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Governo brasileiro diz acompanhar com preocupação processo eleitoral na Venezuela

Placeholder - loading - Corina Yoris dá entrevista à Reuters, em Caracas 25/03/2024 REUTERS/Efrain Otero
Corina Yoris dá entrevista à Reuters, em Caracas 25/03/2024 REUTERS/Efrain Otero

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Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) -O governo brasileiro elevou o tom e manifestou preocupação com o processo eleitoral na Venezuela, criticando o impedimento de registro da candidata de oposição Corina Yoris, em nota divulgada pelo Itamaraty nesta terça-feira.

“O governo brasileiro acompanha com expectativa e preocupação o desenrolar do processo eleitoral naquele país', diz a nota do Ministério das Relações Exteriores.

'Com base nas informações disponíveis, observa que a candidata indicada pela Plataforma Unitária, força política de oposição, e sobre a qual não pairavam decisões judiciais, foi impedida de registrar-se, o que não é compatível com os acordos de Barbados”, acrescenta a nota da chancelaria brasileira.

O Itamaraty aponta, ainda, que não houve até o momento qualquer explicação oficial para o impedindo de registro de Yoris.

A nota marca uma mudança de rota do governo brasileiro, que até agora vinha mantendo a confiança de que Maduro iria respeitar o Acordo de Barbados. A negativa de registro de Yoris foi a gota d'água.

A avaliação do governo é que o impedimento a Yoris, que iria substituir María Corina Machado como candidata da Plataforma Unitária, quebra o acordo do qual o Brasil foi avalista e passou dos limites.

A decisão de dar uma resposta firme foi tomada em uma reunião na tarde de segunda-feira entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro das Relações Internacionais, Mauro Vieira, e o assessor internacional da Presidência, Celso Amorim.

'Tem todo um contexto de deterioração do quadro, que passa pelo fechamento do escritório de direitos humanos das Nações Unidas, a questão do Essequibo... a inabilitação cruzou uma linha perigosa', disse uma fonte com conhecimento do assunto ouvida pela Reuters.

O Brasil é um dos fiadores do acordo de Barbados, negociado entre o governo de Nicolás Maduro e a oposição, e até agora mantinha um otimismo no cumprimento das cláusulas por Maduro, inclusive com o presidente defendendo o processo eleitoral no país vizinho.

A nota do Itamaraty, que teve o aval de Lula, foi mal recebida pelo governo venezuelano, que acusou a chancelaria brasileira de estar fazendo ingerências na política venezuelana e de ter copiado a postura norte-americana.

'O governo venezuelano tem mantido uma conduta fiel aos princípios que regem a diplomacia e as relações amistosas com o Brasil, em nenhuma hipótese emite e nem emitirá juízos de valor sobre os processos políticos e judiciais que ocorrem naquele país, consequentemente, tem o moral de exigir o mais estrito respeito pelo princípio da não ingerência nos assuntos internos e na nossa democracia, uma das mais robustas da região', disse a nota da chancelaria venezuela.

O texto acusa 'funcionários do Itamaraty' pelo texto, eximindo Lula de responsabilidade. O governo venezuelano, inclusive, agradece Lula pelas 'expressões de solidariedade', condenando as sanções contra a Venezuela.

Falas de Lula em defesa do processo democrático na Venezuela, inclusive com críticas à oposição, afetaram inclusive a sua popularidade, de acordo com as pesquisas mais recentes, e aliados já vinham defendendo que o presidente deixasse de lado a defesa do governo vizinho.

OUTROS CANDIDATOS

Segundo as fontes ouvidas pela Reuters, o Brasil não deixará de lado a defesa do Acordo de Barbados porque é um dos signatários, junto com Estados Unidos, Noruega, e Colômbia, e a visão é de que a normalização política na Venezuela é importante para a região como um todo, mas o incômodo do presidente com a postura de Maduro é real, e Lula deve se expor menos.

'Não há mais como relativizar o que acontece na Venezuela sem pagar um preço por isso', disse uma segunda fonte.

Yoris foi indicada para substituir María Corina Machado, que foi proibida de ocupar cargos públicos. Machado havia vencido a eleição interna para representar a oposição no pleito, mas teve sua candidatura vetada pela Suprema Corte venezuelana, que é ligada ao chavismo.

A substituta não tem pendência que justificassem o veto mas, de acordo com representantes da oposição, eles foram impedidos de acessar o sistema para fazer o registro da candidatura. O prazo acabou às 23h59 de segunda-feira.

A deterioração do clima político, com a prisão de pessoas ligadas a Machado na semana passada, levaram os EUA a dizer que não irão renovar a suspensão das sanções econômicas, que expira em abril, acertada no Acordo de Barbados.

A nota do Itamaraty, apesar de criticar o veto a Yoris, destacou que outros 11 candidatos de oposição puderam se inscrever no pleito. O Conselho Nacional Eleitoral destacou que um 'importante grupo de oposição' registrou um candidato. De acordo com fontes ouvidas pela Reuters, seria Edmundo González, um ex-embaixador, que foi registrado pelo grupo Unidade Democrática, com a intenção de manter a vaga para um eventual substituto.

Dos demais candidatos, de acordo com pesquisas de opinião, nenhum deles têm capital político significativo.

O Itamaraty também criticou a possível volta de sanções contra o país.

'O Brasil reitera seu repúdio a quaisquer tipos de sanção que, além de ilegais, apenas contribuem para isolar a Venezuela aumentar o sofrimento do seu povo”, diz o texto.

(Edição de Alexandre Caverni e Pedro Fonseca)

Escrito por Reuters

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