Intérpretes de Libras Dominam os Palcos e Transformam os Festivais

Se você ainda não percebeu, o Brasil está avançando significativamente em termos de inclusão de pessoas surdas! Embora o caminho a percorrer ainda seja longo, no último domingo (22), o país ganhou destaque internacional com o megafestival Rock in Rio.

Dezenas de milhares de brasileiros se reuniram no Parque Olímpico para assistir a grandes nomes da música, como Mariah Carey, Katy Perry, Ed Sheeran e Shawn Mendes. E, além das estrelas nos palcos, um novo protagonista surgiu nos cantos inferiores dos telões: os intérpretes de Libras.

Durante a apresentação de Perry, por exemplo, uma intérprete — com um cinto de corrente chamativo e uma pedra preciosa adornando a testa — acompanhava cada batida, estalando os dedos e movendo os braços com a energia da música. "Sinto como se estivesse no palco com ela, diante de todo mundo", comentou a intérprete Laísa Martins à Associated Press após o show.

Pela primeira vez na história de seus 40 anos, o Rock in Rio trouxe intérpretes de Libras para todas as suas apresentações, marcando um passo significativo para a acessibilidade em festivais de música. O evento, um dos maiores da América Latina, atrai cerca de 100 mil pessoas por dia durante sete dias de programação. Nos bastidores, em um contêiner equipado, os intérpretes trabalham diante de uma tela verde, com suas imagens sendo transmitidas para os telões. Assim, pessoas surdas na plateia podem acompanhar as músicas em tempo real.

Além disso, o festival reservou um espaço VIP para surdos e seus acompanhantes, próximo aos alto-falantes, permitindo que sintam as vibrações da música através do corpo.

A presença de intérpretes em eventos no Brasil é resultado de uma série de avanços, como a Lei Brasileira de Inclusão, de 2015, que garantiu o direito de pessoas com deficiência de acessar plenamente eventos culturais. Com isso, os organizadores são obrigados a disponibilizar recursos que assegurem a acessibilidade.

Alguns intérpretes de Libras, com seus estilos únicos e performances vibrantes, vêm ganhando destaque nas redes sociais, atraindo milhares de seguidores. A crescente demanda por esses profissionais é tamanha que muitos iniciam a carreira antes mesmo de concluírem a formação, segundo Lenildo Souza, presidente da Federação Nacional de Intérpretes de Libras.

O Brasil tem 2,3 milhões de pessoas surdas ou com deficiência auditiva, de acordo com o IBGE. No entanto, menos de dois terços dos surdos completos dominam a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Isso se deve, em parte, a fatores como o uso de implantes cocleares, a leitura labial ou a perda auditiva em estágios mais avançados da vida.

Além de traduzir as letras, os intérpretes se dedicam a transmitir toda a energia das músicas. Eles estudam as performances com antecedência, dançam no ritmo e usam expressões faciais para passar emoções como alegria, raiva, mistério ou sensualidade. Esse trabalho não apenas envolve a comunidade surda, mas também cativa os ouvintes.

Segundo Thiago Amaral, coordenador de pluralidade do Rock in Rio, o festival já se destaca como um dos mais acessíveis do mundo para pessoas surdas. Entretanto, a equipe busca inovar constantemente, e já se fala na possibilidade de incluir plataformas vibratórias ou equipamentos semelhantes aos coletes vibratórios testados em edições anteriores.

Este ano, pela primeira vez, também foram oferecidos fones de audiodescrição para pessoas com deficiência visual. Assim, a demonstração internacional de acessibilidade do festival abriu um espaço para reflexão sobre a inclusão, inspirando outros festivais ao redor do mundo.

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