pela falta de alternativas econômicas, disse Innocent à CNN.
O líder da Viv Ansanm, um ex-policial chamado Jimmy Cherizier que é conhecido como 'Barbeque' ('Churrasco') alertou, em uma mensagem compartilhada nas redes sociais durante o fim de semana, para as consequências caso as gangues sejam ignoradas.
'A Viv Ansanm está pronta para conversar. Ou estamos todos na mesa ou a mesa será destruída com todos nós', disse.
Segundo estimativas da ONU, mais de uma pessoa foi morta por hora pela violência de gangues do Haiti nos três primeiros meses deste ano. Também há relatos generalizados de violência sexual em massa, sequestros por resgate e tortura para extorquir a população.
As gangues expressaram frustração com a elite governante do Haiti e cobraram a renúncia de Henry, que era primeiro-ministro desde 2021.
Henry ficou preso fora do país após sair em busca de apoio internacional para uma missão de segurança endossada pela ONU com o objetivo de recuperar o controle. Ele havia anunciado em março que renunciaria quando o conselho fosse instalado.
(Reportagem de Harold Isaac, em Porto Príncipe, e Kylie Madry, na Cidade do México)
Escrito por Reuters
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