Kosovo diz que Sérvia deveria entregar homens armados após tiroteio que deixou 4 mortos

Por Fatos Bytyci

MITROVICA, Kosovo (Reuters) - O Kosovo apelou nesta segunda-feira à Sérvia para que entregue homens armados de etnia sérvia que disse terem escapado após um tiroteio com a polícia kosovar que matou quatro pessoas no agitado norte do país, agravando as tensões entre Pristina e Belgrado.

Os homens armados invadiram o vilarejo de Banjska no domingo, combatendo a polícia e barricando-se num mosteiro ortodoxo sérvio. A polícia retomou o mosteiro na noite de domingo, depois que três agressores e um policial foram mortos.

Os Estados Unidos condenaram os ataques à polícia e instaram os governos do Kosovo, uma ex-província sérvia com uma maioria étnica albanesa de 90%, e da Sérvia a neutralizarem décadas de antagonismo.

A polícia armada revistou nesta segunda-feira casas em Banjska em busca de qualquer um dos cerca de 30 homens armados que poderiam não ter fugido, disse uma fonte policial à Reuters. O vilarejo permaneceu isolado aos jornalistas.

Autoridades do Kosovo disseram no final do dia que se acredita que alguns dos homens armados tenham escapado para a vizinha Sérvia.

O ministro do Interior do Kosovo, Xhelal Svecla, disse que seis membros feridos do grupo armado foram hospitalizados na cidade de Novi Pazar, no sul da Sérvia, perto da fronteira norte do Kosovo.

“Exigimos à Sérvia que entregue estes homens às autoridades do Kosovo o mais rapidamente possível, para enfrentarem a justiça pelos seus atos terroristas”, além de quaisquer outros que tenham fugido para a Sérvia, disse Svecla aos jornalistas.

Autoridades do governo sérvio não responderam imediatamente aos pedidos de comentários da Reuters.

Na cidade de Mitrovica, no norte do país, a polícia de Kosovo mostrou aos repórteres cerca de 20 SUVs e um caminhão blindado que eles disseram ter sido usados pelos homens armados. Três dos veículos foram pintados com o logotipo KFOR – a missão de manutenção da paz da Otan no Kosovo.

A polícia também exibiu uma série de armas e munições que afirma terem sido apreendidas, incluindo fuzis de assalto do antigo Exército iugoslavo, metralhadoras, rifles de precisão, morteiros, lançadores de foguetes antitanque, granadas de mão, minas terrestres e drones.

Embora os albaneses étnicos constituam a grande maioria dos 1,8 milhões de habitantes do Kosovo, 50 mil sérvios no norte rejeitam o Estado do Kosovo e veem Belgrado como a sua capital, 15 anos depois de o Kosovo ter declarado a independência na sequência de uma revolta de guerrilha. A Sérvia não reconhece a independência do Kosovo.

'Desde ontem, nada mais pode ser o mesmo', disse o primeiro-ministro do Kosovo, Albin Kurti, numa cerimônia realizada na segunda-feira em homenagem ao agente da polícia que foi morto no incidente.

O presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, negou as alegações de que Belgrado orquestrou o ataque. Ele culpa Kurti por incitar a violência ao se recusar a formar uma associação de municípios sérvios para dar mais autonomia e ao lançar frequentes ações policiais no norte.

Josep Borrell, chefe de política externa da União Europeia, que patrocina o diálogo desde 2013, buscando normalizar os laços entre a Sérvia e Kosovo, conversou com Kurti e Vucic no domingo.

As tensões estão em alta desde os confrontos no norte de Kosovo em maio, quando mais de 90 soldados de manutenção da paz da Otan e cerca de 50 manifestantes sérvios ficaram feridos no norte de Kosovo.